‘Colocar a vida em jogo’: em Roma, evento trata da relação entre esporte e espiritualidade

Participantes refletem sobre esporte e espiritualidade; em mensagem, Papa destaca os bons valores associados à prática esportiva
Athletica Vaticana

No ano em que se realizará mais uma edição do maior evento poliesportivo do planeta, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, o Dicastério para a Cultura e a Educação e a Embaixada da França na Santa Sé promoveram, entre os dias 16 e 18, em Roma, uma conferência internacional sobre esporte e espiritualidade, com o tema “Colocar a vida em jogo”.

O evento teve como propósito “ver o esporte para além do esporte”, a fim de entender sua popularidade global, mapear seus riscos, avaliar a sua relevância para a construção de uma sociedade mais fraterna, tolerante e equitativa e discernir como a espiritualidade também se manifesta no ambiente esportivo.

Na abertura dos trabalhos, o Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, recordou que o lema olímpico “citius, altius, fortius” [mais rápido, mais alto, mais forte], introduzido há cem anos, nos Jogos de Paris 1924, foi concebido pelo Frade dominicano Henri Didon e proposto mais tarde a Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos modernos.

O Cardeal Tolentino destacou que a Igreja não quer controlar o esporte ou criar um “esporte alternativo”, mas que reconhece na prática esportiva bons valores humanos e que tem muito a contribuir com o mundo do esporte. “Jesus é o verdadeiro atleta de Deus, que em sua mensagem e gestos inspira a vida e a disciplina de todos os atletas. O Papa Francisco chega a comparar desporto e santidade quando diz: Para mim, treinar é perguntar a Deus todos os dias: ‘O que queres que eu faça, o que queres da minha vida?’”, recordou o Prefeito do Dicastério.

ESTAR PASTORALMENTE NO MUNDO DO ESPORTE

No primeiro dia do evento, foi lida a mensagem do Papa Francisco, na qual ele lembrou aos participantes que “o apóstolo Paulo comparou mais de uma vez a vida espiritual a uma competição esportiva, em particular à corrida (cf. 1Cor 9,24; 2Tm 4,7-8), cujo prêmio é o próprio Cristo”. Também destacou que “a disciplina e o autocontrole dos atletas, bem como seu espírito de competição saudável” é uma imagem a ser aplicada “a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se esforçam na vida cotidiana por agradar a Deus e por ser seus amigos”.

Ao recordar a importância que cada vez mais o esporte adquire na sociedade – para a socialização, construção de comunidades, canalização de energias e promoção de elevados ideais e aspirações –, o Papa destacou que a Igreja tem percebido a necessidade de estar pastoralmente no ambiente esportivo e que deseja promover “uma educação nos valores genuínos da competição, purificada de egoísmos e de interesses meramente materiais”; e que igualmente ela deve refletir “sobre o valor do esporte em relação à sua própria missão de anunciar o Evangelho e de encorajar todos os envolvidos no mundo do esporte a propor Jesus como ‘o verdadeiro atleta de Deus’”, comentou, aludindo a uma fala de São João Paulo II no Jubileu dos Esportistas em outubro de 2000.

Por fim, Francisco pediu que haja um esforço em todos os níveis para que nunca se perca “o autêntico espírito ‘amador’ do esporte”; e lembrou ainda sobre a responsabilidade dos adultos: “O seu exemplo consciente de fidelidade aos verdadeiros valores humanos é decisivo para promover ambientes esportivos saudáveis e formativos, evitando abordagens equivocadas da competição e todas as formas de abuso, especialmente aquelas que prejudicam os menores e os mais vulneráveis”.

UMA VIA PARA A PAZ

Após o primeiro dia do evento focar a relação entre a Igreja e o esporte, no segundo dia as reflexões versaram sobre a conexão “Homem e Esporte”, nas perspectivas pedagógica, filosófica, sociológica e teológica. No terceiro dia, aconteceu a corrida de revezamento da fraternidade, no Circus Máximo, encerrando o evento.

Na coletiva de imprensa de apresentação da atividade, no dia 6, Florence Mangin, embaixadora da França na Santa Sé, comentou que no atual contexto de guerras, o Olimpismo – definido pela Carta Olímpica como uma filosofia de vida, que envolve as qualidades do corpo, da vontade e da mente, e que, ao misturar esporte, cultura e educação, visa a criar um estilo de vida, também baseado no “respeito aos princípios éticos fundamentais universais” – é, antes de tudo, “uma mensagem de paz e o compromisso da Igreja universal, assim como o da França, é essencial”. Na abertura da conferência, no dia 16, ela reforçou que a “a promoção da paz e do respeito pelos outros representa uma combinação inseparável tanto na dimensão esportiva quanto na dimensão espiritual e eclesial”.

Recentemente nomeados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como representantes da Igreja no Brasil no Dicastério para a Cultura e a Educação, o Padre Omar Raposo, Reitor do Santuário do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (RJ), e Pedro Trengrouse, especialista em Direito Esportivo e assessor jurídico de entidades esportivas, participaram do evento em Roma.

Em entrevista ao Vatican News, Padre Omar falou que a nomeação dele e de Trengrouse visa a “criar um intercâmbio de valores, de atividades, de promoções em torno desse diálogo entre o esporte e a fé que é tão saudável. É um novo espaço de evangelização em que a Igreja está cumprindo o seu papel e não faltarão iniciativas”, comentou. Segundo o Sacerdote, em maio de 2025, no Morro dos Anjos (PR), acontecerá o I Congresso Internacional de Educação, Esporte e Fé, com a participação de crianças e jovens de escolas católicas, atletas amadores e profissionais católicos.

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