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Papa no Dia Mundial dos Pobres: ‘Não poderá haver paz sem justiça’

Leão XIV lembrou que a solidão é o elemento comum a todas as formas de pobreza, materiais ou espirituais; e diante disso, exortou os fiéis a uma ‘cultura da atenção’; e os líderes das nações a ouvirem o clamor dos vulneráveis

Fotos: Vatican Media

O Papa Leão XIV presidiu missa na Basílica de São Pedro, no domingo, 16, por ocasião do Dia Mundial dos Pobres, com a participação de cerca de 6 mil fiéis, muitos dos quais assistidos pela Igreja Católica.

Antes da cerimônia, o Santo Padre saudou os 12 mil peregrinos na Praça São Pedro, afirmando que todos queremos estar entre os pobres do Senhor, “porque a nossa vida é um dom de Deus e o recebemos com muita gratidão”. O Pontífice agradeceu a todos pela presença, pedindo que participassem da missa, por meio dos telões, “com muito amor, muita fé, sabendo que estamos todos unidos em Cristo”.

Na homilia, Leão XIV comentou as leituras do Evangelho do dia, que convidam a olhar para a história nos seus desfechos finais. Na primeira leitura, o profeta Malaquias vislumbra a chegada do “dia do Senhor”, com um amanhecer que faz surgir um “sol de justiça”. Trata-se do próprio Jesus. No Evangelho, Cristo anuncia e inaugura esse Reino. Ele é o senhorio de Deus que se torna presente em meio aos acontecimentos dramáticos da história. Por isso, os discípulos não devem se assustar, já que a promessa de Jesus é sempre viva e fiel: “não se perderá um só cabelo da vossa cabeça”.

IGREJA, ‘MÃE DOS POBRES’

“Irmãos e irmãs, esta é a esperança à qual nos agarramos, mesmo diante das vicissitudes nem sempre felizes da vida”, afirmou o Pontífice. “Deus não nos deixa sozinhos nas perseguições, nos sofrimentos, nas dificuldades e nas opressões da vida e da sociedade. Ele manifesta-se como Aquele que toma partido por nós.” A proximidade de Deus atinge o ápice do amor em seu filho Jesus: por isso, a presença e a palavra de Cristo tornam-se júbilo e jubileu para os mais necessitados.

Dirigindo-se diretamente aos pobres, Leão XIV transmitiu as palavras de Jesus: “Dilexi te – Eu te amei”. E ressaltou: “Diante da nossa pobreza e pequenez, Deus nos olha como ninguém mais e nos ama com amor eterno. E a sua Igreja, ainda hoje, talvez especialmente neste nosso tempo tão ferido por velhas e novas pobrezas, quer ser ‘mãe dos pobres, lugar de acolhimento e justiça’.”

‘CULTURA DA ATENÇÃO’ PERANTE À ‘GLOBALIZAÇÃO DA IMPOTÊNCIA’

“Quantas pobrezas oprimem o nosso mundo!”, constatou o Santo Padre. Trata-se, primordialmente, de pobrezas materiais, mas também morais e espirituais, que afetam sobretudo os mais jovens. Para Pontífice, todas têm um elemento em comum, que é a solidão, que pode ser superada se os fiéis forem capazes de desenvolver uma “cultura da atenção”, isto é, a capacidade de olhar para o lado e se tornar testemunha da ternura de Deus na família, nos locais de trabalho e de estudo, nas comunidades e, inclusive, no mundo digital.

O Papa aponta a “cultura da atenção” como um antídoto à globalização da impotência que ele vem denunciando desde o início do seu pontificado, ou seja, a crença de que a história sempre foi assim e não pode mudar.

O Evangelho, de modo diverso, diz que é precisamente nas grandes perturbações da história que o Senhor vem nos salvar. E a tarefa da comunidade cristã é ser sinal vivo dessa salvação no meio dos pobres.

A PAZ COMO FRUTO DA JUSTIÇA

Leão XIV chamou em causa também os chefes de Estado e os responsáveis das Nações para que ouçam o clamor dos mais pobres. “Não poderá haver paz sem justiça”, lembrou, e os pobres nos recordam disso de muitas maneiras, “com a sua migração, bem como com o seu grito muitas vezes abafado pelo mito do bem-estar e do progresso”.

Aos operadores da caridade e aos voluntários, o Pontífice manifestou a sua gratidão. E aos fiéis renovou seu convite ao comprometimento, já que a “questão dos pobres remete ao essencial da nossa fé”. Para nós, “eles são a própria carne de Cristo e não apenas uma categoria sociológica”, afirmou, citando a sua Exortação Dilexi te: “A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes”.

“Enquanto aguardamos o glorioso regresso do Senhor, não devemos viver uma vida voltada para nós mesmos e num intimismo religioso que se traduz no descompromisso para com os outros e a história. Pelo contrário, buscar o Reino de Deus implica o desejo de transformar a convivência humana num espaço de fraternidade e dignidade para todos, sem excluir ninguém.”

O Santo Padre advertiu para o perigo de viver como “viajantes distraídos”, indiferentes ao próximo, e exortou a nos inspirar no testemunho dos Santos que serviram Cristo nos mais necessitados e o seguiram no caminho da pequenez e do despojamento. A propósito, citou a figura de São Bento José Labre, que com a sua vida de “vagabundo de Deus” tem as características para ser o padroeiro de todos os pobres sem-abrigo.

“Que a Virgem Maria nos ajude a entrar na nova lógica do Reino, para que na nossa vida de cristãos esteja sempre presente o amor de Deus que acolhe, perdoa, cuida das feridas, consola e cura”, concluiu Leão XIV.

Fonte: Vatican News

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