Ir ao deserto para perceber a presença dos “animais selvagens” e anjos em nosso coração, e com o silêncio e a oração captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus.
Em síntese, esse foi o convite do Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro para o Angelus no 1o Domingo da Quaresma, dia 18.
O Evangelho de Marcos – que inspirou a reflexão de Francisco – narra que Jesus “ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás”, e também nós – observou o Papa – “somos convidados na Quaresma a ‘entrar no deserto’, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contato com a verdade”.
A leitura narra que “animais selvagens e anjos” eram a companhia de Jesus no deserto. Mas, em um sentido simbólico – explicou o Papa – “são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar ali animais selvagens e anjos”.
O Pontífice, então, explica o sentido desses animais selvagens: “Na vida espiritual, podemos pensar neles como as paixões desordenadas que dividem o nosso coração, tentando possuir o coração. Elas nos sugestionam, parecem sedutoras, mas, se não estivermos atentos, levam ao risco de nos dilacerar”.
E Francisco diz ainda que podemos dar nomes a esses “animais” da alma: “Os vários vícios, a ganância de riqueza, que aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que condena à inquietação e à solidão, e ainda também a avidez pela fama, que gera insegurança e uma necessidade contínua de confirmação e protagonismo. É interessante: não se esquecer dessas coisas que podemos encontrar dentro de nós: ganância, vaidade e avidez. São como animais ‘selvagens’ e como tais devem ser domesticados e combatidos: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma nos ajuda a entrar no deserto interior para corrigir essas coisas”.
O SERVIÇO EM OPOSIÇÃO À POSSE
Mas junto com Jesus no deserto, além dos “animais selvagens”, estavam também os anjos, “mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem”. E segundo o Evangelho, sua característica “é o serviço”.
“Exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço em oposição à posse. Os espíritos angélicos, em vez disso, recordam os pensamentos e bons sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unificam-nos e fazem-nos entrar em harmonia: acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, infundem ‘o sabor do Céu’. E para captar a inspiração de Deus e entender bem, é preciso entrar no silêncio e oração. E a Quaresma é tempo para fazer isso. Sigamos em frente”.
NO DESERTO, OUVIR A DEUS
Nestes primeiros passos do caminho quaresmal, o Papa propõe que façamo-nos duas perguntas:
“Primeiro: quais são as paixões desordenadas, os ‘animais selvagens’ que se agitam no meu coração? Segundo: para permitir que a voz de Deus fale ao meu coração e o guarde no bem, penso retirar-me um pouco para o ‘deserto’, ou procuro dedicar durante o dia algum espaço para repensar isso?”.
Ao concluir, o Papa pediu “que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no tempo da Quaresma”.
Fonte: Vatican News