A esperança, uma das três virtudes teologais juntamente com a fé e a caridade, ocupa um papel central na vida cristã. Mas o que significa, de fato, viver a esperança cristã?
Para compreendê-la, é possível recorrer aos ensinamentos fundamentais da Igreja Católica, aos escritos de santos e doutores da Igreja, bem como a documentos do magistério pontifício.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que a esperança é o desejo do bem supremo, que é a vida eterna junto de Deus. Essa virtude nasce da fé nas promessas divinas e fortalece o fiel na confiança na graça de Deus, mesmo diante das adversidades. No Catecismo, lê-se: “A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a vida eterna, colocando nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (CIC 1817).
“A esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna”, continua o Catecismo, ressaltando que “o ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.” (CIC 1818).
Santos e doutores da Igreja também foram mestres em vivenciar e ensinar a esperança. Para Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, a esperança está intimamente ligada à fé, pois é por meio dela que se confia em Deus como a fonte do bem último (II-II, q.17). Santo Agostinho, em “A Cidade de Deus”, descreve a esperança como a confiança na plena realização das promessas divinas.
O VERBO ENCARNADO
A esperança encontra sua realização mais concreta na pessoa de Jesus Cristo, especialmente no mistério da Encarnação. Quando o Verbo se fez carne (cf. Jo 1,14), Deus entrou na história humana para trazer salvação e restaurar a comunhão com a humanidade. O nascimento de Jesus é o cumprimento das promessas feitas ao longo de toda a história da salvação. Como destaca o Catecismo, o mistério da Encarnação revela a profundidade do amor de Deus (cf. CIC 461), e é esse amor que sustenta a esperança cristã, baseando-se no que diz a Escritura: “Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho Único, a fim de que todo o que Nele crer não pereça, mas tenha a Vida Eterna” (Jo 3,16).
A Encarnação também assegura que Deus caminha com a humanidade. Essa proximidade divina, manifestada na pessoa de Jesus, torna a esperança cristã uma força viva que sustenta o crente em todas as circunstâncias. A constituição pastoral Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, reforça que Jesus é o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações.
“Foi Ele [Jesus] que o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e colocou à sua direita, estabelecendo-o juiz dos vivos e dos mortos. Vivificados e reunidos no seu Espírito, caminhamos em direção à consumação da história humana, a qual corresponde plenamente ao seu desígnio de amor: ‘Recapitular todas as coisas em Cristo, tanto as do céu quanto as da terra’ (Ef 1,10)” (GS 45).
SALVAÇÃO
Na encíclica Spe salvi, o Papa Bento XVI oferece uma reflexão profunda sobre como a esperança molda a vida cristã. O texto destaca que a esperança não é uma espera passiva, mas uma força que impulsiona o fiel a agir no presente, movido pela confiança no futuro que Deus prometeu. Segundo o Pontífice, logo no início do documento, “a redenção nos foi oferecida no sentido de que nos foi dada a esperança, uma esperança confiável, por meio da qual podemos enfrentar o presente” (SS 1).
Na bula Spes non confundit, por meio da qual foi proclamado o Jubileu 2025, o Papa Francisco salienta que a esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do coração de Jesus trespassado na cruz. Para isso, recorda a Palavra de Deus: “‘Se, de fato, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida’ (Rm 5,10). E a sua vida manifesta-se na nossa vida de fé, que começa com o Batismo, desenvolve-se na docilidade à graça de Deus e é por isso animada pela esperança, sempre renovada e tornada inabalável pela ação do Espírito Santo”.
CONVITE À AÇÃO
A esperança cristã não é uma fuga da realidade, mas um convite à transformação do presente à luz das promessas divinas. Como sublinha a constituição dogmática Lumen gentium, “a prometida restauração que esperamos, já começou, pois, em Cristo, progride com a missão do Espírito Santo e, por Ele, continua na Igreja; nesta, a fé ensina-nos o sentido da nossa vida temporal, enquanto, na esperança dos bens futuros, levamos a cabo a missão que o Pai nos confiou no mundo e trabalhamos na nossa salvação (cf. Fl 2,12)”.
A esperança cristã, portanto, é mais do que uma virtude individual, é uma dimensão comunitária que transforma vidas. Confiando nas promessas de Deus, cada pessoa é chamada a viver com coragem e alegria, mesmo diante das prováveis tribulações, sustentada pela certeza de que Deus é fiel (cf. 1Cor 1,9). Essa esperança, alimentada pela oração e pela vivência sacramental, ensina a olhar para o futuro com confiança e a agir com amor no presente. Como diz o Salmo: “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no Senhor!” (Sl 31,24).