Na Córsega, Papa propõe ‘laicidade saudável’ e alerta para instrumentalização da fé popular

Vatican Media

Recordando que o Mar Mediterrâneo é, historicamente, um canal de encontro entre muitos povos do Oriente e do Ocidente, o Papa Francisco viajou até a Córsega no domingo, 15. O principal motivo da viagem de um dia à ilha francesa foi participar da conclusão de um congresso sobre a piedade popular nos países mediterrâneos.

Francisco deixou uma mensagem de unidade, pediu paz no mundo, em especial na Ucrânia e no Oriente Médio, e propôs uma “laicidade saudável” no que diz respeito à relação entre Estado e religião. Também fez um alerta sobre a instrumentalização da fé popular por líderes políticos.

Ele também se reuniu com as autoridades civis – entre elas o presidente Emmanuel Macron – e eclesiásticas locais. Na maior parte do tempo, Francisco foi acompanhado pelo Cardeal François-Xavier Bustillo, O.F.M.Conv., Bispo de Ajácio, capital da Córsega. Na Praça de Austerlitz, ele presidiu a missa do 3° domingo do Advento.

Laicidade saudável

“Em alguns momentos da história, a fé cristã informou a vida dos povos e as suas próprias instituições políticas. Já hoje, especialmente nos países europeus, a questão sobre de Deus parece se enfraquecer, e se descobre sempre mais indiferentes em relação à presença da sua Palavra”, refletiu o Papa no encerramento do congresso.

Francisco afirmou ser um erro contrapor a cultura cristã à cultura laica: “Ao contrário, é importante reconhecer uma recíproca abertura entre esses dois horizontes. Os que creem se abrem sempre com maior serenidade à possibilidade de viver a própria fé sem impô-la, vivê-la como fermento na massa do mundo e dos ambientes em que se encontram.”


Sobre os que não creem ou aqueles que estão afastados da prática religiosa, Francisco acrescentou que eles “não são estranhos à busca pela verdade, a justiça e a solidariedade e, frequentemente, mesmo não pertencendo a religião alguma, levam no coração uma sede maior, uma questão de sentido que lhe conduz a interrogar o mistério da vida e a busca valores fundamentais para o bem comum.”

Instrumentalização da fé

Francisco afirmou que a piedade popular é uma forma de “encarnar” a fé na cultura e transmiti-la perenemente, mas alertou: “Temos de estar atentos para que a piedade popular não seja usada, instrumentalizada por agregações que querem reforçar a própria identidade em modo polêmico, alimentando os particularismos, as contraposições, os comportamentos excludentes”.

“Tudo isso não responde ao espírito cristão da piedade popular e chama todos à causa, de modo especial os pastores, a vigilar, discernir e promover uma contínua atenção sobre formas populares da vida religiosa”, disse ainda.
O Papa também lembrou que o conceito de “Estado laico” ou da laicidade das instituições civis deve ser dinâmico, “evolutivo”, para se adaptar às situações novas, diferentes e imprevisíveis.

A “saudável laicidade” é algo que já havia sido apresentado por Bento XVI quando afirmava que “uma tal laicidade saudável garante à política de operar sem instrumentalizar a religião, e à religião de viver livremente sem pesar demais com a política ditada pelo interesse, e às vezes pouco conforme, ou até mesmo contrário, às crenças religiosas”.

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