Para os católicos, o dia solene da Páscoa não se limita às 24 horas de um dia comum, mas se estende durante oito dias, que, liturgicamente, são considerados um único dia de celebração do acontecimento máximo do Cristianismo. Essa é a chamada Oitava da Páscoa.
Nesse período, proclama-se com júbilo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 118,24). Por essa razão, é comum que os cristãos saúdem as pessoas com os votos de “Feliz Páscoa”. Em muitas comunidades, ainda existe o costume de transmitir a saudação pascal de origem grega, na qual uma pessoa aclama: “Cristo ressuscitou! Aleluia!”, e a outra responde: “Verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!”.
Após esse longo dia solene, a Igreja ainda continua a comemorar a Ressurreição do Senhor no Tempo Pascal. Ao todo, são sete semanas que recordam a permanência do Ressuscitado com os apóstolos, aos quais transmitiu seus últimos ensinamentos. Nesse período, após 40 dias, Jesus subiu aos céus, na Ascensão gloriosa e, ao final dos 49 dias, enviou o Espírito Santo, em Pentecostes. Depois disso, retoma-se o Tempo Comum no calendário litúrgico.
Leituras e símbolos
Os Evangelhos dessa semana estão centrados nos relatos das aparições de Jesus Ressuscitado e nas experiências que os apóstolos tiveram com Ele. Nesse período, assim como em todo o Tempo Pascal, a primeira leitura, normalmente tirada do Antigo Testamento, é substituída por um trecho dos Atos dos Apóstolos, que narra a experiência da Igreja nascente após a Ressurreição.
O Círio Pascal, a grande vela que simboliza o Ressuscitado, aceso na Vigília Pascal, também é aceso nas celebrações da Oitava da Páscoa e do Tempo Pascal, sendo apagado apenas ao fim da Solenidade de Pentecostes.
A segunda-feira da Oitava da Páscoa, isto é, o primeiro dia após a Ressurreição, é também conhecida como a “Segunda-feira do Anjo”, em alusão ao Anjo que, no sepulcro vazio, anunciou às mulheres que Jesus havia ressuscitado.
Origem
As celebrações das oitavas têm sua origem na tradição judaica do Antigo Testamento, em que as festas e solenidades eram comemoradas por uma semana, como era o caso da Festa das Tendas (cf. Lv 23,33-44) ou a Festa da Dedicação (cf. 2Cr 7,9 e 1Mc 4,59).
Um primeiro significado do adjetivo latino octavus ou octava se refere ao domingo, que, nos tempos da Patrística, isto é, dos primeiros grandes teólogos da Igreja, era chamado de “dia primeiro” ou “dia oitavo”. Desse modo, “oitava” pode indicar tanto o oitavo dia depois da festa quanto toda a semana.
Na tradição católica, costumavam ser celebradas as oitavas das grandes solenidades. Páscoa e Pentecostes tinham oitavas de “privilégio especial”, durante as quais não poderiam ser celebradas nenhuma outra festa. Natal, Epifania e Corpus Christi tinham oitavas “privilegiadas”, durante as quais eram permitidas as celebrações de festas de grande importância. Também existiam as oitavas comuns, de solenidades como as da Imaculada Conceição, São José e Todos os Santos. As mais antigas eram as festas de São Pedro e São Paulo, São Lourenço e Santa Inês. Eram comemoradas, ainda, as oitavas das dedicações das igrejas e santos padroeiros de nações ou dioceses.
Reformas litúrgicas
Em 1955, o Papa Pio XII simplificou o calendário litúrgico, mantendo apenas as oitavas do Natal, Páscoa e Pentecostes. Em 1969, com a reforma decorrente do Concílio Vaticano II, foi retirada do calendário oficial a oitava de Pentecostes.
Portanto, atualmente, existe a oitava da Páscoa, a mais antiga, datada do século IV; e a do Natal, entre os dias 25 de dezembro e 1º de janeiro.
Domingo da misericórdia
A Oitava da Páscoa é concluída no 2º Domingo da Páscoa, também conhecido como In albis (que, em latim, quer dizer “em branco”), pois, segundo a tradição da Igreja nos primeiros séculos, era nesse dia que aqueles que recebiam o Batismo na Vigília Pascal tiravam as vestes brancas recebidas na ocasião.
Desde o ano 2000, o 2º Domingo da Páscoa é também chamado de Domingo da Divina Misericórdia, após uma disposição de São João Paulo II, na missa de canonização de Santa Faustina Kowalska, a religiosa polonesa que propagou essa devoção.
Ao instituir essa comemoração, o Papa Wojtyla atendia a um pedido do próprio Jesus, que, em 1931, manifestou a Santa Faustina, por meio de uma revelação mística particular, o desejo de que no primeiro domingo depois da Páscoa fosse celebrada a festa dedicada à Divina Misericórdia.
Regina Coeli
Durante todo o Tempo Pascal, os católicos entoam a Antífona Mariana do Regina Caeli ou Regina Coeli (Rainha do Céu), que remonta, provavelmente, ao período entre os séculos X e XI e associa o mistério da encarnação do Senhor com o evento pascal. Nesse período, essa oração substitui o tradicional Angelus, que costuma ser recitado ao meio-dia e às 18h. Leia, a seguir, essa oração:
Rainha do Céu, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!