Na encíclica Dilexit nos, Papa critica individualismo e reflete sobre o amor e o coração de Jesus

Papa diz ser essencial para a vida cristã a devoção ao Sagrado Coração de Cristo, ‘um compêndio do Evangelho’
Vatican Media/Arquivo

Um texto de teologia espiritual aplicado à vida do cristão da atualidade, a quarta encíclica do Papa Francisco Dilexit nos (“Ele nos amou”, na tradução em português) vem sendo lida como uma profunda reflexão do Pontífice sobre amor de Cristo pela humanidade, historicamente sintetizada na devoção ao coração de Jesus. Também é uma forte crítica à sociedade individualista e consumista, que “parece ter perdido o seu coração”, diz o texto.

Publicada durante o Sínodo sobre a sinodalidade, na quinta-feira, 24, o documento havia sido anunciado pelo Papa em junho na forma de uma exortação apostólica. Entretanto, o texto ganhou corpo e acabou virando uma carta encíclica, o tipo de documento pontifício mais importante. Francisco se inspirou na devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que completa 350 anos desde as aparições relatadas por Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673.

O texto se dirige a um mundo dilacerado por guerras, violências, desigualdades, atentados contra a “casa comum”, a Criação divina, e um uso desgovernado da tecnologia para interesses políticos e econômicos de poucos. É a quarta encíclica de Francisco, depois de Lumen Fidei (2013), Laudato si’ (2015) e Fratelli tutti (2020).

Ele nos amou

A frase que dá título à encíclica vem da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8,37), na qual o apóstolo afirma que nada “pode nos separar” do amor de Cristo. (Rm 8,39). O Papa Francisco diz, em seu documento, que o coração de Cristo é uma “síntese do Evangelho”,  está sempre aberto, nos precede e nos espera incondicionalmente, sem exigir nenhum requisito prévio para nos amar. 

Graças a Jesus, “chegamos a conhecer e a crer no amor que Deus tem por nós“ (1 Jo 4,16), diz o Papa Francisco. É preciso superar um Cristianismo que esqueceu “a ternura da fé, a alegria da dedicação ao serviço, o fervor da missão de pessoa para pessoa” e, reconhecendo-se amados por Cristo, poder amar os outros na mesma medida.

“Jesus espera hoje que você lhe dê a possibilidade de iluminar a sua existência, de erguer-te, de encher-te com a sua força”, escreve o Bispo de Roma. “Porque, antes de morrer, Ele disse aos seus discípulos: ‘Não os deixarei órfãos; Eu voltarei para vocês! Ainda um pouco e o mundo já não me verá; vocês é que me verão’ (Jo 14,18-19). Ele consegue sempre uma maneira para se manifestar na sua vida, para que você o possa encontrar.”

A devoção ao coração de Jesus não é apenas uma devoção, explica o Papa, mas uma manifestação de adesão completa a Cristo como Deus e Senhor. “A devoção ao Coração de Cristo é essencial para a nossa vida cristã, na medida em que significa a nossa abertura, cheia de fé e de adoração, ao mistério do amor divino e humano do Senhor, até ao ponto de podermos voltar a afirmar que o Sagrado Coração é um compêndio do Evangelho”, afirma.

O mundo pode mudar

Trata-se de estabelecer uma relação direta com Cristo, ligada por meio do coração. Essa é a única forma, diz o Papa, de estabelecer um “vínculo autêntico, porque um relacionamento que não é construído com o coração é incapaz de superar a fragmentação do individualismo”, específica. 

Essa espiritualidade, difundida por santos como Santo Inácio de Loyola e São João Henrique Newman, como relata o documento, nos ensina que “diante do Coração de Jesus, vivo e presente, a nossa mente, iluminada pelo Espírito, compreende as palavras de Jesus”.

Essa visão de alguns santos não é algo que os fiéis cristãos sejam obrigados a acreditar como se fossem a Palavra de Deus, mas o Papa nos convida a renovar a devoção ao Coração de Cristo também para combater “as novas manifestações de uma ‘espiritualidade sem carne’ que estão se multiplicando na sociedade”.

Coração missionário

É necessário retornar à “síntese encarnada do Evangelho” diante de “comunidades e pastores concentrados apenas em atividades externas, reformas estruturais desprovidas de Evangelho, organizações obsessivas, projetos mundanos, pensamento secularizado, em várias propostas apresentadas como exigências que, às vezes, pretendem impor a todos”.

O coração de Cristo nos estimula a estabelecer uma relação com os irmãos e irmãs, diz o Papa, com atenção especial aos mais necessitados. A encíclica recorda, citando São João Paulo II, que a consagração ao coração de Cristo “deve ser comparada à ação missionária da própria Igreja, porque responde ao desejo do coração de Jesus de propagar no mundo, por meio dos membros de seu Corpo, sua total dedicação ao Reino”.

Desse modo, por meio dos cristãos, “o amor será derramado no coração das pessoas, de modo que os cristãos possam edificar o Corpo de Cristo, que é a Igreja, e construir uma sociedade de justiça, paz e fraternidade”. Nesse sentido, precisamos de “missionários no amor, que ainda se deixem conquistar por Cristo”, escreve o Papa Francisco.

*Com trechos da síntese do Vatican News

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