Disse o Papa Francisco em encontro com a comunidade católica em Qaraqosh neste domingo, 7, quando rezou o Angelus
Como parte de sua visita apostólica ao Iraque – a 33a internacional de seu pontificado –, o Papa Francisco encontrou-se na manhã deste domingo, 7, com a comunidade católica na cidade de Qaraqosh e rezou o Angelus na Igreja da Imaculada Conceição.
A alegria vista entre os fiéis era motivada especialmente pela presença do Pontífice, mas não só: há um ano, este templo foi restaurado, após ter sido vandalizado, profanado e queimado pelo Estado Islâmico em agosto de 2014. Parte da torre do sino foi derrubada, estátuas decapitadas, a igreja incendiada, móveis, registros e livros sagrados jogados em uma fogueira.
No templo em que Francisco esteve nesta manhã, uma nova estátua de Nossa Senhora foi erguida na torre do sino restaurada, as paredes pretas de fuligem e as colunas de mármore foram limpas, e uma imagem de dois metros de altura de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi colocada sobre o altar.
Essa história de superação foi recordada ao Papa pelo Patriarca de Antioquia dos Sírios, Sua Beatitude Ignace Youssif Younan; pelo Padre Ammar Yako e também pela paroquiana Doha Sabah Abdallah.
“Vejo a diversidade cultural e religiosa do povo de Qaraqosh, e isto mostra algo da beleza que a vossa região tem para oferecer ao futuro. A vossa presença aqui lembra que a beleza não é monocromática, mas resplandece pela variedade e as diferenças”, disse o Papa.
O Pontiífice, lembrou, porém, que os sinais ao redor não são apenas de beleza, mas, também, do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra. No entanto, sempre é tempo de reconstrução.
“Este nosso encontro demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra. A última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte. Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”.
HERANÇA ESPIRITUAL E RECONSTRUÇÃO
O Papa recordou aos fiéis que naquele lugar podiam verificar a herança espiritual deixada por seus pais e que nisto devem encontrar forças para seguir a testemunhar a fé: “Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos. Não estais sozinhos. Solidária convosco está a Igreja inteira, com a oração e a caridade concreta”.
A reconstrução não se limita a reerguer edifícios, mas, antes, “os laços que unem comunidades e famílias, jovens e idosos”, afirmou, ressaltando que neste encontro de gerações, “os idosos sonham; sonham um futuro para os jovens. E os jovens podem recolher estes sonhos e profetizar, realizá-los. Quando os idosos e os jovens se unem, preservamos e transmitimos os dons que Deus nos oferece. Olhamos para os nossos filhos, sabendo que herdarão não apenas uma terra, uma cultura e uma tradição, mas, também, os frutos vivos da fé, que são as bênçãos de Deus sobre esta terra”.
E ainda que o caminho pareça difícil, em razão das fragilidades humanas, ainda que, erroneamente, o homem possa ter a impressão de que Deus está indiferente aos clamores humanos, como nas situações extremas vistas na atual pandemia, “nestes momentos, lembrai-vos que Jesus está ao vosso lado. Não deixeis de sonhar. Não desistais, não percais a esperança”.
O CRISTÃO PERDOA
Recordando o discurso que ouviu da senhora Doha Sabah sobre a necessidade de que aqueles que sobreviveram aos ataques possam perdoar seus perseguidores, Francisco ressaltou: “Perdão. Esta é uma palavra-chave. O perdão é necessário para permanecer no amor, para se permanecer cristão. O caminho para uma cura plena poderia ainda ser longo, mas peço-vos, por favor, que não desanimeis”.
“É preciso capacidade de perdoar e, ao mesmo tempo, coragem de lutar. Sei que isto é muito difícil. Acreditamos, porém, que Deus pode trazer a paz a esta terra. Confiamos n’Ele e, unidos a todas as pessoas de boa vontade, dizemos ‘não’ ao terrorismo e à instrumentalização da religião”, prosseguiu o Pontífice.
CONVERSÃO
O Papa também rezou para que Deus conceda “paz, perdão e fraternidade a esta terra e ao seu povo” e fez um pedido especial: “Não nos cansemos de rezar pela conversão dos corações e pelo triunfo de uma cultura da vida, da reconciliação e do amor fraterno, no respeito pelas diferenças, pelas diversas tradições religiosas, no esforço por construir um futuro de unidade e colaboração entre todas as pessoas de boa vontade”.
O Papa recordou, ainda, que a igreja conta com a proteção de Nossa Senhora e falou sobre a imagem da Imaculada Conceição colocada no teto do templo: “Aqui a sua estátua foi danificada e espezinhada, mas o rosto da Mãe de Deus continua a olhar-nos com ternura. Porque é assim que fazem as mães: consolam, confortam, dão vida”.
Por fim, fez uma particular saudação às mulheres: “Gostaria de agradecer cordialmente a todas as mães e mulheres deste país, mulheres corajosas que continuam a dar vida não obstante os abusos e as feridas. Que as mulheres sejam respeitadas e protegidas! Que lhes sejam dadas atenção e oportunidades!”.
Ainda neste domingo, o Papa Francisco presidirá missa no Estádio Franso Hariri, em Erbil. Pela manhã, ele esteve em Mosul, onde rezou pelas vítimas da guerra no Iraque.
(Com informações da Vatican News)