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Leão XIV: nossas cidades não são lugares anônimos, mas rostos e histórias

Pontífice recebeu, no Vaticano, membros da Associação Nacional dos Municípios Italianos. Em sua fala também alertou que os jogos de azar têm arruinado muitas famílias

Fotos: Vatican Media

“Estou feliz por encontrar todos vocês que representam a Associação Nacional dos Municípios Italianos. Vivemos este encontro no tempo do Natal e no final de um ano jubilar: a graça destes dias certamente ilumina também o seu serviço e as suas responsabilidades”.

Assim discursou o Papa Leão XIV, na segunda-feira, 29, ao receber na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 200 membros da Associação Nacional dos Municípios Italianos.

RESPONSABILIDADE E SERVIÇO

O Pontífice comentou que a encarnação do Filho de Deus fez a humanidade encontrar uma criança, cuja frágil mansidão se choca com a arrogância do rei Herodes. Em particular, o massacre dos inocentes por ele ordenado não significa apenas a perda do futuro para a sociedade, mas é manifestação de um poder desumano, que não conhece a beleza do amor porque ignora a dignidade da vida humana.

Leão XIV destacou em que o nascimento do Senhor revela o aspecto mais autêntico de todo poder, que é, antes de tudo, responsabilidade e serviço. Para que qualquer autoridade possa expressar essas características, é necessário encarnar as virtudes da humildade, da honestidade e da partilha.

O Santo Padre disse em seguida que no compromisso público, em particular, eles devem estar cientes da importância da escuta, como dinâmica social que ativa essas virtudes. Trata-se, de fato, de prestar atenção às necessidades das famílias e das pessoas, cuidando especialmente dos mais frágeis, para o bem de todos.

TEMAS DE ATENÇÃO

O Papa falou em seguida da crise demográfica e das dificuldades das famílias e dos jovens, da solidão dos idosos e do grito silencioso dos pobres, da poluição do meio ambiente e dos conflitos sociais são realidades que não os deixam indiferentes.

“Enquanto procuram dar respostas, vocês sabem bem que nossas cidades não são lugares anônimos, mas rostos e histórias a serem guardados como tesouros preciosos”, ressaltou.

Ele lembrou o exemplo do venerável Giorgio La Pira, que, em um discurso aos vereadores de Florença, afirmou: “Vocês têm apenas um direito em relação a mim: o de me negar a confiança! Mas não têm o direito de me dizer: Senhor Presidente da Câmara, não se preocupe com as pessoas sem trabalho, sem casa, sem assistência. É meu dever fundamental. Se há alguém que sofre, tenho um dever preciso: intervir de todas as formas, com todos os recursos que o amor sugere e que a lei fornece, para que esse sofrimento seja diminuído ou aliviado. Não há outra norma de conduta para um prefeito em geral, e em particular, para um prefeito cristão”.

OUVIR OS PEQUENOS E POBRES

O Papa destacou em seguida – citando o Papa Francisco – que “a coesão social e a harmonia cívica exigem, em primeiro lugar, ouvir os pequenos e pobres”: sem esse compromisso, “a democracia atrofia-se, torna-se um nominalismo, uma formalidade, perde representatividade, desencarna-se porque deixa de fora o povo na sua luta quotidiana pela dignidade, na construção do seu destino”.

Tanto diante das dificuldades quanto em relação às oportunidades de desenvolvimento, o Papa exortou-os a se tornarem mestres da dedicação ao bem comum, promovendo uma aliança social pela esperança.

No final do Jubileu, o Papa compartilhou o importante tema, que seu predecessor, Francisco, indicou na Bula de convocação. Todos, escreveu ele, “precisam recuperar a alegria de viver, porque o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, não pode se contentar em sobreviver ou viver precariamente, em se adaptar ao presente, deixando-se satisfazer apenas por realidades materiais.

Isso aprisiona no individualismo e corrói a esperança, gerando uma tristeza que se aninha no coração, tornando-nos amargos e intolerantes» (Spes non confundit, 9). Infelizmente, nossas cidades conhecem formas de marginalização, violência e solidão que precisam ser enfrentadas, comentou.

JOGOS DE AZAR ARRUÍNAM FAMÍLIAS

O Pontífice também chamou a atenção para os impactos danosos às famílias dos vícios em jogos de azar:

“Queria chamar a atenção, em particular, sobre a chaga do jogo [de azar] que arruína muitas famílias. As estatísticas registram um forte aumento na Itália nos últimos anos. Como sublinha a Caritas Italiana em seu último Relatório sobre pobreza e exclusão social, trata-se de um grave problema educacional, de saúde mental e de confiança social”.

Leão XIV mencionou ainda as outras formas de solidão que padecem muitas pessoas: “traumas psíquicos, depressões, pobreza cultural e espiritual, abandono social. São sinais que indicam quanta necessidade há de esperança. Para dar testemunho de forma eficaz, a política é chamada para tecer relações autenticamente humanas entre os cidadãos, promovendo a paz social”.

Citando o sacerdote Primo Mazzolari, padre atento à vida do seu povo, escreveu que “o país não precisa apenas de esgotos, casas, estradas, aquedutos, calçadas. O país também precisa de uma maneira de sentir, de viver, uma maneira de se olhar, uma maneira de se unir”.

A atividade administrativa encontra assim sua plena realização, porque faz crescer os talentos das pessoas, dando profundidade cultural e espiritual às cidades.

O Papa concluiu pedindo a coragem de oferecer esperança às pessoas, projetando juntos o melhor futuro para suas terras, na lógica de uma promoção humana integral.

Fonte: Vatican News

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