Escreveu Francisco na homilia lida pelo Cardeal Leonardo Sandri no Domingo de Ramos. Como fizera no domingo passado, Pontífice saudou os fiéis na Praça São Pedro após a missa

No Domingo de Ramos, 13 de abril, cerca de 40 mil pessoas foram à Praça São Pedro para fazer memória à entrada do Senhor em Jerusalém e rezar a Santa Missa presidida pelo Cardeal Leonardo Sandri, Vice-decano do Colégio Cardinalício.
A comemoração da entrada festiva do Senhor em Jerusalém precedeu a missa, cujo trecho do Evangelho narrou a história da sua Paixão. Os ramos de oliveira, símbolo deste domingo, após abençoados, foram levados em procissão do centro da Praça para o Sagrado por centenas de pessoas, entre cardeais, bispos, sacerdotes e leigos para iniciar a Liturgia da Palavra da celebração eucarística.
A CRUZ DE JESUS TORNA-SE A DO CIRINEU
A homilia para a missa de Domingo de Ramos foi preparada pelo Papa Francisco e lida pelo Cardeal Sandri. O Pontífice refletiu sobre a figura de um “desconhecido”, “cujo nome entra inesperadamente no Evangelho: Simão de Cirene”, também chamado de Cirineu. Francisco reforçou que, de “modo inesperado e perturbador”, esse homem acabou sendo “envolvido na história da salvação”.
O Papa meditou sobre o gesto e o coração de Simão de Cirene no caminho para o Calvário, quando seguiuao lado de Jesus, “com quem teve que dividir a pena”. Um gesto “tão ambivalente”, porque Cireneu é obrigado a carregar a cruz: “não ajuda Jesus por convicção, mas por obrigação. Por outro lado, vê-se a participar pessoalmente na Paixão do Senhor. A cruz de Jesus torna-se a cruz de Simão”.
Para “compreender se carrega ou suporta a cruz, é preciso olhar para o seu coração”, acrescentou o Papa, pedindo que nos colocássemos no lugar de Cireneu: “sentimos raiva ou piedade, tristeza ou aborrecimento?”.
“A cruz de madeira, que o Cireneu carrega, é a de Cristo, que carrega o pecado de todos os homens. Carrega-o por nosso amor, em obediência ao Pai (cf. Lc 22,42), sofrendo conosco e por nós”, apontou Francisco.
OS PASSOS DE SIMÃO CIRINEU SÃO OS NOSSOS

O Papa se deteve, assim, após o gesto e o coração de Simão, aos seus passos que “nos ensinam que Jesus vem ao encontro de todos, em qualquer situação”. Inclusive naquela em que o ódio e a violência são protagonistas, porque Deus também “faz deste caminho um lugar de redenção”.
“Quantos cireneus carregam a cruz de Cristo! Somos capazes de reconhecê-los? Vemos o Senhor nos seus rostos dilacerados pela guerra e pela miséria? Perante a injustiça atroz do mal, carregar a cruz de Cristo nunca é em vão, é antes a forma mais concreta de partilhar o seu amor salvador”, refletiu.
CARREGAR A CRUZ NO CORAÇÃO
O convite final do Pontífice, então, é para carregar a cruz de quem mais precisa, estendendo a mão, levantando quem cai, abraçando os desanimados.
“Irmãos, irmãs, para experimentar este grande milagre da misericórdia, escolhamos como levar a cruz, durante a Semana Santa: não ao pescoço, mas no coração. Não só a nossa, mas também a daqueles que sofrem ao nosso lado; talvez a daquela pessoa desconhecida que o acaso – Mas será mesmo o acaso? – nos fez encontrar. Preparemo-nos para a Páscoa do Senhor tornando-nos cireneus uns dos outros”.
APARIÇÃO SURPRESA NO ANGELUS

Ao final da missa do Domingo de Ramos, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou a mensagem do Angelus escrita pelo Pontífice. Francisco, como fizera no domingo passado, surpreendeu os fiéis ao aparecer na Praça São Pedro em sua cadeira de rodas: “Bom Domingo de Ramos! Boa Semana Santa!”, desejou.
Jesus, escreveu o Papa no texto do Angelus, através do relato da Paixão do Senhor segundo Lucas, se apresentava “indefeso e humilhado” no caminho do Calvário.
“Nós o vimos caminhar em direção à cruz com os sentimentos e o coração de uma criança agarrada ao pescoço do seu pai, frágil na carne, mas forte no abandono confiante, até adormecer, na morte, em seus braços”, recordou o Pontífice. Sentimentos que a liturgia nos convida “a contemplar e a fazer como nossos”.
“Todos temos dores, físicas ou morais, e a fé nos ajuda a não nos entregarmos ao desespero, a não nos fecharmos na amargura, mas a enfrentá-las, sentindo-nos envolvidos, como Jesus, pelo abraço providencial e misericordioso do Pai”, prosseguiu.
Assim o Papa recordou do seu próprio momento de fragilidade, da internação ao período atual de convalescença, pelo qual reforçou a sua gratidão: “Irmãs e irmãos, agradeço muito pelas orações de vocês. Neste momento de fraqueza física, me ajudam a sentir ainda mais a proximidade, a compaixão e a ternura de Deus. Eu também rezo por vocês e peço que confiem comigo ao Senhor todos os que sofrem, especialmente aqueles afetados pela guerra, pela pobreza ou pelos desastres naturais. Em particular, que Deus receba em sua paz as vítimas do desabamento de uma estrutura em Santo Domingo e conforte seus familiares”.

Fonte: Vatican News