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Papa aos 100 anos dos Serviços de Segurança da Itália: vigiar as informações pelo bem comum

Leão XIV recebeu cerca de mil dirigentes e funcionários do Sistema de Informação para a Segurança da República (SISR) e abordou as dimensões fundamentais do respeito aos direitos individuais das pessoas e da ética na comunicação: “é necessário vigiar com rigor para que as informações confidenciais não sejam utilizadas para intimidar, manipular, chantagear, desacreditar o serviço de políticos, jornalistas ou outros atores da sociedade civil. Tudo isso vale também para o âmbito eclesial”.

Vatican Media

O Papa Leão XIV recebeu na Sala das Bênçãos nesta sexta-feira, 12, cerca de mil dirigentes e funcionários do Sistema de Informação para a Segurança da República (SISR), uma das instituições na Itália que inspiram maior confiança dos cidadãos, segundo um relatório da Eurispes divulgado neste ano. Os serviços da Intelligence Italiana, sempre segundo dados da pesquisa, representam uma força positiva e próxima à comunidade, confirmando os esforços realizados por homens e mulheres durante 100 anos de atividades que começaram durante o fascismo e se transformaram em um dos principais instrumentos de defesa da democracia e da liberdade. Atuação italiana que também ultrapassou fronteiras, já que trabalha em outros países, como na Ucrânia, em Gaza e na África.

Garantir a dignidade da pessoa

“Era o ano de 1925 quando foi instituído o Serviço de Informações Militares e foram lançadas as bases para construir um sistema mais coordenado e eficaz, para a proteção da segurança do Estado”, recordou o próprio Papa Leão XIV ao iniciar o discurso, quando manifestou apreço pelo trabalho, que também é garantido para a Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano, “que exige competência, transparência e, ao mesmo tempo, confidencialidade. Isso lhes confere a grande responsabilidade de monitorar constantemente os perigos que podem surgir na vida da nação, para contribuir, acima de tudo, para a tutela da paz”, mas também “para antecipar eventuais cenários perigosos para a vida da sociedade”. 

Ao longo dos 100 anos, recordou o Pontífice, muitas mudanças foram registradas, além dos desafios que aumentaram. A esse respeito, Leão XIV convidou a realizar o trabalho diário “também com uma visão ética” em relação ao respeito pela dignidade da pessoa humana e à ética da comunicação. Sobre o primeiro ponto, o Papa alertou que, diante da exigência de perseguir o bem comum, corre-se o risco de esquecer de respeitar a dignidade e os direitos individuais. Em discurso, o Pontífice exortou equilíbrio nas funções, vigilância às tentações e “limites estabelecidos, de acordo com o critério da dignidade da pessoa”:

“Façam com que suas ações sejam sempre proporcionais ao bem comum a ser perseguido e que a tutela da segurança nacional garanta sempre e em qualquer caso os direitos das pessoas, a sua vida privada e familiar, a liberdade de consciência e de informação, o direito a um julgamento justo. Nesse sentido, é necessário que as atividades dos Serviços sejam regulamentadas por leis, devidamente promulgadas e publicadas, que sejam submetidas ao controle e à vigilância do poder judiciário e que os orçamentos sejam submetidos a controles públicos e transparentes.”

Vigiar as informações pela ética da comunicação

O segundo aspecto de reflexão do Papa diz respeito à ética da comunicação, sobretudo com a revolução digital que oferece maiores possibilidades, mas, ao mesmo tempo, nos expõe a perigos contínuos: fake news, exposição da vida privada, manipulação de vuneráveis, incitamento ao ódio e à violência. “Estou bem ciente do papel delicado e da responsabilidade a que são chamados”, afirmou Leão XIV, encorajando a prosseguir o trabalho sempre em vista o bem comum, “aprendendo a avaliar com discernimento e equilíbrio as diferentes situações que se apresentam diante de vocês e permanecendo firmemente ancorados nos princípios jurídicos e éticos que colocam acima de tudo a dignidade da pessoa humana”:

“É necessário vigiar com rigor para que as informações confidenciais não sejam utilizadas para intimidar, manipular, chantagear, desacreditar o serviço de políticos, jornalistas ou outros atores da sociedade civil. Tudo isso vale também para o âmbito eclesial. De fato, em vários países, a Igreja é vítima de serviços de intelligence que agem com fins não benéficos, oprimindo a liberdade. Esses riscos devem ser sempre avaliados e exigem uma elevada estatura moral daqueles que se preparam para desempenhar um trabalho como o de vocês e daqueles que o desempenham há muito tempo.”

Fonte: Vatican News

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