O artista tem a missão de ajudar a humanidade a não perder o horizonte da esperança

Escreveu o Papa Francisco aos participantes do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, realizado em Roma

Vatican Media

Em tempos de crise “da alma” e “de significado”, o artista tem a missão de “ajudar a humanidade a não perder a di­reção, a não perder o horizonte da espe­rança”. Assim afirmou o Papa Francisco em homilia endereçada aos participantes do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura. O texto foi lido pelo Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, que presidiu a missa do domingo, 16, na Basílica de São Pedro, na ausência do Pontífice, por motivos de saúde.

Durante o Ano Jubilar, grupos de peregrinos representando diferentes ca­tegorias da Igreja e da sociedade civil se organizam para visitar os lugares santos de Roma e passar pelas portas santas das basílicas papais. Neste caso, o Jubileu dos Artistas foi coordenado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação.

SOBRE AS BEM-AVENTURANÇAS

A reflexão do pregador foi sobre o Evangelho que narra as bem-aventu­ranças (cf. Lc 6,20-21). O texto do Papa explica que os artistas e profissionais da cultura têm o dever especial de partici­par da construção de um mundo melhor por meio do olhar e do espírito aberto às mazelas do mundo, e de levar esperan­ça aonde for possível. “Educar à beleza é educar à esperança”, diz o Papa.

“A verdadeira esperança está entrela­çada com o drama da existência huma­na”, afirma. “Não é um refúgio confortá­vel, mas um fogo que queima e ilumina, como a Palavra de Deus. É por isso que a arte autêntica é sempre um encontro com o mistério, com a beleza que nos ul­trapassa, com a dor que nos questiona, com a verdade que nos chama.”

Os artistas, homens e mulheres com particular sensibilidade sobre a realidade do mundo, são chamados a “iluminar a estrada” para os outros. “Queridos artis­tas, vejo em vocês guardiões da beleza que sabe como se inclinar sobre as feri­das do mundo, que sabe como ouvir o clamor dos pobres, dos sofredores, dos feridos, dos presos, dos perseguidos, dos refugiados”, disse.

“Vejo em vocês os guardiões das bem-aventuranças! Vivemos em uma época em que novos muros estão sen­do erguidos, quando as diferenças se tornam um pretexto para a divisão em vez de uma oportunidade para o enri­quecimento mútuo. Mas vocês, homens e mulheres de cultura, são chamados a construir pontes, a criar espaços para o encontro e o diálogo, a iluminar mentes e aquecer corações”, prossegue o Papa.

ATIVIDADES DO JUBILEU

O Jubileu dos Artistas foi realizado em Roma entre 15 e 18 de fevereiro. “O convite do Santo Padre”, explicou o Car­deal José Tolentino de Mendonça, em coletiva de imprensa, “reforça a consci­ência de que a esperança é uma experi­ência antropológica global, que pulsa no coração de cada cultura e que dá a todas elas a possibilidade de diálogo”.

Em suas palavras, “devemos ouvir o que as diferentes culturas têm a dizer sobre a esperança e o desafio concreto, lançado com urgência, é dar vida a oportunidades criativas que permitam a cada pessoa rea­nimar a esperança”, disse o Cardeal.

Um dos aspectos mais fortes deste Jubileu dos Artistas é que ele assumiu a forma de um grande encontro mundial, reunindo mais de dez mil participan­tes provenientes de mais de 100 nações dos cinco continentes, de acordo com o Dicastério.

ITINERÁRIO CULTURAL

Como parte das atividades, uma ins­talação sonora na Basílica de São Pedro permitiu, após a missa, que os peregri­nos realizassem um percurso de contem­plação espiritual. Além da passagem pela porta santa da Basílica, os participantes foram convidados a realizar um itinerá­rio espiritual e cultural, organizado pelo Dicastério Um encontro organizado pelo Museu do Vaticano reuniu representantes de al­guns dos museus mais importantes do mundo, demonstrando a intenção dos organizadores de levar o Jubileu também aos operadores e administradores do mundo da arte.

O itinerário também previu uma exposição de obras de arte com o tema da esperança, realizadas pela artista Yan Pei-Ming, que retratou internos da pri­são Regina Coeli, em Roma. Lina Di Domenico, Chefe do Departamento de Administração Penitenciária do Minis­tério da Justiça da República da Itália, expressou, em coletiva de imprensa, a “grande satisfação, mas também emo­ção, por esta nova iniciativa do programa de arte contemporânea que, por ocasião do Jubileu 2025, prevê vários pontos de contato com o mundo das prisões, con­firmando a colaboração profícua e pro­funda entre a Santa Sé e a Administração Penitenciária”.

Os rostos retratados pelo artista Pei­-Ming foram projetados na fachada do cárcere e, segundo Di Domenico, per­mitirão que todos “vejam” uma parte da humanidade que vive além desses muros.

Também estava prevista uma visita do Papa Francisco aos estúdios cinema­tográficos de Cinecittà, o mais famoso da Itália e operativo há décadas. Ali o Santo Padre deveria encontrar artistas de gran­de relevo e entrar em diálogo com eles, mas sua internação, por uma doença res­piratória, o impediu de participar.

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