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Papa Leão XIV comemora 70 anos em semana repleta de eventos públicos

@Vatican Media

Embora aparentemente tímido no caráter e no estilo, o Papa Leão XIV tem mantido sua agenda cheia. Ele não tem evitado atender pedidos de audiência e realizar eventos e celebrações públicas no Vaticano. E não foi diferente na semana do seu aniversário. No domingo, 14, ele comemorou 70 anos de idade. Trata-se do Papa mais jovem desde São João Paulo II, que tinha a mesma idade em 1992.

“Caríssimos, parece que vocês sabem, hoje completo 70 anos”, disse ele após a oração do Angelus. “Dou graças ao Senhor e aos meus pais; e agradeço a quantos ti­veram uma lembrança na oração. Muito obrigado a todos! Obrigado! Bom do­mingo!” Mais tarde, ele assoprou as velas e partiu um bolo em um pátio interno da Basílica de São Paulo Fora dos Muros – onde celebrou a memória dos mártires dos nossos tempos com líderes de outras igrejas cristãs (leia detalhes na página 19). Cardeais e outras autoridades cantaram os parabéns, e todos fizeram um brinde.

Liturgicamente, a data marcou a Fes­ta da Exaltação da Santa Cruz, algo que o Pontífice lembrou nesse momento. “É uma coincidência, ou talvez providência, que este servidor tenha nascido justa­mente na Festa da Exaltação da Santíssi­ma Cruz. Não posso separar as duas fes­tas, para dizer a verdade”, refletiu. “Mas é uma alegria encontrar a esperança, precisamente na missão. Desde o início da minha vocação, sempre busquei dizer simplesmente ‘Senhor, não a minha von­tade, mas a Sua.’”

Mais cedo, no Angelus, ele afirmou: “Deus nos salvou revelando-se a nós, ofe­recendo-se como nosso companheiro, mestre, médico e amigo, até tornar-se para nós Pão partido na Eucaristia. E, para re­alizar essa obra, serviu-se de um dos ins­trumentos de morte mais cruéis que o ser humano já inventou: a cruz.”

ENCONTRO COM NOVOS BISPOS

Na mesma semana, o Papa se reuniu com teólogos participantes de um con­gresso da Pontifícia Academia de Teologia, participantes do Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana – entre políticos, jornalistas, artistas e ativistas –, esteve com os agostinianos na conclusão de seu capí­tulo geral e dedicou horas a uma reunião com os “novos bispos”, ou seja, aqueles or­denados ao longo do último ano.

“O planeta está marcado por conflitos e divisões, e, por isso mesmo, vocês estão unidos por um forte e corajoso ‘não’ à guerra e por um ‘sim’ à paz e à fraternida­de”, afirmou, no Encontro sobre a fraterni­dade humana, no sábado, 13. “Reconhecer que o outro é um irmão ou uma irmã sig­nifica libertar-se da ilusão de acreditar que somos indivíduos isolados ou da lógica de estabelecer relações apenas por interes­se próprio.”

CHAMADOS À PROXIMIDADE

Para os bispos, na quinta-feira, 11, Leão XIV fez um profundo convite ao ser­viço e à humildade. “Desejo recordar, an­tes de tudo, algo tão simples quanto nada óbvio: o dom que vocês receberam não é para si mesmos, mas para servir à causa do Evangelho”, declarou. “Vocês foram escolhidos e chamados para serem envia­dos, como apóstolos do Senhor e como servos da fé.”

Em um mundo repleto de mazelas, mas também com uma renovada busca por es­piritualidade e silêncio – disse o Papa em seu discurso – “a Igreja os envia como pas­tores zelosos e atentos, que sabem partilhar o caminho, as perguntas, as angústias e as esperanças do povo; pastores que desejam ser guias, pais e irmãos para os sacerdotes e para as irmãs e os irmãos na fé”.

Em um segundo momento, ele aco­lheu perguntas ou comentários dos bis­pos. De acordo com um comunicado da Santa Sé à imprensa, Leão XIV afirmou que, diante dos desafios de hoje, “não bas­tam as respostas prontas, aprendidas há 25 anos no seminário”. Em vez disso, é preci­so testemunhar a fé por meio da proximi­dade com as pessoas.

O Santo Padre “chamou os novos bis­pos a serem discípulos perseverantes, que não se assustam diante da primeira difi­culdade, pastores próximos do povo e dos padres, misericordiosos e firmes mesmo quando se trata de julgar, capazes de es­cutar e de dialogar, e não apenas de fazer sermões”, explica o comunicado.

Nesse sentido, acrescentou algumas palavras sobre a sinodalidade, destacando não ser um método pastoral, mas “um es­tilo de Igreja, de escuta e de busca comum da missão à qual somos chamados”.

DAS AMÉRICAS AO TRONO DE PEDRO

O norte-americano Robert Francis Prevost é o primeiro Papa agostiniano da história e o segundo Pontífice das Amé­ricas, depois do Papa Francisco. Diferen­temente do argentino Jorge Mario Ber­goglio, Prevost nasceu em Chicago, em 14 de setembro de 1955, e completou 70 anos poucos meses depois de ser eleito Pontífice no Conclave de 8 de maio de 2025. Ele escolheu o nome de Leão XIV, evocando a memória de Leão XIII, autor da encíclica Rerum Novarum (1891), que marcou a Doutrina Social da Igreja.

FORMAÇÃO E VOCAÇÃO

Filho de Louis Marius Prevost, de origens francesa e italiana, e Mildred Martínez, de raízes espanholas, Robert cresceu nos Estados Unidos ao lado de dois irmãos. Estudou no seminário me­nor dos Padres Agostinianos e depois na Villanova University, na Pensilvânia, onde se graduou em Matemática e estu­dou Filosofia.

Ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho em 1977 e profes­sou votos solenes em 1981. Diplomou­-se em Teologia pela Catholic Theologi­cal Union, em Chicago, e foi enviado a Roma para cursar Direito Canônico na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Angelicum). Em 1982, ainda em Roma, foi ordenado sacerdote.

MISSIONÁRIO E PRIOR

Com título de doutor em Direito Ca­nônico, Prevost foi destinado ao Peru, em 1985. Atuou primeiro em Chuluca­nas e depois em Trujillo, onde permane­ceu por mais de uma década. Foi prior, formador de seminaristas e professor de Direito Canônico, Patrística e Moral. Também serviu como Pároco em comu­nidades pobres da periferia e Vigário Ju­dicial da Arquidiocese de Trujillo.

Em 1999, foi eleito Prior Provincial em Chicago. Dois anos depois, seus con­frades o escolheram Prior-geral da Or­dem de Santo Agostinho, cargo em que permaneceu até 2013. Nesse período, acolheu o Papa Bento XVI em Pavia, em 2007, e, ao final de seu mandato, recebeu Francisco na basílica romana de Santo Agostinho.

BISPO NO PERU E CARDEAL

De volta aos Estados Unidos, em 2013, assumiu cargos de formação até ser nomeado por Francisco Bispo Titu­lar de Sufar e Administrador Apostólico de Chiclayo, no Peru, em 2014. Seu lema episcopal, In Illo uno unum (“embora se­jamos muitos, em Cristo somos um só”), resume sua espiritualidade agostiniana.

Em 2015, tornou-se Bispo da Dioce­se de Chiclayo, nomeado por Francisco. Três anos depois, foi eleito Vice-Presi­dente da Conferência Episcopal Peruana. No Vaticano, passou a integrar a Congre­gação para o Clero (2019) e a dos Bispos (2020). Nesse mesmo ano, foi designado Administrador Apostólico de Callao.

Em janeiro de 2023, o Papa Francis­co o trouxe a Roma mais um vez, agora como Prefeito do Dicastério para os Bis­pos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, elevando-o a Arcebispo. No consistório de setembro do mesmo ano, recebeu o barrete car­dinalício. Dois anos depois, em maio de 2025, o Cardeal Robert Francis Prevost foi escolhido como o 267º sucessor do apóstolo Pedro.

*Adaptado do L’Osservatore Romano

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