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Igreja rende graças a Deus pelos 70 anos do Papa Leão XIV

Fotos: Vatican Media

Na Festa da Exaltação da Santa Cruz, no domingo, 14 de setembro, a Igreja em todo mundo rende graças a Deus pelo aniversário natalício de 70 anos do Papa Leão XIV, que foi escolhido para a Cátedra de São Pedro no conclave concluído em 8 de maio deste ano, tornando-se, assim, o 267º papa da história da Igreja Católica Apostólica Romana.

“A todos vocês, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que sempre busca a paz, que sempre busca a caridade, que sempre busca estar próxima, especialmente daqueles que sofrem”, foram algumas de suas primeiras palavras ao dirigir-se à multidão de fiéis reunida na Praça São Pedro naquele 8 de maio.

BIOGRAFIA E TRAJETÓRIA ECLESIAL

Robert Francis Prevost nasceu em 14 de setembro de 1955, em Chicago, nos Estados Unidos. Filho de Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de ascendência espanhola, Robert e os irmãos iam com os pais à missa diariamente.

Ele estudou no Seminário Menor dos Padres Agostinianos e depois na Villanova University, na Pensilvânia, onde, em 1977, formou-se em Matemática e Filosofia. No mesmo ano, ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho (OSA) em St. Louis, na Província de Nossa Senhora do Bom Conselho. Em 29 de agosto de 1981, emitiu os votos solenes após ter se graduado em Teologia na Catholic Theological Union, em Chicago.

Aos 26 anos, Frei Robert Prevost foi enviado a Roma para estudar Direito Canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino (Angelicum). Lá, recebeu a ordenação sacerdotal em 19 de junho de 1982.

Em 1985, enquanto preparava-se para o doutorado, foi enviado para a missão Agostiniana em Chulucanas, em Piura, Peru, onde permaneceu até 1986. No ano seguinte, defendeu a tese sobre “O papel do prior local da Ordem de Santo Agostinho” e foi nomeado Diretor de Vocações e Diretor de Missões da Província Agostiniana Mãe do Bom Conselho, em Olympia Fields, Illinois, nos Estados Unidos.

A partir de 1988 esteve em missão em Trujillo, no Peru. Durante 11 anos, ocupou os cargos de Prior da comunidade (1988-1992), Diretor de Formação (1988-1998) e Formador dos professos (1992-1998); e na Arquidiocese de Trujillo foi Vigário Judicial (1989-1998) e professor de Direito Canônico, Patrística e Moral no Seminário Maior São Carlos e São Marcelo. Ao mesmo tempo, também lhe foi confiada a Comunidade Nossa Senhora Mãe da Igreja (1988-1999), que mais tarde se tornaria a Paróquia Santa Rita na periferia da cidade. Foi ainda Administrador da Paróquia Nossa Senhora de Monserrat (1992-1999).

Padre Robert Prevost foi eleito Prior Provincial da Província Agostiniana de Nossa Senhora do Bom Conselho de Chicago, em 1999, e dois anos e meio depois Prior Geral dos Agostinianos, função para a qual foi reeleito em 2007.

Em outubro de 2013, o Sacerdote retornou à Província Agostiniana em Chicago, mas logo em 3 de novembro de 2014, o Papa Francisco o nomeou Administrador Apostólico da Diocese de Chiclayo, no Peru. Ele recebeu a ordenação episcopal em 12 de dezembro daquele ano, adotando como lema epis­copal “In Illo uno unum”, palavras que Santo Agostinho pronunciou para explicar que “embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um”.

Em 2015, Francisco o nomeou Bispo de Cliclayo, onde permaneceu até 30 de janeiro de 2023, quando o Pontífice confiou-lhe as missões de Prefeito do Dicastério para os Bispos e de Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina.

Desde 2019, Dom Robert já era membro da então Congregação para o Clero e desde 2020 da então Congregação para os Bispos. Além disso, em 2018, havia sido eleito 2º Vice-Presidente da Conferência Episcopal Peruana, e desde abril de 2020, também Administrador Apostólico da Diocese de Callao, no Peru.

Dom Robert Prevost foi feito cardeal por Francisco no consistório de 30 de setembro de 2023. Na Cúria Romana, foi ainda membro dos Dicastérios para a Evangelização – Seção para a Primeira Evangelização e as Novas Igrejas Particulares; para a Doutrina da Fé; para as Igrejas Orientais; para o Clero; para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; para a Cultura e a Educação; para os Textos Legislativos; e da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano.

SUCESSOR DE PEDRO

Em 8 de maio deste ano, o Cardeal Prevost foi eleito papa pelo colégio cardinalício reunido em conclave.

“O Papa foi escolhido para ser o sucessor de São Pedro, como encarregado de cuidar de toda a Igreja, de mantê-la unida na fé, em comunhão fraterna e no testemunho do Evangelho. Muitos se perguntavam se ele, Leão XIV, seria continuador do pontificado de Francisco, ou tomaria outro rumo à frente da Igreja. Todos os Papas são continuadores da missão recebida de Cristo e Leão lembrou, na sua primeira alocução aos cardeais, que ele e todos os batizados somos servidores da Igreja e lhe devemos ser fiéis. O Papa terá à sua frente Jesus Cristo e o Evangelho e, no coração, o bem da humanidade, em todos os sentidos. Terá um amor especial pelos pequenos, pobres, humildes e descartados da sociedade, como fez Francisco. Mas terá seu jeito próprio”, escreveu, ao O SÃO PAULO, Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, dias após o conclave do qual ele foi um dos cardeais eleitores.

Na Cátedra de Pedro, Leão XIV, por meio de mensagens e discursos nas audiências gerais, no Angelus dominical e nas homilias, tem insistido nos apelos pela paz mundial pelo via do diálogo, exortado os cristãos a dar testemunho cotidiano da fé, falado sobre temas atuais como o uso ético da inteligência artificial, o cuidado com o meio ambiente e a defesa da vida da concepção à morte natural; e enfatizado a sinodalidade da Igreja.

Nestes primeiros meses de pontificado, Leão XIV viveu dois momentos especiais de proximidade com os jovens: o jubileu da juventude católica, que foi concluído com uma missa campal, em 3 de agosto, reunindo 1 milhão de jovens de 146 países em Roma; e as canonizações de Carlo Acutis (1991-2006) e de Pier Giorgio Frassati (1901-1925), em 7 de setembro, no Vaticano.

UMA ANÁLISE DOS 100 PRIMEIROS DIAS DE PONTIFICADO
 
Segundo o jornalista Filipe Domingues, repórter do O SÃO PAULO no Vaticano, passado os primeiros 100 dias do início do pontificado de Leão XIV já há indicativos sobre alguns temas centrais que moldarão seu pontificado e sua abordagem à evangelização.
 
“Três temas específicos parecem nortear sua visão da vida na Igreja e da evangelização. Eu os chamei de ‘Unidade e Paz’, ‘Sinodalidade’ e ‘Marta e Maria’ (ou ‘Serviço e Escuta’)”, escreve Domingues.
 
“Como líder da Igreja universal, ele se apresenta simplesmente como um cristão, ao mesmo tempo em que abraça plenamente as responsabilidades de um ‘pastor com o cheiro das ovelhas’, como diria o Papa Francisco. O Papa Leão XIV demonstra todos os sinais de ser um papa social, assim como Francisco — profundamente conectado às realidades do mundo e em sintonia com o pulso daqueles que se encontram em situações dolorosas”.
 
Domingues lembra ainda que o Pontífice se apresenta como um farol de unidade e com uma visão de promoção da paz: “’A paz esteja com todos vós!’ foram suas primeiras palavras como sucessor do Apóstolo Pedro. ‘É a paz de Cristo ressuscitado. Uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante. Uma paz que vem de Deus, o Deus que nos ama a todos, incondicionalmente’”, comentou, recordando, ainda, que em sua primeira aparição após ser eleito Papa, em 8 de maio, exortou a todos a “a construir pontes por meio do diálogo e do encontro, unindo-nos como um só povo, sempre em paz”.
 
O jornalista comenta, ainda, que para o Papa Leão XIV a sinodalidade “é um processo que gera unidade dentro da Igreja. Alguns de nós tendemos a pensar em um sínodo como a reunião de diferentes opiniões, perspectivas e experiências de vida na Igreja, para que possam se chocar e o mais forte prevaleça. O papa vê “caminhar juntos” como exatamente o oposto disso”. A este respeito, também recorda uma fala do Papa na Vigília de Pentecostes em 7 de junho: “Deus criou o mundo para que todos possamos viver como um. Sinodalidade é o nome eclesial para isso”.
 
Acerca da dimensão do serviço e da escuta – sintetizada nas posturas das irmãs Marta e Maria quando da visita de Jesus na casa em que viviam com o irmão Lázaro (cf. Lc 10,41-42), recordadas pelo Papa em uma celebração em Castel Gandolfo – Marta ocupada com os serviços da casa, Maria aos pés de Cristo ouvindo seus ensinamentos – o Pontífice destacou que servir e ouvir são, de fato, dimensões conjuntas da hospitalidade e neste sentido, “convidou todos os fiéis a cultivar uma vida interior mais profunda, o que significa promover um relacionamento direto com Cristo por meio da espiritualidade, da oração e do silêncio”, recorda Domingues.
 
Por fim, Filipe Domingues destaca que Leão XIV é “um papa missionário para uma Igreja missionária”, a qual deve sempre estar aberta ao acolhimento: “Na Vigília de Pentecostes, ele acrescentou: ‘A evangelização, queridos irmãos e irmãs, não é a nossa tentativa de conquistar o mundo, mas a graça infinita que irradia de vidas transformadas pelo Reino de Deus’ (…) ‘A evangelização é sempre obra de Deus. Se às vezes acontece através de nós, é graças aos laços que torna possível’”.

EDIÇÃO DE TEXTOS: Daniel Gomes/O SÃO PAULO

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