Educadores, estudantes e administradores de instituições educacionais participaram do Jubileu do Mundo da Educação. Leão XIV exortou os jovens a ‘humanizar o mundo digital, construindo-o como um espaço de fraternidade e criatividade’; e aos educadores lembrou que ‘compartilhar conhecimento não é suficiente para ensinar: é preciso amor’

Fotos: Vatican Media
Mais de 20 mil pessoas se reuniram em Roma durante o Jubileu do Mundo da Educação, envolvendo educadores, estudantes e administradores de diferentes “constelações” da educação católica.
Os participantes vieram de mais de 120 países, de acordo com o Dicastério para a Cultura e a Educação, que organizou esta etapa do Jubileu. Ao longo deste Ano Santo, diferentes grupos têm peregrinado ao Vaticano.
“Constelações de esperança” foi o lema deste Jubileu, associando o universo da educação católica ao espaço sideral, no qual milhões de estrelas formam uma realidade complexa, bonita e profunda. Cada “estrela” é um ponto de luz.

EXTENSA PROGRAMAÇÃO
Os eventos do Jubileu envolveram quatro momentos de encontro e oração com o Papa Leão XIV e quatro atividades paralelas, entre elas um congresso que durou o dia todo, na quinta-feira, 30 de outubro.
O Pontífice celebrou missa com os estudantes das universidades pontifícias de Roma em 27 de outubro, e depois novamente com todos os participantes do Jubileu, no sábado, dia 1°. Também realizou duas audiências públicas, uma destinada a estudantes e outra, a educadores.
Inspirando-se nos ensinamentos do Papa Francisco, que costumava dizer que a educação deve abranger “mente, coração e mãos”, o Dicastério organizou uma vigília de oração que durou dois dias, chamada de “Escola do Coração”, na qual diferentes grupos católicos se revezaram e organizaram momentos de meditação e oração na Igreja de São Lourenço em Piscibus, no Vaticano. Exposições e instalações artísticas deram ao Jubileu uma dimensão mais moderna e de diálogo com o mundo.
Outros dois fatos importantes foram celebrados neste Jubileu: o Papa declarou São John Henry Newman doutor da Igreja; e assinou e publicou a carta apostólica “Desenhar novos mapas de esperança”, que celebra os 60 anos do documento Gravissimum educationis, do Concílio Vaticano II, conforme já noticiado pelo O SÃO PAULO aqui.

CADA UM É UMA ESTRELA
“A verdadeira paz nasce quando muitas vidas, como estrelas, se unem e formam um desenho”, disse o Papa aos estudantes na quinta-feira, 30. “Juntos, podemos formar constelações educativas que orientem o caminho futuro.” Ele, que foi professor de Matemática na juventude, falou aos jovens: “Vocês também têm estrelas-guia: pais, professores, padres, bons amigos, bússolas para não se perderem nas alegrias e tristezas da vida. Como eles, vocês são chamados a se tornarem, por sua vez, testemunhas luminosas para aqueles que estão ao seu lado.”
O Santo Padre procurou incentivar os jovens a viver o mundo de hoje concretamente, e não somente pelas telas dos celulares. “A Inteligência Artificial também é uma grande novidade – uma das rerum novarum, ou seja, das coisas novas – do nosso tempo”, notou. “No entanto, não basta ser inteligente na realidade virtual, é preciso ser humano com os outros, cultivando uma inteligência emocional, espiritual, social e ecológica.” E disse, ainda: “Aprendam a humanizar o mundo digital, construindo-o como um espaço de fraternidade e criatividade, não como uma jaula onde se enclausurar, não como um vício ou uma fuga.”
Aos educadores, o Papa procurou incentivar o cultivo da vida interior, por meio da oração, de momentos de silêncio e de promoção da unidade. “Compartilhar conhecimento não é suficiente para ensinar: é preciso amor”, afirmou. Ele também fez um alerta sobre o impacto da tecnologia sobre a educação: “A Inteligência Artificial, em particular, com seu conhecimento técnico, frio e padronizado, pode isolar ainda mais os alunos já isolados, dando-lhes a ilusão de que não precisam dos outros ou, pior ainda, a sensação de que não são dignos deles”.
“O papel dos educadores, por outro lado, é um compromisso humano, e a própria alegria do processo educacional é totalmente humana.” Em outras palavras, “os verdadeiros mestres educam com um sorriso e sua aposta é conseguir despertar sorrisos no fundo da alma de seus discípulos.”

MAIS DE 70 MILHÕES DE ESTUDANTES
As escolas e universidades católicas têm hoje 71,2 milhões de alunos inscritos, de acordo com dados divulgados pelo Dicastério para a Cultura e a Educação durante o Jubileu, em palestra de Antonello Mariotti, professor de Estatística da universidade LUMSA, de Roma.
Enquanto na Ásia e na África as instituições de identidade católica são grandes e demonstram vigor no número elevado de alunos, na Europa elas são menores, mas têm a oportunidade de manifestar maior proximidade e personalização aos estudantes. “Precisamos de instrumentos diferentes para realidades específicas diferentes. O importante é que a Igreja está presente onde existe mais necessidade”, disse ele. “A escola católica é para todos. Sem educação católica não existiria educação no mundo”, completou.
Dom Carlo Maria Polvani, Secretário do Dicastério, disse que a finalidade da educação católica, segundo a Gravissimum educationis, é ajudar a acessar um direito de todo ser humano, que é o direito à educação – e que esse direito deve responder à vocação de cada pessoa, respeitando o contexto cultural e a individualidade de cada um.

EDUCAR DE FORA PRA DENTRO E VICE-VERSA
Como afirmou o filósofo e teólogo Francesc Torralba Roselló, professor na Universidade Ramon Llull, de Barcelona, na Espanha, cada pessoa é “chamada a ser alguma coisa” e, nas palavras de Santa Benedita da Cruz (Edith Stein), educar é “descobrir o que somos chamados a ser”.
Assim definiu o professor Torralba: “Educar é agir externamente para ajudar o discípulo a descobrir o que guarda dentro de si. Tudo é revelado. Enquanto Deus educa a partir de dentro – como dizia Santo Agostinho – o educador ensina a partir de fora.”
Para que a educação seja efetiva, refletiu ele, três elementos são essenciais: capacidade, desejo e esperança. Se, por um lado, é preciso desenvolver capacidades técnicas e práticas, “sem desejo a dinâmica educativa não se ativa” – e é fundamental despertar o desejo, identificando o chamado de cada pessoa. Já a esperança é uma virtude partilhada entre o estudante e o educador. “É a virtude do futuro, e opõe-se à imediatez. É a noção partilhada de que o processo educacional dará fruto”, acrescentou Torralba.






