Francisco: os governantes ouçam o grito de milhões de pessoas privadas de direitos

No Dia Mundial dos Direitos Humanos, o Papa, em uma mensagem no X, lembra que “à vida e à paz são condições essenciais para o exercício de todos os outros direitos”. Secretário Geral da ONU, Guterres: as desigualdades globais estão desenfreadas. Os conflitos estão aumentando. O direito internacional está sendo deliberadamente ignorado”. Preocupação também da Conferência Ecumênica das Igrejas Europeias.

Vatican Media

“Os #DireitosHumanos à vida e à paz são condições essenciais para o exercício de todos os outros direitos. Que os governantes ouçam o grito de paz de milhões de pessoas privadas dos direitos mais básicos por causa da guerra, a mãe de todas as pobrezas!”

O Papa Francisco lança seu forte apelo, e o de toda a Igreja, com uma mensagem no X por ocasião do Dia Mundial dos Direitos Humanos, celebrado nesta terça-feira, 10.

Dignidade pisoteada

O tema do dia deste ano – estabelecido para comemorar a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 pela Assembleia Geral da ONU – é “Os nossos direitos, o nosso futuro, agora”. “Isso”, diz o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, em uma mensagem, “lembra-nos que os direitos humanos têm a ver com a construção do futuro, precisamente agora. Todos os direitos humanos são indivisíveis: sejam eles econômicos, sociais, cívicos, culturais ou políticos, quando um direito é prejudicado, todos os direitos são prejudicados”. O próprio Guterres denuncia veementemente que hoje “dezenas de milhões de pessoas estão atoladas na pobreza, na fome, na saúde precária e em sistemas educacionais que ainda não se recuperaram totalmente da pandemia de Covid-19. As desigualdades globais são desenfreadas. Os conflitos estão aumentando. O direito internacional está sendo deliberadamente ignorado”.

Indivíduos aniquilados

Expressando profundo pesar “pelos casos crescentes de violações dos direitos humanos fundamentais no mundo de hoje”, o arcebispo greco-ortodoxo Nikitas de Thyateira e da Grã-Bretanha, presidente da Conferência das Igrejas Européias (Cec), um órgão ecumênico que reúne 115 igrejas de tradição ortodoxa, protestante e anglicana, também expressou sua preocupação com os graves danos que a violação dos direitos humanos inexoravelmente causa aos indivíduos e com as profundas feridas que gera ao dilacerar as sociedades: “crimes brutais, injustiças sistêmicas e a erosão do estado de direito e da democracia também minam as bases de consensos sociais construídos sobre justiça, solidariedade e paz”, acrescenta o arcebispo Nikitas.

Dados impetuosos

Os dados mais recentes da Anistia Internacional divulgados com seu relatório 2023-2024 são dramáticos. A análise de 155 nações mostrou que “o mundo retrocedeu em relação à promessa de direitos humanos universais de 1948”. Em 2023, diz o relatório, “os Estados e os grupos armados têm frequentemente perpetrado ataques ilegais e assassinatos em um número crescente de conflitos armados. Autoridades em várias partes do mundo reprimiram a dissidência impondo restrições à liberdade de expressão, associação e reunião pacífica, recorrendo ao uso ilegal da força contra manifestantes, prendendo e detendo arbitrariamente defensores dos direitos humanos, oponentes políticos e outros ativistas, e submetendo-os, em alguns casos, à tortura e a outros maus-tratos”.

Instituições ausentes

Também é decepcionante o comportamento que as instituições multilaterais adotaram na gestão diplomática de muitos conflitos armados que mancham o mundo de sangue: “elas muitas vezes se mostraram incapazes ou não quiseram pressionar as partes envolvidas a respeitar o direito internacional humanitário. Embora os recursos limitados tenham desempenhado um papel importante, muitos atores dessas instituições não demonstraram coragem suficiente ou não aplicaram com coerência seus próprios princípios de forma consistente”.

“As pessoas estão sendo mortas enquanto prosperam os negócios de morte”

“É um escândalo, uma hipocrisia que, por causa de conflitos alimentados pela ganância e pela corrupção, povos inteiros sejam reduzidos à metade, enquanto crescem os negócios de ‘morte’”. Escreveu o Papa na plataforma X a partir de sua conta em nove idiomas @Pontifex, em 09 de dezembro.

“Tantas guerras, desencadeadas pela ganância por matérias-primas e dinheiro, alimentam uma economia armada que exige instabilidade e corrupção. Que escândalo e que hipocrisia: pessoas são mortas enquanto negócios que causam violências e morte prosperam!”

Um novo forte apelo

Depois das palavras deste domingo, 08, da janela do Palácio Apostólico durante o Angelus, pedindo um cessar-fogo em todas as frentes no período de Natal, Francisco assoma em outra janela, a virtual das redes sociais, para a qual milhões de pessoas estão olhando simultaneamente, para colocar diante de seus olhos a feiura deste mundo. A duplicidade da economia, o afã da acumulação a qualquer custo, a dignidade e a própria vida humana pisoteadas em nome do deus dinheiro.

As palavras às vítimas no leste da República Democrática do Congo

A frase escolhida pelo Papa Francisco para @Pontifex foi tirada do discurso apaixonado que o Pontífice dirigiu, em janeiro de 2023, durante sua viagem à República Democrática do Congo, ao grupo de pessoas da parte leste do país. Ou seja, de Kiwu do Norte e de outras áreas vizinhas, todas assoladas por massacres, estupros, assassinatos e outras violências sem precedentes. Um horror detalhado por homens e especialmente mulheres, reunidos em torno do Papa na Nunciatura em Kinshasa, com testemunhos que fizeram os presentes estremecerem.

Jorge Mario Bergoglio, visivelmente comovido com essas histórias, mas também com a disposição das vítimas de perdoar seus algozes, estigmatizou em seu discurso a “insegurança e a guerra” no leste da República Democrática do Congo, “vergonhosamente alimentadas por forças externas e internas”. E ele apontou o dedo para aqueles que estavam puxando as cordas dos conflitos: “Chega! Chega de enriquecer com a pele dos mais fracos! Chega de enriquecer com recursos e dinheiro sujos de sangue!”. Daí, naquele dia, uma acusação contra as guerras desencadeadas pela “ganância insaciável por matérias-primas e dinheiro”, que alimenta “uma economia armada” que causa “instabilidade e corrupção”. Com pessoas “estupradas e mortas”, e negócios que cheiram à morte e que ao invés proliferam.

Fonte: Vatican News

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