O que é um consistório?

Conheça a origem e o significado da reunião dos cardeais com o Papa, bem como os números do Colégio Cardinalício a partir do consistório de 30 de setembro de 2023

Foto: Vatican Media

O Consistório nada mais é do que a reunião dos cardeais com o Papa. Esse termo vem do latim consistorium, que é a junção das palavras con (junto) e sistere (parar ou ficar firme), que remonta à Roma Antiga, para designar o conselho privado do imperador formado por colaboradores mais próximos. 

Para entender seu significado, é preciso compreender quem são os cardeais. A palavra cardeal deriva do latim “cardo/cardinis”, em português “gonzo ou eixo”, algo que gira, neste caso, em torno do Papa. Os cardeais não apenas têm a missão de eleger o novo Pontífice em um eventual Conclave, o que já significa muito, como também constituem o corpo de conselheiros que colaboram com o Bispo de Roma na sua missão como pastor universal da Igreja. 

No passado, o Papa tinha como colaboradores alguns presbíteros responsáveis pelo cuidado das mais antigas igrejas de Roma, diáconos que administravam o Palácio de Latrão e os sete departamentos de Roma, e os bispos suburbicários, ou seja, das dioceses próximas de Roma. A partir dos colaboradores, nasceu o Colégio Cardinalício, com suas três ordens internas: os cardeais-bispos, os cardeais-presbíteros e os cardeais-diáconos. 

A partir do século XII, começaram a ser incluídos no Colégio Cardinalício também os prelados residentes fora de Roma, que, ao se tornarem cardeais, passaram a ser simbolicamente membros do clero da Diocese de Roma. 

Por haver esse vínculo histórico, os cardeais recebem o título de uma das igrejas romanas. Os cardeais-bispos são titulares das igrejas suburbicárias de Roma: Ostia, Albano, Frascati, Palestrina, Porto-Santa Rufina, Sabina-Poggio Mirteto e Velletri-Segni. Apesar de serem sete igrejas, o número de cardeais-bispos é seis, pois a titularidade da igreja de Ostia é reservada ao decano do colégio de cardeais. Os cardeais-diáconos cuidam das diaconias da cidade, residindo nela e servindo à Cúria Romana; e os cardeais-presbíteros são, em geral, bispos e arcebispos de diversas dioceses do mundo. 

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, foi criado cardeal pelo Papa Bento XVI no consistório de 24 de novembro de 2007. Ao explicar o significado do Colégio Cardinalício, Dom Odilo compara-o ao atual Colégio de Consultores que cada bispo possui em sua diocese. “Nesse sentido, na falta do Papa, seja por morte ou renúncia, esses conselheiros devem se reunir em Conclave para escolher um novo Bispo de Roma”, explicou. 

TIPOS 

Segundo o Direito Canônico, os consistórios se dividem em ordinários e extraordinários. Nos ordinários, são convocados todos os cardeais, ao menos os que se encontrem em Roma, a fim de serem consultados sobre certos assuntos importantes, em regras ocasionais, ou para a realização de alguns atos soleníssimos. Foi em um consistório como esse, por exemplo, que o Papa Emérito Bento XVI anunciou sua renúncia ao pontificado, em 11 de fevereiro de 2013. 

Para o Consistório extraordinário, que se celebra quando as necessidades peculiares da Igreja ou assuntos mais importantes o aconselharem, são convocados todos os cardeais. Um exemplo desse foi o convocado pelo Papa Francisco em fevereiro de 2014, para tratar do tema da família, em vista dos sínodos dos bispos daquele mesmo ano e de 2015. 

RITOS E SÍMBOLOS 

O Consistório para a criação de cardeais é o ordinário público, quando, além dos cardeais, são admitidas outras pessoas convidadas. Não se trata de uma missa, mas de uma celebração litúrgica constituída de uma saudação, oração e proclamação do Evangelho. Após a homilia do Santo Padre, os novos cardeais fazem a profissão de fé e o juramento de obediência à Igreja Católica na pessoa do Papa e de seus sucessores. 

Após esse ato, o Papa impõe sobre cada cardeal as insígnias próprias do cardinalato. O primeiro deles é o barrete, uma espécie de chapéu, que, assim como a veste do cardeal, é da cor vermelha ou púrpura. Como o próprio rito diz, é o “sinal da dignidade do cardinalato, significando que você deve estar pronto para se comportar com força, até o derramamento de sangue, para o aumento da fé cristã, pela paz e tranquilidade do povo de Deus e pela liberdade e difusão da Santa Igreja Romana”. 

Em seguida, o Papa entrega o anel a cada cardeal e diz: “Recebe o anel da mão de Pedro e sabe que com o amor do Príncipe dos Apóstolos se fortalece o teu amor pela Igreja”. 

Por fim, o Pontífice atribui ao cardeal uma igreja em Roma (título ou diaconia) como sinal de participação na pastoral do Papa na Diocese de Roma, e lhe entrega a bula de criação cardinalícia e da respectiva igreja titular. 

Depois de receberem as insígnias cardinalícias e serem saudados pelo Santo Padre com o abraço da paz, os novos cardeais são acolhidos pelos demais membros do Colégio Cardinalício. O rito é concluído com a oração do Pai-nosso. 

NÚMEROS 

A partir do consistório de 30 de setembro de 2023, o Colégio Cardinalício contará com 243 membros, dos quais, 137 com menos de 80 anos, portanto, eleitores em um eventual Conclave. Esse número cairá para 136 no dia seguinte, porque, em 1º de outubro, o Cardeal Patrick D. ‘Rozario, de Bangladesh completará 80 anos. Esse é um número recorde, que supera os 135 cardeais eleitores inscritos após o histórico consistório de João Paulo II em fevereiro de 2001. O número de cardeais eleitores, contudo, diminuirá para 132 no final do ano, e voltará abaixo do teto canônico de 120 – estabelecido por São Paulo VI – até o final de 2024, ano em que 13 cardeais completarão 80 anos.

Geograficamente, a Europa sobe para 115 cardeais dos 105 atuais, a América do Norte passa de 26 para 27, a América do Sul passa para 29 dos 24 iniciais, a Ásia passa de 30 para 32, a África finalmente passa de 24 para 27 cardeais.

CARDEAIS BRASILEIROS

Desde a criação do primeiro cardeal brasileiro, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante (1850-1930), então Arcebispo do Rio de Janeiro, em 1905, foram 24 brasileiros a integrarem o Colégio Cardinalício.

Atualmente, o Brasil tem sete cardeais, sendo seis deles com menos de 80 anos. Os atuais purpurados brasileiros, em ordem de criação, são:

  • Dom Odilo Pedro Scherer, 74, Arcebispo de São Paulo;
  • Dom Raymundo Damasceno Assis, 86, Arcebispo Emérito de Aparecida (SP);
  • Dom João Braz de Aviz, 76, Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Vaticano);
  • Dom Orani João Tempesta, 73, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro;
  • Dom Sergio da Rocha, 63, Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil;
  • Dom Leonardo Ulrich Steiner, 72, Arcebispo de Manaus (AM);
  • Dom Paulo Cezar Costa, 56, Arcebispo de Brasília (DF).

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