
A iniciação cristã, o envolvimento de jovens e famílias e a formação “em todos os níveis” são três prioridades pastorais que estão na mente do Papa Leão XIV e que, em sua visão, a Igreja precisa discernir e praticar no mundo de hoje. Na sexta-feira, 19, ele fez o primeiro discurso em que começou a delinear alguns pontos de sua visão para a vida da Igreja em nossos tempos, em particular sobre a Diocese de Roma, da qual é Bispo.
“Parece-me urgente estabelecer uma pastoral solidária, empática, discreta, sem julgamentos, que saiba acolher a todos e propor percursos o mais personalizados possível, adequados às diferentes situações de vida dos destinatários”, disse ele, durante uma Liturgia da Palavra por ocasião da abertura do novo ano pastoral da Diocese de Roma.
Anunciar a fé nos tempos atuais requer remar contra a corrente. É preciso investir mais na iniciação cristã, avaliou o Santo Padre. Trata-se de “um processo que deve integrar a existência nos seus vários aspectos, habilitar gradualmente à relação com o Senhor Jesus, tornar as pessoas confiantes na escuta da Palavra, desejosas de viver a oração e de operar na caridade”.

ACOMPANHAR JOVENS E FAMÍLIAS
Nesse sentido, a Igreja precisa, muitas vezes, adotar instrumentos e linguagens novas, “envolvendo no caminho as famílias e buscando superar uma impostação escolástica da catequese”. É preciso dar atenção especial àqueles que buscam a iniciação nos sacramentos já na idade adulta – comentou – bem como acompanhar as famílias sem tentar substituí-las no papel da educação à vida cristã.
“Trata-se – devemos dizer honestamente – de uma pastoral que não repete as coisas de sempre, mas oferece um novo aprendizado; uma pastoral que se torna como uma escola capaz de introduzir à vida cristã, de acompanhar as fases da vida, de tecer relações humanas significativas e, assim, de incidir também no tecido social, especialmente a serviço dos mais pobres, dos mais fracos”, refletiu.

FORMAÇÃO CONTÍNUA
“Estamos vivendo uma emergência formativa e não devemos nos iludir achando que basta realizar algumas atividades tradicionais para manter vivas nossas comunidades cristãs”, declarou o Papa, com sinceridade. A verdadeira formação, em sua visão, é aquela que se torna “generativa”, ou seja, que abre as portas para que a fé se desenvolva.
Os mais jovens se interessam por muitos temas ligados à fé no mundo de hoje os quais nem sempre encontram nas instituições da Igreja. “Nas paróquias, há necessidade de formação e, onde não houver, seria importante inserir percursos bíblicos e litúrgicos, sem deixar de lado as questões que despertam o interesse das novas gerações, mas que interessam a todos nós: a justiça social, a paz, o complexo fenômeno migratório, o cuidado da criação, o bom exercício da cidadania, o respeito na vida de casal, o sofrimento mental e as dependências, e muitos outros desafios”, listou o Pontífice.
“Certamente, não podemos ser especialistas em tudo, mas devemos refletir sobre esses temas, talvez ouvindo as muitas competências que nossa cidade pode oferecer.” A forma de fazer não é sempre fácil, mas é clara: “Juntos e de modo sinodal”, acrescentou o Pontífice.

Pelo fim da guerra na ‘martirizada’ Gaza
“Dirijo-me, em primeiro lugar, aos representantes de diversas associações católicas, empenhadas na solidariedade com a população da Faixa de Gaza”, disse o Papa Leão XIV após a oração do Angelus do domingo, 21.
“Queridos amigos, aprecio a vossa iniciativa e muitas outras que, em toda a Igreja, expressam proximidade aos irmãos e irmãs que sofrem naquela terra martirizada”, acrescentou, usando a expressão que o Papa Francisco tantas vezes atribuiu à Ucrânia, país também assolado pela guerra.
“Não há futuro baseado na violência, no exílio forçado, na vingança. Os povos precisam de paz: quem os ama verdadeiramente, trabalha pela paz”, exortou o Pontífice.
‘O mal não deve apenas ser punido, mas reparado’
Em encontro com participantes do Jubileu dos Operadores de Justiça, no sábado, 20, ao qual compareceram ministros de Supremas Cortes, juízes, advogados, professores e juristas de todo o mundo, o Papa Leão XIV discursou sobre o conceito de justiça conforme a Doutrina Social da Igreja.
A justiça é atribuir a cada um aquilo que lhe é devido, recordou ele, “até alcançar a igualdade em dignidade e oportunidades entre os seres humanos.”
“A justiça do Evangelho não se afasta da justiça humana, mas a questiona e a redesenha: ela a provoca a ir sempre além, porque a impele à busca da reconciliação”, disse ele. “O mal, de fato, não deve ser apenas punido, mas reparado, e para isso é necessário um olhar profundo para o bem das pessoas e o bem comum.”
