No prefácio da mais recente obra publicada pela Livraria Editora Vaticana, intitulada “Por um saber sobre a paz”, organizada por Gilfredo Marengo, o Papa Francisco se dirige especialmente aos jovens que pretendem se especializar em Ciências da Paz, tornando-se “agentes de paz”. O gosto pelo estudo, afirma o Pontífice, deve ser acompanhado por um coração inspirado no Evangelho, capaz de compartilhar as esperanças e as ansiedades dos homens de hoje imersos num clima de guerra e de violência no mundo.
“Por que em um mundo onde a globalização quebrou tantas fronteiras, onde todos – se diz – estamos interligados, se continua a praticar a violência nas relações entre os indivíduos e as comunidades?”, questiona o Papa Francisco ao assinar o prefácio da mais recente obra publicada pela Livraria Editora Vaticana (LEV), intitulada “Por um saber sobre a paz” (“Per un saper della pace”, em língua original).
“Por que quem é diferente de nós muitas vezes nos assusta de tal forma de assumirmos uma atitude defensiva e desconfiada que com muita frequência se torna uma agressão hostil?”, indaga ainda o Pontífice no texto inédito que introduz o livro – em língua italiana – organizado por Gilfredo Marengo, vice-presidente e professor ordinário de Antropologia Teológica do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família.
“Por que os governos dos Estados acreditam que demonstrar a sua força, mesmo com atos de guerra, pode dar-lhes maior credibilidade aos olhos dos cidadãos e aumentar o consenso de que desfrutam?”. São todas questões que antecipam o pensamento do Papa Francisco na obra, ao encorajar a cooperação entre a Igreja e as universidades, investindo nas jovens gerações para um mundo sem guerras e violências. O Pontífice explica no prefácio a importância de contribuir na formação de agentes de paz, ao recordar sua recente decisão de instituir um ciclo de estudos em Ciências da Paz na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma. O próprio livro propõe uma série de contribuições, a maioria delas provenientes de um seminário de estudos realizado em 2019 na própria instituição.
O prefácio do Papa Francisco
O ponto de partida é uma dimensão particular da “Igreja em saída” que se reflete na colaboração com o mundo acadêmico. Francisco escreve que “a Igreja é chamada a se comprometer com a solução de problemas relativos à paz, à concórdia, ao meio ambiente, à defesa da vida, aos direitos humanos e civis”. E, nesse caminho, prossegue o Papa, “o mundo universitário tem um papel central” já que simboliza “aquele humanismo integral que precisa ser continuamente renovado e enriquecido”.
Nesse horizonte se destaca, então, um novo desafio acadêmico interdisciplinar baseado num diálogo fecundo entre filosofia, teologia, direito e história. Francisco se diz estar confiante “que um aprofundamento rigoroso dessas linhas de pesquisa, alimentadas também pelas contribuições das ciências humanas, será capaz de fomentar o crescimento de um ‘saber sobre a paz’ para realmente formar preciosos agentes de paz, prontos a se colocar em jogo nas mais diversas áreas da vida das nossas sociedades”.
O kit de formação
Mas o que é preciso para se especializar nesse campo? O Papa indica:
“Um bom agente de paz deve ser capaz de amadurecer um olhar sobre o mundo e a história que não caia em um ‘excesso de diagnóstico’, que nem sempre é acompanhado de propostas resolutas e realmente aplicáveis. Trata-se, de fato, de ir além de uma abordagem puramente sociológica que tenha a pretensão de abraçar toda a realidade de forma neutra e asséptica.”
O estudo inspirado no Evangelho
Francisco, portanto, nos convida a manter o olhar sobre o contexto sem negligenciar os aspectos práticos, quando indica: “quem pretende se tornar um especialista em Ciências da Paz precisa aprender a estar atento aos sinais dos tempos: o gosto pela pesquisa científica e pelo estudo deve ser acompanhado por um coração capaz de compartilhar as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje a fim de saber realizar um verdadeiro discernimento evangélico”.
Ao se dirigir às pessoas potencialmente interessadas, o Papa dá uma outra indicação. “Envolver-se nesses percursos de formação”, esclarece ele, “poderá ser uma ajuda válida para muitos jovens descobrirem que a vocação leiga é, antes de tudo, a caridade na família e a caridade social ou política”. Esse, então, adverte o Pontífice, “é um compromisso concreto a partir da fé para a construção de uma nova sociedade”.
(Com informações de Vatican News)