Disse o Pontífice em seu primeiro discurso em terras turcas, no qual exortou as autoridades do país a valorizarem a pluralidade de suas expressões. Antes, fez uma visita ao Mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk.

O Papa Leão XIV já está na Turquia para sua primeira viagem apostólica internacional, que compreenderá também a ida o Líbano, sendo concluída na terça-feira, 2 de dezembro.
O primeiro compromisso do Santo Padre em terras turcas foi a ida ao Mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk, fundador e primeiro presidente da República da Turquia, reverenciado como o “Pai dos Turcos”.
Durante a visita ao Anıtkabir (literalmente, “túmulo memorial”), assinou o Livro de Honra, acompanhado por uma delegação oficial composta pelo Ministro, pelo Vice-Governador e pelo Comandante do Mausoléu. Mustafa Kemal Atatürk é reverenciado por liderar o Movimento Nacional Turco, estabelecer a República em 1923 e servir como seu primeiro presidente.
O local também é o descanso final de İsmet İnönü, o segundo presidente da Turquia, que foi sepultado ali após sua morte em 1973. Seu túmulo fica voltado para o Mausoléu de Atatürk, no lado oposto do Pátio Cerimonial.

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES LOCAIS
A grande motivação para a ida do Santo Padre à Turquia é o aniversário de 1.700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, ano de 325. Leão XIV encontra-se em Ancara, capital do país, onde permanecerá até o próximo dia 30.
Em seu discurso às autoridades, aos representantes da sociedade civil e ao Corpo Diplomático, no Palácio Presidencial, em Ancara, o Papa agradeceu a cordial acolhida e manifestou alegria de iniciar as viagens apostólicas de seu pontificado a partir da Turquia, “uma vez que esta terra está indissoluvelmente ligada às origens do cristianismo e hoje convida os filhos de Abraão e toda a humanidade a uma fraternidade que reconheça e valorize as diferenças”.
De acordo com o Papa, a beleza natural da Turquia “nos convida a cuidar da criação de Deus” e “a riqueza cultural, artística e espiritual dos lugares onde” os turcos “vivem nos lembra que as grandes civilizações tomam forma no encontro entre gerações, tradições e ideias diferentes, nas quais o desenvolvimento e a sabedoria se unem”.
“É verdade que o nosso mundo está marcado por séculos de conflitos e que, à nossa volta, ele continua sendo desestabilizado por ambições e decisões que espezinham a justiça e a paz. No entanto, diante dos desafios que nos interpelam, ser um povo com uma grande história representa um dom e uma responsabilidade”, enfatizou.
PAPEL PARA O PRESENTE E O FUTURO DO MEDITERÂNEO
A seguir, o Papa Leão disse às autoridades que “a imagem da ponte sobre o Estreito de Dardanelos, escolhida como símbolo” de sua “viagem, expressa com eficácia o papel especial de seu país”.
“Vocês têm um lugar importante no presente e no futuro do Mediterrâneo e do mundo inteiro, ao valorizar, antes de tudo, as suas diversidades internas”, comentou, complementando: “Antes de unir a Ásia e a Europa, o Oriente e o Ocidente, essa ponte liga a Turquia a si mesma, compõe as suas partes e, assim, torna-a, de algum modo, a partir de dentro, um ponto de encontro de sensibilidades, cuja homogeneização representaria um empobrecimento. Com efeito, uma sociedade só está viva se for plural: são as pontes entre as suas diferentes almas que a tornam uma sociedade civil. Hoje em dia, as comunidades humanas estão cada vez mais polarizadas e dilaceradas por posições extremadas, que as fragmentam”, sublinhou o Pontífice.
OS CRISTÃOS COMO PARTE DA TURQUIA
Leão XIV assegurou que os cristãos estão empenhados em contribuir positivamente para a unidade do país também os cristãos, pois são e se sentem parte da identidade turca, “tão apreciada por São João XXIII, recordado por vocês como o ‘Papa turco’ pela profunda amizade que sempre o ligou ao seu povo”.
O Santo Padre recordou que João XIII “foi Administrador do Vicariato Latino de Istambul e Delegado Apostólico na Turquia e na Grécia de 1935 a 1945” e que ele “comprometeu-se intensamente para que os católicos não se distanciassem da construção de sua nova República”, inspirando “uma lógica mais verdadeira e evangélica, que o Papa Francisco definiu como a ‘cultura do encontro'”.
O Papa recordou que do coração do Mediterrâneo, o seu “predecessor contrapôs à “globalização da indiferença” o convite a sentir a dor dos outros, a ouvir o clamor dos pobres e da terra”.
“A imagem da grande ponte também ajuda neste sentido. Ao revelar-se, Deus estabeleceu uma ponte entre o céu e a terra: o fez para que o nosso coração mudasse, tornando-se semelhante ao seu. É uma ponte suspensa, grandiosa, que quase desafia as leis da física: assim é o amor, que, além da dimensão íntima e privada, tem também a dimensão visível e pública”, sublinhou.

‘TODOS SOMOS FILHOS DE DEUS’
Leão XIV também comentou que a justiça e a misericórdia “desafiam a lei do mais forte e ousam pleitear que a compaixão e a solidariedade sejam consideradas critérios de desenvolvimento. Por isso, em uma sociedade como a turca, onde a religião desempenha um papel visível, é fundamental honrar a dignidade e a liberdade de todos os filhos de Deus: homens e mulheres, compatriotas e estrangeiros, pobres e ricos. Todos somos filhos de Deus e isso tem consequências pessoais, sociais e políticas”.
O Pontífice destacou que aqueles que tem um coração dócil à vontade de Deus promovem sempre o bem comum e o respeito por todos, e recordou que “atualmente, esse é um grande desafio, que deve remodelar as políticas locais e as relações internacionais, especialmente diante de uma evolução tecnológica que, caso contrário, poderia acentuar as injustiças, em vez de contribuir para superá-las”.
“Na verdade, até mesmo as inteligências artificiais reproduzem as nossas preferências e aceleram os processos que, bem-vistos, não foram iniciados pelas máquinas, mas pela humanidade. Por isso, trabalhemos juntos para modificar a trajetória do desenvolvimento e para reparar os danos já causados à unidade da família humana”, comentou.
O PAPEL DA FAMÍLIA
A propósito da “família humana”, o Pontífice sublinhou que “a família mantém uma grande importância na cultura turca e não faltam iniciativas para apoiar a sua centralidade. Na verdade, é no seu interior que amadurecem atitudes essenciais para a convivência civil e uma primeira e fundamental sensibilidade para com o bem comum. No entanto, não é a partir de uma cultura individualista, nem do desprezo pelo matrimônio e pela fecundidade, que as pessoas podem obter maiores oportunidades de vida e felicidade”.
De acordo com o Papa, “na vida familiar, o valor do amor conjugal e a contribuição feminina emergem de forma muito específica”.
“As mulheres, em particular, também através do estudo e da participação ativa na vida profissional, cultural e política, colocam-se cada vez mais a serviço do país e da sua positiva influência no panorama internacional. Assim, são muito apreciáveis as importantes iniciativas nesse sentido, em apoio à família e à contribuição feminina para o pleno florescimento da vida social”, enfatizou.

TERRA DE ENCONTROS E DIÁLOGOS
Leão XIV fez votos de que “a Turquia possa ser um fator de estabilidade e aproximação entre os povos, a serviço de uma paz justa e duradoura”.
Ele lembrou a visita à Turquia de quatro Papas – Paulo VI, em 1967; João Paulo II, em 1979; Bento XVI, em 2006; e Francisco, em 2014. Isso “atesta que a Santa Sé não só mantém boas relações com a República da Turquia, mas deseja cooperar na construção de um mundo melhor com a contribuição deste país, que constitui uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre a Ásia e a Europa, e um ponto de confluência de culturas e religiões”.
“A própria ocasião desta viagem – o aniversário dos 1700 anos do Concílio de Nicéia –, assim como a recordação de que os primeiros oito concílios ecumênicos foram realizados nas terras da atual Turquia, fala-nos de encontro e diálogo”, sublinhou.
“Hoje, mais do que nunca, precisamos de pessoas que promovam o diálogo e o pratiquem com firmeza e paciência. Depois da época da construção das grandes organizações internacionais, que se seguiu às tragédias das duas guerras mundiais, estamos atravessando uma fase de grande conflito a nível global, em que prevalecem estratégias de poder econômico e militar, alimentando o que o Papa Francisco chamou de ‘terceira guerra mundial em pedaços’”, apontou.
Por fim, Leão XIV lembrou que neste momento está em jogo o futuro da humanidade e que a família humana precisa enfrentar unida os desafios como “a paz, a luta contra a fome e a miséria, e pela saúde, educação e salvaguarda da criação”, e que a Santa Sé, “com a sua única força, que é espiritual e moral, deseja cooperar com todas as Nações que têm como objetivo o desenvolvimento integral de cada homem e de todos os homens e mulheres”, concluiu.
Fonte: Vatican News




