O Papa reuniu-se com quinze mil professores e alunos, na Praça São Pedro, para o Jubileu do Mundo Educativo. Ele exortou os professores a entrarem em contato com a “interioridade” de seus alunos, pois sem um encontro profundo com eles, “qualquer proposta educativa está destinada ao fracasso”. “Estejamos atentos: desmerecer o papel social e cultural dos formadores é hipotecar o próprio futuro, e uma crise na transmissão do saber traz consigo uma crise de esperança”, disse Leão XIV.

O Papa Leão XIV encontrou-se com os educadores, na Praça São Pedro, nesta sexta-feira, 31, no âmbito do Jubileu do Mundo Educativo em andamento. Participaram quinze mil pessoas entre professores e alunos.
Em seu discurso, o Santo Padre manifestou alegria de encontrar “educadores vindos de todo o mundo e envolvidos em todos os níveis de ensino, desde o básico até à universidade”.
“Como sabemos, a Igreja é Mãe e Mestra, e vós contribuís para encarnar o seu rosto para tantos alunos e estudantes a cuja educação vos dedicais. Na verdade, graças à luminosa constelação de carismas, metodologias, pedagogias e experiências que representais, e graças ao vosso compromisso ‘polifónico’ na Igreja, Diocese, Congregações, Institutos religiosos, associações e movimentos, garantis a milhões de jovens uma formação adequada, dando sempre centralidade ao bem da pessoa, na transmissão do saber humanístico e científico.”
O Papa disse que “foi professor nas instituições educativas da Ordem de Santo Agostinho”, e partilhou sua experiência, retomando quatro aspectos da doutrina do “Doctor Gratiae” que ele considera fundamentais para a educação cristã: a interioridade, a unidade, o amor e a alegria. “São princípios que gostaria que se tornassem os pilares de um caminho a percorrer juntos, fazendo deste encontro o início de um percurso comum de crescimento e enriquecimento recíprocos”, sublinhou.
Encontro profundo entre as pessoas
Sobre a interioridade, Santo Agostinho diz que «o som das nossas palavras atinge os ouvidos, mas o verdadeiro mestre está dentro» e acrescenta: «Aqueles a quem o Espírito não instrui internamente, vão-se sem ter aprendido nada».
De acordo com Leão XIV, Santo Agostinho nos lembra “que é um erro pensar que para ensinar bastem palavras bonitas ou boas salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Estes são apenas meios e espaços físicos, certamente úteis, mas o Mestre está dentro. A verdade não circula através de sons, muros e corredores, mas no encontro profundo entre as pessoas, sem o qual qualquer proposta educativa está destinada ao fracasso”.
“Vivemos num mundo dominado por telas e filtros tecnológicos muitas vezes superficiais, no qual os alunos precisam de ajuda para entrar em contato com a sua interioridade. E não só eles”, frisou o Papa, lembrando que “também para os educadores, frequentemente cansados e sobrecarregados com tarefas burocráticas, é real o risco de esquecer o que São John Henry Newman sintetizou com a expressão: cor ad cor loquitur (“o coração fala ao coração”) e que Santo Agostinho recomendava, dizendo: «Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem»”.
“São expressões que convidam a olhar para a formação como uma estrada na qual professores e discípulos caminham juntos, conscientes de não procurar em vão, mas, ao mesmo tempo, de ter de continuar a procurar, depois de ter encontrado. Só este esforço humilde e partilhado – que nos contextos escolares se configura como projeto educativo – pode levar alunos e professores a aproximarem-se da verdade.”
Estímulo para o crescimento

A seguir, o Papa falou sobre a unidade, recordando o seu lema: In Illo uno unum (Em Cristo, somos um). “Também esta é uma expressão agostiniana que nos lembra que só em Cristo encontramos verdadeiramente a unidade, como membros unidos à Cabeça e como companheiros de viagem no caminho de contínua aprendizagem da vida”, sublinhou.
Segundo o Papa, “esta dimensão do “com”, constantemente presente nos escritos de Santo Agostinho, é fundamental nos contextos educativos, como desafio a “descentrar-se” e como estímulo para o crescimento”.
“Por esta razão, decidi retomar e atualizar o projeto do Pacto Educativo Global, que foi uma das intuições proféticas do Papa Francisco, meu venerado predecessor. Afinal, como ensina o Mestre de Hipona, o nosso ser não nos pertence: «A tua alma – diz ele – […] já não é tua, mas de todos os irmãos». E se isso é verdade em sentido geral, é-o ainda mais na reciprocidade típica dos processos educativos, nos quais a partilha do saber não pode deixar de se configurar como um grande ato de amor.”
Não desmerecer o papel social e cultural dos formadores
A seguir, passou para a terceira palavra: amor. “Um dístico agostiniano faz-nos refletir sobre isso: “O amor a Deus é o primeiro na ordem dos preceitos, o amor ao próximo é o primeiro na ordem da execução”.
“No campo da formação, cada um poderia perguntar-se qual é o compromisso empregado para atender às necessidades mais urgentes, como o esforço para construir pontes de diálogo e paz também dentro das comunidades docentes, como a capacidade de superar preconceitos ou visões limitadas, como a abertura nos processos de coaprendizagem, como o esforço para ir ao encontro dos mais frágeis, pobres e excluídos, respondendo às suas necessidades”, disse Leão XIV, acrescentando:
“Partilhar o conhecimento não é suficiente para ensinar: é preciso amor. Só assim o conhecimento, não apenas em si mesmo, mas sobretudo pela caridade que transmite, será proveitoso para quem o recebe. O ensino jamais pode ser separado do amor: uma dificuldade atual das nossas sociedades a este respeito é a de não saber mais valorizar suficientemente a grande contribuição que professores e educadores oferecem à comunidade. Estejamos atentos: desmerecer o papel social e cultural dos formadores é hipotecar o próprio futuro, e uma crise na transmissão do saber traz consigo uma crise de esperança.”
A inteligência artificial pode isolar os alunos isolados
Por fim, última palavra-chave: alegria. De acordo com o Papa, “os verdadeiros mestres educam com um sorriso e o seu desafio é conseguir despertar sorrisos no fundo da alma dos seus discípulos”.
“Hoje, nos nossos contextos educativos, é preocupante ver crescer em todas as idades os sintomas de uma fragilidade interior generalizada. Não podemos fechar os olhos diante destes silenciosos pedidos de ajuda; pelo contrário, devemos esforçar-nos para identificar as suas razões mais profundas. A inteligência artificial, em particular, com o seu conhecimento técnico, frio e padronizado, pode isolar ainda mais os alunos já isolados, dando-lhes a ilusão de não precisarem dos outros ou, pior ainda, a sensação de não serem dignos de estar com eles.”
Leão XIV disse que “o papel dos educadores, por outro lado, é um compromisso humano, e a própria alegria do processo educativo é totalmente humana”. Concluiu, convidando-os a fazer da interioridade, unidade, amor e alegria os “pontos cardeais” de sua missão para com os seus alunos.
Fonte: Vatican News






