Nesta noite de Natal, “em meio ao deslumbramento dos pobres e ao canto dos anjos, o céu se abre para a terra: Deus se tornou um de nós para nos tornar semelhantes a Ele”, disse o Papa Francisco. Cristo é “nossa esperança”, definiu ele na homilia. É esse o espírito com que se abrem também as portas da Igreja neste novo ano jubilar, o de 2025.
Antes de iniciar a celebração do Natal, na terça-feira, 24, o Santo Padre declarou o início do Jubileu da Esperança e, sentado em sua cadeira de rodas, abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Antes de abri-la, o Pontífice pronunciou a seguinte oração, em latim:
“Ó Cristo, estrela radiante da manhã, encarnação do infinito amor, salvação sempre invocada e sempre aguardada, única esperança do mundo, ilumina com o teu esplendor os nossos corações. Neste tempo de graça e de reconciliação, faz com que nos confiemos unicamente à tua misericórdia para encontrar o caminho que conduz ao Pai. Abre os nossos corações à ação do Espírito Santo, para que ele dobre a dureza dos corações, de modo que os inimigos se abram ao diálogo, os adversários apertem-se as mãos, e os povos se encontrem na concórdia. Dá à Igreja a missão de testemunhar com fidelidade o teu amor, para que ela resplandeça como sinal da bem-aventurada esperança do Reino. Tu, que vives e reinas pelos séculos dos séculos.”
Após abri-la, o Pontífice se deteve em um momento de oração silenciosa e ingressou no átrio da Basílica pela Porta Santa, em meio ao badalar dos sinos. Na sequência, também o fizeram 54 fiéis leigos dos cinco continentes e os cardeais e bispos concelebrantes.
PORTAS ABERTAS
Celebrado normalmente a cada 25 anos, o ano jubilar é um período especial de oração, penitência e graças na vida da Igreja.
No documento que instituiu o atual Jubileu, a bula Spes non confundit, o Papa Francisco declarou que o início deste ano é uma oportunidade para a Igreja abrir suas portas e “oferecer a experiência do amor de Deus, que desperta no coração a esperança certa da salvação em Cristo”.
Além dos jubileus “ordinários”, como o deste ano, existem também os jubileus “extraordinários”, convocados pelo Pontífice quando ele considera necessário – foi o caso do Jubileu da Misericórdia, de 2016.
A abertura da Porta Santa, diz o livreto da celebração desta noite de Natal, “é um sinal da passagem salvífica aberta por Cristo com sua encarnação, morte e ressurreição, chamando todos a se reconciliarem com Deus e com o próximo”.
A abertura de suas portas é, portanto, um convite para tomar o único caminho para a salvação, afirma o texto, “o Senhor Jesus, mediador entre Deus e o ser humano”.
O rico símbolo da Porta Santa se torna ainda mais evidente na Noite de Natal. Em sua pregação, o Papa Francisco recordou que Cristo é o “Deus conosco”, um Deus que se faz humano e presente no meio de nós.
“O infinitamente grande se tornou pequeno; a luz divina brilhou nas trevas do mundo; a glória do céu apareceu na terra, na pequenez de uma criança. E se Deus vem, mesmo quando nossos corações se assemelham a uma pobre manjedoura, então podemos dizer: a esperança não está morta, a esperança está viva e envolve nossas vidas para sempre!”, disse.
CORAGEM PARA MUDAR
Se a esperança é um dom, nesta noite de Natal Deus abre suas portas, cheias de esperança, sobre o mundo. “Esta é a noite em que Deus diz a cada um de nós: existe esperança também para você”, completou Francisco.
Para acolher esse dom, é preciso manter-se em caminho, como os pastores da noite de Belém, rumo ao encontro com o Senhor, de forma ativa, confiante, sem “mediocridade ou preguiça”.
É preciso ter “coragem para mudar”, alertou o Bispo de Roma, deixar-se “inquietar pelo sonho de Deus, o sonho de um novo mundo onde reinam a paz e a justiça”.
A esperança cristã não permanece parada, em sua zona de conforto. Pelo contrário, afirma o Papa, “ao mesmo tempo em que ela nos convida à espera paciente para que o Reino germine e cresça, exige de nós a audácia de antecipar essa promessa hoje, por meio de nossa responsabilidade e compaixão”.
Neste Jubileu, tempo de esperança, o Papa Francisco convidou os cristãos a uma “renovação espiritual”, mas com os pés no chão, firmes na realidade do mundo.
“Seja [esperança] pela nossa mãe Terra, desfigurada pela lógica do lucro; seja pelos países mais pobres, sobrecarregados por dívidas injustas; seja por todos aqueles que são prisioneiros da velha e da nova escravidão”, exemplificou.
O Pontífice concluiu sua fala com as seguintes palavras, dedicadas a cada pessoa de fé: “Jesus, Deus conosco, nasceu para você, para nós, para cada homem e mulher. E com Ele a alegria floresce, com Ele a vida muda, com Ele a esperança não decepciona.”
Conforme informações da Santa Sé, cerca de 6 mil pessoas participaram da missa na Basílica, e outras 25 mil na Praça de São Pedro.
O JUBILEU NAS DIOCESES E OUTRAS PORTAS SANTAS EM ROMA
Além da abertura da Portas Santa na Basílica de São Pedro, na quinta-feira, 26, o Papa abrirá a Porta Santa na Prisão de Rebibbia Nuovo Complesso, às 5h no horário de Brasília.
Também serão abertas portas santas nas outras três basílicas papais de Roma: São João de Latrão, em 29 de dezembro; Santa Maria Maior, em 1º de janeiro; São Paulo Fora dos Muros em 5 de janeiro. Os arciprestes das respectivas Basílicas realizarão o rito.
Já no domingo, 29, em todas as catedrais e cocatedrais do mundo, os bispos deverão celebrar a Eucaristia como abertura solene do Ano Jubilar. Na Arquidiocese de São Paulo, o Cardeal Scherer presidirá a missa às 15h, na Catedral da Sé, que será precedida de uma breve procissão a partir do Largo São Francisco, na região central da cidade.