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Leão XIV na Urbe et Orbi: no caminho da paz, colocar-se no lugar de quem sofre

Na tradicional mensagem para o Dia do Natal, Pontífice lembrou que não haverá a paz sem que os homens e mulheres estejam com o coração livre do pecado

Fotos: Vatican Media

Apesar da persiste chuva no Vaticano, centenas de fiéis foram à Praça São Pedro na quinta-feira, 25 de dezembro, na Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo para acompanhar a mensagem Urbi et Orbi do Papa Leão XIV, por ele proferida do balcão central da Basílica Vaticana.

“Queridos irmãos e irmãs, ‘Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na terra o nosso Salvador. Hoje desceu do Céu sobre nós a verdadeira paz’ (Antífona de entrada da Missa da Meia Noite). Assim canta a liturgia na noite de Natal e assim ressoa na Igreja o anúncio de Belém: o Menino que nasceu da Virgem Maria é Cristo Senhor, enviado pelo Pai para nos salvar do pecado e da morte. Ele é a nossa paz: Aquele que venceu o ódio e a inimizade com o amor misericordioso de Deus. Por isso, ‘o Natal do Senhor é o Natal da paz’ (São Leão Magno, Sermão 26)”, disse o Pontífice inicialmente.

ELE NASCEU POR AMOR

Leão XIV recordou que Cristo nasceu em um estábulo, foi envolto em panos por Maria e colocado em uma manjedoura: “O Filho de Deus, por meio do qual tudo foi criado, não é recebido e o seu berço é uma pobre manjedoura para animais”.

“O Verbo eterno do Pai, que os céus não podem conter, escolheu vir ao mundo desta forma. Por amor, desejou nascer de uma mulher, para partilhar a nossa humanidade; por amor, aceitou a pobreza e a rejeição e identificou-se com quem é descartado e excluído”.

O Papa ressaltou que desde seu nascimento, está posto o caminho que orientará a vida do Filho de Deus até a morte na cruz: “A escolha de não nos fazer carregar o peso do pecado, mas de o carregar Ele por nós, de assumir sobre Si esse peso. Só Ele o podia fazer. Ao mesmo tempo, porém, mostrou o que só nós podemos fazer, ou seja, assumir cada um a sua parte de responsabilidade. Sim, porque Deus, que nos criou sem nós, não pode salvar-nos sem nós (cf. Santo Agostinho, Discurso 169, 11. 13), isto é, sem a nossa livre vontade de amar. Quem não ama não se salva, está perdido. E quem não ama o irmão que vê, não pode amar Deus que não vê (cf. 1 Jo 4, 20)”.

O CAMINHO DA PAZ

Ainda na mensagem, o Santo Padre sublinha que a responsabilidade é o caminho da paz: “Se cada um de nós, a todos os níveis, em vez de acusar os outros, reconhecesse em primeiro lugar as próprias falhas, pedisse perdão a Deus e, ao mesmo tempo, se colocasse no lugar dos que sofrem, mostrando-se solidário com os mais fracos e oprimidos, então o mundo mudaria”.

Lembrou, ainda, que “Jesus Cristo é a nossa paz porque, em primeiro lugar, nos liberta do pecado e, em segundo lugar, nos indica o caminho a seguir para superar os conflitos, quaisquer que sejam eles, desde os interpessoais aos internacionais”.

E o Pontífice enfatizou: “Sem um coração livre do pecado, um coração perdoado, não se pode ser homens e mulheres pacíficos e construtores de paz. Foi por esta razão que Jesus nasceu em Belém e morreu na cruz: para nos libertar do pecado. Ele é o Salvador. Com a sua graça, cada um pode e deve fazer a sua parte para rejeitar o ódio, a violência, a contraposição e para praticar o diálogo, a paz, a reconciliação”.

PEDIDOS ESPECIAIS AO PRÍNCIPE DA PAZ

Leão XIV recordou os receios e o sentimento de impotência dos cristãos no Oriente Médio; rogou a Deus por “justiça, paz e estabilidade para o Líbano, a Palestina, Israel e a Síria”; e pediu ao Príncipe da Paz que continue a inspirar no continente europeu “um espírito comunitário e colaborativo, fiel às suas raízes cristãs e à sua história, solidária e acolhedora com quem passa necessidade. Rezemos de modo especial pelo povo ucraniano tão massacrado: que o barulho das armas acabe e que as partes envolvidas, apoiadas pelo empenho da comunidade internacional, encontrem a coragem de dialogar de modo sincero, direto e respeitoso”.

“Do Menino de Belém, imploramos paz e consolação para as vítimas de todas as guerras em curso no mundo, especialmente as esquecidas; e para quantos sofrem por causa da injustiça, da instabilidade política, da perseguição religiosa e do terrorismo. Recordo de modo particular os irmãos e irmãs do Sudão, do Sudão do Sul, do Mali, do Burquina Faso e da República Democrática do Congo”.

O Pontífice rezou ainda ao Deus feito homem pelo Haiti para que, “cessando toda a forma de violência no país, possa progredir no caminho da paz e da reconciliação”.

Desejo, ainda, “que Menino Jesus inspire todos os que têm responsabilidades políticas na América Latina, para que, ao enfrentarem os inúmeros desafios, deem espaço ao diálogo pelo bem comum e não a preconceitos ideológicos e de parte.

“Ao Príncipe da Paz, pedimos que ilumine Mianmar com a luz de um futuro de reconciliação: devolva a esperança às jovens gerações, guie todo o povo birmanês por vias de paz e acompanhe aqueles que vivem sem casa, segurança ou confiança no futuro”.

No coração do Pontífice também estão orações para que se restabeleça a história amizade entre a Tailândia e o Camboja; as vítimas das recentes calamidades naturais no Sul asiático e na Oceania.

‘NÃO NOS DEIXEMOS VENCER PELA INDIFERENÇA’

“Queridos irmãos e irmãs, na escuridão da noite, ‘o Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina’ (Jo 1, 9), porém ‘os seus não o receberam’ (Jo 1, 11). Não nos deixemos vencer pela indiferença em relação a quem sofre, porque Deus não é indiferente às nossas misérias”, sublinhou o Pontífice.

Leão XIV destacou, ainda, que fazendo-se homem, “Jesus assume a nossa fragilidade, identifica-se com cada um de nós: com aqueles que não têm mais nada e perderam tudo, como os habitantes de Gaza; com quem está a braços com a fome e a pobreza, como o povo do Iémen; com aqueles que fogem da própria terra em busca de um futuro noutro lugar, como os muitos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo ou atravessam o Continente americano; com aqueles que perderam o trabalho e com os que o procuram, como tantos jovens que têm dificuldade em encontrar emprego; com aqueles que são explorados, como muitos trabalhadores mal remunerados; com aqueles que estão na prisão e, muitas vezes, vivem em condições desumanas”.

CRISTO, A NOSSA ESPERANÇA, PERMANECERÁ

“Neste santo dia, abramos o nosso coração aos irmãos e irmãs que passam necessidades e sofrem. Ao fazê-lo, abrimos o nosso coração ao Menino Jesus, que, com os braços abertos, nos acolhe e revela a sua divindade: ‘a quantos o receberam, aos que nele creem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus’ (Jo 1,12)”, prosseguiu o Papa.

Por fim, Leão XIV recordou que se aproxima o encerramento do Ano Jubilar, um itinerário marcado pela renovação da esperança cristã: “As Portas Santas fechar-se-ão, mas Cristo, nossa esperança, permanecerá sempre conosco. Ele é a Porta sempre aberta, que nos introduz na vida divina. É a alegre notícia deste dia: o Menino que nasceu é Deus feito homem; Ele não vem para condenar, mas para salvar; a sua não é uma aparição fugaz; Ele vem para ficar e dar-se a si mesmo. Nele, todas as feridas são curadas e todos os corações encontram repouso e paz. ‘O Natal do Senhor é o Natal da paz’. Desejo a todos, de coração, um feliz e santo Natal.

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