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Leão XIV: o Espírito Santo desfaz nossas ‘durezas, egoísmos, medos’ e abre todas as fronteiras

Fotos: Vatican Media

Abrir-se à ação do Espírito Santo é permitir que Ele aja a partir do interior de cada um de nós. No Domingo de Pentecostes, 8, em uma pregação que tocou, ao mesmo tempo, a espiritualidade cristã e alguns pontos muito concretos do mundo atual, o Papa Leão XIV disse que são os dons do Espírito de Deus que nos permitem abrir nossas vidas ao amor. 

“Essa presença do Senhor dissolve nossa dureza, nossos fechamentos, nossos egoísmos, os medos que nos bloqueiam, os narcisismos que nos fazem girar somente em torno de nós mesmos”, refletiu o Santo Padre, na missa que conclui as celebrações do Tempo Pascal. “O Espírito Santo vem para desafiar, em nós, o risco de uma vida que se atrofia, sugada pelo individualismo”, disse. 

A primeira leitura do dia, extraída dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,1-11), relata o momento em que, após a Ressurreição, e na presença de Maria, Mãe de Jesus, os discípulos recebem línguas de fogo e começam a pregar o Evangelho de modo compreensível para todos os povos. 

Cerca de 70 mil pessoas compareceram à celebração da Solenidade de Pentecostes na Praça São Pedro, sob um sol muito forte e temperatura na casa dos 30oC. No mesmo fim de semana, celebrou-se o Jubileu das Associações, Movimentos e Novas Comunidades. Antes de a missa começar, o Papa percorreu a praça com o papamóvel, parando para abençoar dezenas de crianças – a cena já se tornou rotina em seu recém-iniciado pontificado. Por sinal, Leão XIV foi eleito há um mês, em 8 de maio. 

FRONTEIRAS A SUPERAR 

O Espírito abre todas as fronteiras e promove o encontro e a unidade, exortou o Pontífice. Mas Sua ação se dá por meio da abertura dos corações. Só assim é possível superar algumas das mazelas típicas dos tempos atuais como a solidão, os nacionalismos e a violência contra a mulher, principalmente na forma de feminicídio – completou o Papa. 

“É triste observar como, em um mundo em que as oportunidades de socialização se multiplicam, corremos o risco de ficar paradoxalmente mais sozinhos, sempre conectados, mas incapazes de fazer rede, sempre imersos na multidão, mas permanecendo viajantes desorientados e solitários”, notou, em uma clara crítica à sociedade hiperconectada e midiática, mas que, contraditoriamente, produz males como a depressão e o suicídio. 

Já as relações baseadas em excessiva rigidez, cuja origem muitas vezes “é o medo daquele que é diferente”, afirmou, podem ser remediadas com os dons do Espírito Santo quando “o amor de Deus habita em nós”. Nas palavras do Pontífice, “o Espírito também transforma aqueles perigos mais ocultos que poluem nossos relacionamentos, como mal-entendidos, preconceitos e exploração. Penso – com muita dor – quando uma relação é infestada pelo desejo de dominar o outro, atitude que muitas vezes desemboca na violência, como, infelizmente, demonstram os numerosos e recentes casos de feminicídio”. 

RENOVAR TODAS AS COISAS 

Um coração aberto ao Espírito, disse ele, descobre “uma nova maneira de ver e viver a vida”, pois permite experimentar um tipo de alegria que só Deus pode oferecer. “Só se permanecermos no amor receberemos também a força para observar a sua Palavra e, portanto, para sermos transformados por ela, que abre as fronteiras dentro de nós, para que nossa vida se torne um espaço hospitaleiro”, acrescentou o Papa. 

O Espírito abre fronteiras até entre os povos, comentou Leão XIV. “E onde há amor, não há espaço para o preconceito, para as distâncias de segurança que nos afastam do próximo, para a lógica da exclusão que, infelizmente, vemos emergir também nos nacionalismos políticos”, disse. A discórdia, a divisão a “anestesia da indiferença”, como definia o Papa Francisco, só podem ser vencidas pelo “Espírito do amor e da paz, para que abra as fronteiras, abata os muros, dissolva o ódio e nos ajude a viver como filhos do único Pai que está no céu”. 

SINODALIDADE É UNIDADE 

Na noite anterior, o Papa presidiu uma oração com participantes do Jubileu das Associações, Movimentos e Comunidades de Vida Apostólica. Durante a Vigília de Pentecostes, ele fez uma defesa eloquente sobre a sinodalidade como expressão da unidade eclesial. 

Leão XIV, que tem sido um grande promotor da unidade eclesial e entre os povos, recordou que na noite de Pentecostes, Maria e os discípulos de Cristo foram “revestidos por um Espírito de unidade” que, em seguida, se expressou por meio deles, apesar de suas diferenças. 

“Na noite da minha eleição, olhando com emoção para o povo de Deus aqui reunido, lembrei-me da palavra ‘sinodalidade’, que exprime, com alegria, o modo como o Espírito plasma a Igreja. Nesta palavra ressoa o syn – o com – que constitui o segredo da vida de Deus. Deus não é solidão. Deus está ‘consigo’ em si mesmo – Pai, Filho e Espírito Santo – e é Deus conosco”, ensinou o Pontífice. 

Porém, a fé não se vive de forma estática ou isolada. “Ao mesmo tempo, a sinodalidade nos lembra do caminho – odós – porque onde há o Espírito, há movimento, há uma jornada. Somos um povo em movimento. Essa consciência não nos distancia, mas nos imerge na humanidade, como o fermento na massa, que faz tudo fermentar”, complementou. 

“Caríssimos, Deus criou o mundo para que pudéssemos estar juntos. ‘Sinodalidade’ é o nome eclesial desta consciência”, exortou o Papa Leão XIV. “É o caminho que pede a cada um que reconheça a própria dívida e o próprio tesouro, sentindo-se parte de um todo, fora do qual tudo murcha, até mesmo o mais original dos carismas.” 

Reforçando a ideia de que a evangelização é mais obra de Deus do que de cada um de nós e, portanto, não depende de “compromissos mundanos ou estratégias emocionais”, o Papa declarou: “A evangelização não é uma conquista humana do mundo, mas a graça infinita que se espalha a partir de vidas transformadas pelo Reino de Deus.” 

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