Logo do Jornal O São Paulo Logo do Jornal O São Paulo

Leão XIV sobre Igrejas Orientais: testemunhas de luz na noite dos conflitos

O Pontífice fez um convite a verificar e superar as verdadeiras causas dos conflitos, rejeitando e desmascarando as “simulações emocionais e retóricas”: “as pessoas não podem morrer por causa de fakenews”. Como cristãos, somos chamados a dar testemunho, rejeitando a lógica da divisão e da retaliação. E o convite a melhor conhecer o Oriente cristão, “seu sentido do sagrado, sua fé cristalina, tornada granítica pelas provações, e sua espiritualidade que exala o perfume do mistério divino”

Vatican Media

“A paz esteja convosco!” Com a mesma expressão de Jesus com que se dirigiu aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, no dia de sua eleição, Leão XIV começou seu discurso saudando os participantes da Assembleia Plenária da Reunião das Obras para Ajuda às Igrejas Orientais (ROACO), que antes de ser um trabalho, é uma “missão exercida em nome do Evangelho”, ou seja, é “anúncio de alegria, que alegra antes de tudo o coração de Deus”, pois ajudar, “é anúncio de alegria”.

Trabalho da ROACO: luz que brilha na escuridão do ódio

O Papa agradece aos membros das Agências da ROACO e seus benfeitores, pois semeiam “esperança nas terras do Oriente cristão, agora mais do que nunca devastadas por guerras, esgotadas por interesses, envoltas num manto de ódio que torna o ar irrespirável e tóxico:

“Vocês são o cilindro de oxigênio das Igrejas Orientais, esgotadas pelos conflitos. Para tantas populações, pobres de recursos mas ricas de fé, vocês são uma luz que brilha na escuridão do ódio. Peço-vos, com o coração na mão, para fazer sempre todo o possível para ajudar estas Igrejas, tão preciosas e provadas.”

O Papa chama a atenção para o fato de que a história das Igrejas Católicas Orientais foi frequentemente marcada pela violência sofrida, “mas hoje a violência da guerra parece atingir os territórios do Oriente cristão com uma veemência diabólica nunca vista antes”:

“O coração sangra ao pensar na Ucrânia, na situação trágica e desumana em Gaza e no Médio Oriente, devastado pela expansão da guerra.”

Vergonhoso e indigno fazer prevalecer a força sobre o direito 

Todos nós, humanidade – afirma – “somos chamados a avaliar as causas destes conflitos, a verificar aquelas verdadeiras e a buscar superá-las, e a rejeitar os espúrios, fruto de simulações emocionais e retóricas, desmascarando-os resolutamente. As pessoas não podem morrer por causa de fakenews”:

“É verdadeiramente triste testemunhar hoje, em tantos contextos – lamenta Leão XIV –  o impor-se da lei do mais forte, com base na qual são legitimados os próprios interesses. É desolador ver que a força do direito internacional e do direito humanitário parece não ter mais efeitos vinculantes, substituída pelo suposto direito de obrigar os outros pela força. Isso é indigno do homem, é vergonhoso para a humanidade e para os responsáveis​​ pelas nações.”

“Como se pode acreditar, depois de séculos de história – pergunta o Pontífice – que as ações bélicas levem paz e não têm o efeito contrário sobre aqueles que as conduziram? Como se pode pensar em lançar as bases do amanhã sem coesão, sem uma visão de conjunto animada pelo bem comum? Como se pode continuar a trair os desejos de paz dos povos com a falsa propaganda do rearmamento, na vã ilusão de que a supremacia resolve os problemas em vez de alimentar o ódio e a vingança?”.

As pessoas – observa o Papa – “desconhecem cada vez mais a quantidade de dinheiro que vai para os bolsos dos mercadores da morte e com a qual hospitais e escolas poderiam ser construídos; e, em vez disso, os que já foram construídos são destruídos! E eu me pergunto”:

“Como cristãos, além de nos indignarmos, levantarmos a voz e arregaçarmos as mangas para sermos construtores de paz e promovermos o diálogo, o que podemos fazer? Creio que, antes de tudo, devemos rezar verdadeiramente. Cabe a nós fazer de cada notícia e imagem trágica que nos atinge um grito de intercessão a Deus. E depois ajudar, como vocês fazem e como muitos fazem e podem fazer, por meio de vocês.”

Com o testemunho, superar a lógica da divisão e da retaliação

Mas há mais – pontua – e digo isso pensando especialmente no Oriente cristão: há o testemunho:

“É o chamado a permanecer fiéis a Jesus, sem nos deixarmos capturar pelos tentáculos do poder. É imitar Cristo, que venceu o mal amando da cruz, mostrando um modo de reinar diferente daquele de Herodes e Pilatos: um, por medo de ser deposto, matou crianças, que hoje continuam sendo dilaceradas por bombas; o outro lavou as mãos, como corremos o risco de fazer diariamente até o limiar do irreparável. Olhemos para Jesus, que nos chama a curar as feridas da história somente com a mansidão da sua cruz gloriosa, da qual se libertam a força do perdão, a esperança de recomeçar, o dever de permanecer honestos e transparentes no mar da corrupção. Sigamos Cristo, que libertou os corações do ódio, e demos o exemplo para escaparmos à lógica da divisão e da retaliação.”

“Gostaria de agradecer e, idealmente, abraçar todos os cristãos orientais que respondem ao mal com o bem: obrigado, irmãos e irmãs, pelo testemunho que dais, especialmente quando permaneceis nas vossas terras como discípulos e testemunhas de Cristo.”

Igrejas Orientais: testemunhas de luz na noite dos conflitos

Ao se referir ao “recente e terrível atentado à igreja de Santo Elias, em Damasco”, bem como às muitas “misérias causadas pelas guerras e pelo terrorismo”, Leão XIV observa que os membros da ROACO também testemunham o “florescer de rebentos do Evangelho no deserto”:

“Descubram o povo de Deus que persevera, voltando o olhar para o Céu, rezando a Deus e amando o próximo. Tocai com as vossas próprias mãos a graça e a beleza das tradições orientais, das liturgias que permitem a Deus habitar no tempo e no espaço, dos cânticos seculares, impregnados de louvor, glória e mistério, que elevam um incessante pedido de perdão para a humanidade. Encontrais figuras que, muitas vezes escondidas, se juntam às grandes fileiras de mártires e santos do Oriente cristão. Na noite dos conflitos, sois testemunhas da luz do Oriente.”

Leão XIV também expressa o desejo de que esta “luz de sabedoria e salvação seja mais conhecida na Igreja Católica”, na qual “ainda subsiste muita ignorância sobre o assunto e onde, em alguns lugares, a fé corre o risco de ser asfixiada, também porque não se realizou a feliz esperança tantas vezes expressa por São João Paulo II, quando há 40 anos disse: “A Igreja deve reaprender a respirar com os seus dois pulmões, o oriental e o ocidental”.

Dar a conhecer a “espiritualidade que exala o perfume do mistério divino”

No entanto – observa o Papa – “o Oriente cristão só pode ser protegido se for amado; e só é amado se for conhecido”. Neste sentido, é necessário implementar os convites claros do Magistério “para conhecer os seus tesouros, por exemplo, começando a organizar cursos básicos sobre as Igrejas Orientais nos seminários, faculdades de teologia e centros universitários católicos”.

Bem como, “há a necessidade de encontro e partilha da ação pastoral, porque os católicos orientais de hoje já não são primos distantes que celebram ritos desconhecidos, mas irmãos e irmãs que, devido à migração forçada, vivem ao nosso lado:

“O seu sentido do sagrado, a sua fé cristalina, tornada granítica pelas provações, e a sua espiritualidade que exala o perfume do mistério divino, podem beneficiar a sede de Deus latente mas presente no Ocidente.”

Confiemos este crescimento comum na fé à intercessão da Santíssima Mãe de Deus e dos Apóstolos Pedro e Paulo, que uniram o Oriente e o Ocidente. Abençoo-vos e encorajo-vos a perseverar na caridade, animados pela esperança de Cristo.

Fonte Vatican News

Deixe um comentário