Papa na ‘Urbi et Orbi’: Remover as ‘pedras’ da guerra, do tráfico humano e das violações de direitos

Em tradicional bênção, que é conferida na Páscoa e no Natal, Francisco renovou seu apelo de paz, fraternidade e defesa da vida, e lembrou das diferentes partes do mundo onde há sofrimento

Foto: Vatican Media

Só Cristo é capaz de “remover as pedras que fecham o caminho rumo à vida”, disse o Papa Francisco no Domingo de Páscoa, 31, na tradicional bênção “Urbi et Orbi”, para a Cidade de Roma e para o mundo.

“A Igreja revive o espanto das mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras pesadas, pesadas demais, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de pessoas”, declarou.

Ele se refere à narrativa do Evangelho segundo São Marcos (16,3), a qual conta que, na manhã de Páscoa, aquela pedra do sepulcro onde Cristo havia sido colocado se encontrava já removida. As mulheres que foram até lá de manhã cedo se preocupavam: “Quem vai remover estas pedras para nós?” Mas se depararam com o sepulcro aberto e vazio. Cristo ressuscitou.

A bênção “Urbi et Orbi” é conferida apenas duas vezes ao ano, na Páscoa e no Natal. É um momento em que, após a celebração Eucarística, o Papa renova seu apelo de paz, fraternidade e defesa da vida, mencionando diferentes partes do mundo onde há sofrimento, dor, guerra e pobreza.

UM NOVO CAMINHO

“Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que nenhum de nós, mas só Deus, poderia abrir: o caminho da vida em meio à morte, o caminho da paz em meio à guerra, o caminho da reconciliação em meio ao ódio, o caminho da fraternidade em meio à inimizade”, disse o Pontífice.

Em sua fala, antes da bênção, ele insistiu que Cristo “nos abre a passagem, algo humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os nossos pecados. E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida”.

É preciso superar “os preconceitos, as suspeitas mútuas e as presunções, que sempre levam a absolver a si mesmo e acusar os outros”. Nesse contexto, Papa Francisco listou as situações do mundo que mais lhe preocupam. Falou, em especial, da dor das crianças, vítimas da violência e da guerra, mas também daqueles que “sequer chegam a ver  a luz”, mortos antes de nascer. Ele também rezou pelos migrantes, pelas vítimas do tráfico humano e do terrorismo. Recordou as vítimas das mudanças climáticas e as que vivem em situações de insegurança alimentar.

O Papa pediu que caminhos sejam abertos para que a ajuda humanitária chegue à Faixa de Gaza, além de um cessar-fogo imediato e a libertação de todos os reféns. A Terra Santa sofre com os conflitos entre Israel e Palestina, disse ele.

Também a Ucrânia, invadida pela Rússia há mais de dois anos, foi lembrada. “Que o Cristo Ressuscitado abra um caminho de paz para as populações atormentadas dessas regiões. Ao mesmo tempo que convido a que sejam respeitados os princípios do direito internacional, espero que haja uma troca geral de todos os prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia: todos por todos!”, afirmou.

Entre as outras realidades pelas quais o Papa rezou estão a Síria, marcada pela pobreza e destruição de uma guerra “longa e devastante”; o Líbano, que vive uma crise econômica e social, “agravada pelas hostilidades na fronteira com Israel”. Ele também manifestou apreço pela aproximação de países dos Bálcãs Ocidentais à União Europeia, além de diálogos recentes entre Armênia e Azerbaijão, países que também estão em guerra.

Francisco citou ainda o sofrimento do povo do Haiti, dos Rohingya, de Mianmar, do Sudão do Sul, de toda a região do Sahel, na África, além da República Democrática do Congo e  Moçambique.

“Que o Senhor console suas famílias, especialmente aquelas que aguardam ansiosamente notícias de seus entes queridos [vítimas do tráfico humano], assegurando-lhes conforto e esperança. Que a luz da Ressurreição ilumine nossas mentes e converta nossos corações, conscientizando-nos do valor de toda vida humana, que deve ser acolhida, protegida e amada. Feliz Páscoa a todos!”, desejou o sucessor de Pedro.

Papa durante a missa do Domingo de Páscoa

(Filipe Domingues escreveu esta reportagem diretamente da Cidade do Vaticano)

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Aline Silva Coelho
Aline Silva Coelho
3 meses atrás

Amém!