Fundação Economia de Francisco é criada para impulsionar o sonho de um novo modelo econômico

Vatican Media

O convite do Papa Francisco feito aos jovens em 2019 para repensar o modelo econômico global, em um processo que ele chamou de “Economia de Francisco” (Economy of Francesco – EoF), tem engajado pesquisadores, empreendedores e promotores de mudanças em mais de 100 países.

Esse propósito foi especialmente potencializado após setembro de 2022, quando em Assis, na Itália, o Pontífice e os membros da EoF assinaram o Pacto da Economia de Francisco. Dois anos depois, surge a Fundação Economia de Francisco, oficializada em um encontro entre os dias 23 e 27 de setembro, em Roma.

A Fundação EoF, conforme descrito em seu site, tem como objetivo “promover o bem comum, apoiando jovens economistas, empresários e agentes de mudança para impulsionar uma transformação econômica mundial inspirada nos ideais estabelecidos no Pacto firmado entre o Papa Francisco e os jovens em Assis, em 24 de setembro de 2022”. E para cumprir tal propósito, promoverá e organizará atividades nas áreas de pesquisa e estudos; empreendedorismo e inovação; e de formação espiritual e cultural.

POR QUE FOI CRIADA E COM QUAL FINALIDADE

Conforme ressaltam os fundadores, a Economia de Francisco “deixou de ser um evento pontual para se tornar um processo contínuo de diálogo, reflexão e ação. Uma Fundação oferece um marco estruturado para concentrar o conhecimento coletivo, os compromissos e as iniciativas geradas pela EoF em uma força duradoura para a mudança”.

Em dezembro de 2023, o Papa escreveu uma carta a Dom Domenico Sorrentino, Bispo de Assis; a Luigino Bruni, da associação internacional Economia de Comunhão; e a Francesca Di Malo, do Instituto Seráfico para Surdos e Cegos de Assis, pedindo-lhes que organizassem uma “estrutura de coordenação dinâmica e ágil na EoF”.

Os três são parte do conselho de fundadores da Fundação EoF. Ao O SÃO PAULO, Bruni explicou que a Fundação terá supervisão e assistência moral do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, mas sem vínculo jurídico com este.

“A Fundação é uma instituição a serviço do movimento EoF, mas não coincide com ele. Existem órgãos da Fundação para garantir o relacionamento com os jovens do mundo, como nas aldeias temáticas e nos polos locais, a fim de que o protagonismo dos jovens permaneça e se fortaleça. A EoF é uma realidade dos jovens economistas, e isso é essencial”, enfatizou Bruni.

ESTRUTURAÇÃO E FUNCIONAMENTO

A Fundação, conforme aponta em seu site, “não somente reforçará a cooperação global dentro da Eof, mas também facilitará e promoverá processos locais de escuta e diálogo, assegurando a diversidade necessária para o processo de mudança econômica global”.

A sua governança e as tomadas de decisão serão feitas com a participação dos representantes nos seguintes órgãos: Conselho de Fundadores, Conselho de Administração; Presidência e Vice-presidência; Comitê Científico; Assembleia de Representantes e Órgão de Vigilância.

Na Assembleia de Representantes está a ampla representação da comunidade EoF, com pesquisadores, empreendedores e agentes de mudanças. Os seus integrantes atuarão voluntariamente e foram nomeados para um período de três anos pelo Comitê Organizador. “Dado que alguns dos membros mais ativos têm agora mais de 35 anos, o grupo está composto de um equilíbrio de membros júnior e sênior para garantir uma transição fluída e subsidiária dentro da comunidade”, consta no comunicado de criação da Fundação.

Há representantes da África, Ásia, Europa, Estados Unidos e de países latino-americanos, como Argentina, Venezuela, Peru, Chile e México, além do Brasil, que conta com cinco nomes: Alan Faria Andrade, Andrei Thomaz Oss Emer, Eduardo Brasileiro, Mariana Maria Reis e Matheus Machado.

À reportagem, Alan Faria, 38, doutor em Direito pela PUC-SP, explicou que a Fundação EoF ainda vai formatar as maneiras pelas quais fomentará e fortalecerá iniciativas com vistas à mudança econômica global.

“No Brasil, alguns jovens já desenvolvem atividades de formação no âmbito acadêmico, eclesial, momentos de reflexão com movimentos sociais e pastorais sociais, e outros projetos desenvolvem a reflexão com empresários”, detalhou Alan Faria, explicando que assim que forem consolidadas as prioridades, estas serão publicizadas, “mas já antecipo que a ideia da Fundação é viabilizar os projetos dos jovens da EoF para alterar a atual economia, construir a economia do amanhã e concretizar cada sonho”, contou.

PAPA: ‘AGORA COMEÇA UMA NOVA ETAPA’

Em 25 de setembro, o Papa Francisco recebeu em audiência os membros da Fundação EoF e destacou que eles não são apenas beneficiários da nova instituição, mas protagonistas das ações: “Agora começa uma nova etapa. É preciso que esta bela realidade entre vocês cresça, se fortaleça e alcance mais e mais jovens, e dê os frutos típicos do Evangelho e do bem”.

Ao lembrar que a economia precisa de mudanças, Francisco indicou que as transformações necessárias não serão protagonizadas apenas pelos que “se tornarem ministros, ganhadores do prêmio Nobel ou grandes economistas”, mas por todos os capazes de amar o mundo da economia “à luz de Deus, injetando nele os valores e a força do bem, com o espírito evangélico de Francisco de Assis”, que “despojou-se de tudo por amor a Jesus e aos pobres e deu um novo impulso ao desenvolvimento da economia”.

3 PEDIDOS ESPECIAIS

O Pontífice também disse que os membros da Fundação EoF precisam “ser testemunhas, não ter medo e esperar sem cansar”.

Sobre o primeiro aspecto, o Papa lembrou que o testemunho de vida e coerência deles será capaz de atrair outros jovens: “Façam-se valorizar por seus projetos e realizações, e não para se tornarem numerosos e poderosos, mas para transmitir a muitos aquilo que receberam, ou seja, a ‘Boa nova’ de que, inspirados pelo Evangelho, também a economia pode mudar para melhor”.

Francisco pediu-lhes, ainda, que “não sejam administradores de medo, mas empresários de sonhos”, e os exortou a ousar nas palavras e ações. Falou, também, que é necessário saber esperar pelos resultados, algo difícil de ser vivenciado em uma economia imersa em “novas e antigas guerras”, porém “Ele [Jesus] os ajudará e a Igreja não lhes deixará sozinhos”.

Por fim, o Papa lembrou que o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral acompanhará as atividades da Fundação e buscará colaborar para “dar vida e concretude ao sonho de mudar a economia atual e dar alma à economia do amanhã”. Também desejou que entre os membros nasça “uma nova forma de estar juntos e de fazer negócios, que não produzam resíduos, mas sim bem-estar material e espiritual”; e exortou os jovens economistas a terem ânimo nas ações, serem fiéis à sua vocação e acreditarem que “vale a pena dedicar sua vida para mudar o mundo para melhor”.

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Milton Paulo de Lacerda
Milton Paulo de Lacerda
1 mês atrás

Iniciativa oportuna e corajosa do Papa Francisco e dos que aceitaram o desafio de trabalhar por um mundo mais humano e solidário, como Deus quer.