Novos cardeais: ‘testemunhas da fraternidade, artesãos da comunhão e construtores da unidade’

Fotos: Vatican Media

O Papa Francisco presidiu no sábado, 7, o décimo consistório de seu pontificado, ocasião em que criou 21 cardeais para a Igreja, entre os quais o brasileiro Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Cerca de 5,5 mil fiéis acompanharam a cerimônia de criação dos 21 cardeais na Basílica de São Pedro, no Vaticano, dos quais 11 são europeus, seis do continente americano, três asiáticos e um africano. Agora o colégio cardinalício conta com 253 cardeais, dos quais 140 são eleitores e 113 não eleitores.

‘QUE NOSSO CORAÇÃO NÃO SE PERCA’

Na homilia da missa, o Papa recomendou aos fiéis e ao colégio cardinalício que estejam atentos para que o coração não se perca pelo caminho por deixar se vislumbrar “pelo fascínio do prestígio, pela sedução do poder, por um entusiasmo demasiado humano pelo Senhor. Por isso, é importante olhar para o nosso interior, colocar-nos humildemente diante de Deus e honestamente diante de nós mesmos, e nos perguntar: Para onde está indo o meu coração? Em que direção ele está se movendo? Talvez esteja indo na direção errada?”.

O Pontífice destacou ser fundamental fazer com que o coração se volte para o caminho de Jesus e fez uma recomendação especial aos novos cardeais: “caros irmãos que recebeis o cardinalato, eu gostaria de dizer: tende o cuidado de caminhar na estrada de Jesus”, destacando, que este caminhar significa, acima de tudo, “voltar para Ele e recolocá-Lo no centro de tudo”, tanto na vida espiritual quanto na vida pastoral.

“Com muita frequência, coisas secundárias tomam o lugar do que é indispensável, as superficialidades prevalecem sobre o que realmente importa, mergulhamos em atividades que consideramos urgentes, sem conseguir chegar ao coração. Em vez disso, temos sempre a necessidade de voltar ao centro, de recuperar o fundamento, de despojar-nos do que é supérfluo para nos revestirmos de Cristo (cf. Rm 13, 14)”, prosseguiu Francisco, lembrando, ainda que a palavra “cardeal” indica “o pivô no qual é inserida a dobradiça de uma porta: é um ponto firme de apoio e de sustentação. Assim sendo, caros irmãos, Jesus é o ponto de apoio fundamental, o centro de gravidade de nosso serviço, o ‘ponto cardeal’ que orienta toda a nossa vida”.

ENCONTRAR OS ROSTOS MARCADOS PELO SOFRIMENTO

Francisco também lembrou que o caminhar na estrada de Jesus envolve cultivar a paixão do encontro, não estando isolado dos acontecimentos do mundo, com especial atenção aos que mais sofrem

“Ao longo do caminho, o Senhor encontra os rostos das pessoas marcadas pelo sofrimento, aproxima-se daqueles que perderam a esperança, levanta os que caíram, cura os que estão doentes. Os caminhos de Jesus estão repletos de rostos e histórias e, ao passar, Ele enxuga as lágrimas dos que choram, ‘cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas’ (Sl 147,3). A aventura do caminhar, a alegria de encontrar os outros, o cuidado com os mais frágeis: isso deve animar o vosso serviço como cardeais”, prosseguiu o Pontífice.

CONSTRUIR A COMUNHÃO E A UNIDADE

O Santo Padre falou ainda de outra dimensão dos que caminham na estrada de Jesus: ser construtores de comunhão e unidade.

“Enquanto no grupo de discípulos a traça da competição destrói a unidade, o caminho que Jesus percorre O leva ao Calvário. E na cruz, Ele cumpre a missão que Lhe foi confiada: que ninguém se perca (cf. Jo 6,39), que o muro da inimizade seja finalmente derrubado (cf. Ef 2,14) e que todos descubramos que somos filhos do mesmo Pai e irmãos entre nós. Portanto, lançando seu olhar sobre vocês, que vêm de diferentes histórias e culturas e representam a catolicidade da Igreja, o Senhor os chama a serem testemunhas da fraternidade, artesãos da comunhão e construtores da unidade”.

Francisco fez ainda menção a uma alocução de São Paulo VI, de 27 de junho de 1977 a um grupo de novos cardeais, na qual aquele Papa expressou o desejo de que “todos se sintam à vontade na família eclesial, sem exclusivismos ou isolamentos nocivos que prejudicam a unidade na caridade, e desejamos que não se procure favorecer alguns à custa de outros. […] devemos nós trabalhar, orar, sofrer e lutar para dar testemunho a Cristo ressuscitado”.

Por fim, o Papa Francisco lembrou que Jesus pediu a seus discípulos que não sigam a lógica da competição corrosiva, mas sim o caminho proposto por Cristo: “É como se Ele estivesse dizendo: vinde atrás de mim, no meu caminho, e sereis diferentes; sereis um sinal luminoso em uma sociedade obcecada pela aparência e pela busca dos primeiros lugares”. Por fim, exortou: “Na estrada de Jesus, vamos caminhar juntos. Com humildade, com admiração, com alegria”.

O RITO DE CRIAÇÃO DOS CARDEAIS

A celebração começou com o canto Tu es Petrus e as palavras de agradecimento a Francisco pronunciadas pelo primeiro cardeal da lista, Angelo Acerbi, ex-núncio apostólico.

Em seguida, o Papa pronunciou a fórmula para a criação dos novos purpurados, que juraram fidelidade e obediência ao Pontífice e a seus sucessores “até o derramamento de sangue”. Um a um eles se aproximaram da sede do Papa para receber os símbolos do cardinalato de joelhos: solidéu vermelho, barrete, anel e a atribuição a um Título ou Diaconia. Após, todos receberam o abraço de paz de Francisco.

Dom Jaime Spengler, por exemplo, recebeu o título da Igreja de São Gregorio Magno alla Magliana Nuova, que está localizada no bairro Portuense, em Roma.

O título cardinalício, diferentemente do cargo eclesiástico específico a que um cardeal pode ser chamado, é vitalício e simboliza a participação do cardeal no clero romano e a unidade do Colégio de Cardeais como um instrumento de apoio à atividade pastoral do Bispo de Roma: o Papa.

(Com informações de Vatican News)

CORRESPONDENTE DO O SÃO PAULO ANALISA O MAIS RECENTE CONSISTÓRIO

Filipe Domingues, correspondente do O SÃO PAULO em Roma

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