Na festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, no domingo, 9, o Papa Leão XIV presidiu missa neste templo, em Roma, com a participação de 2,7 mil pessoas.

Esta igreja é a Catedral da Diocese de Roma, cujo bispo é o Papa. “A construção foi realizada por vontade do imperador Constantino, depois de ter concedido aos cristãos, no ano 313, a liberdade de professar a sua fé e de exercer o culto”, recordou Leão XIV no início da homilia. O Papa Silvestre I dedicou-a ao Cristo Salvador, no século IV.
“Esta Basílica, ‘mãe de todas as igrejas’, é muito mais do que um monumento e uma memória histórica: é sinal da Igreja ‘de pedras vivas, edificada sobre o alicerce dos apóstolos, tendo Cristo Jesus como pedra angular’, e como tal, lembra-nos que também nós, formando um templo espiritual, ‘somos edificados aqui na terra como pedras vivas’. Por esta razão, como observava São Paulo VI, surgiu desde muito cedo na comunidade cristã o uso de atribuir o ‘nome de Igreja, que significa a assembleia dos fiéis, ao templo que os reúne’”, frisou o Santo Padre.
O NOSSO SER IGREJA

A seguir, olhando para o templo, o Papa refletiu “com a ajuda da Palavra de Deus sobre o nosso ser Igreja”.
Primeiramente, refletiu “sobre os seus alicerces”, ressaltando que “se quem a construiu não tivesse escavado bem fundo até encontrar uma base suficientemente sólida sobre a qual erguer tudo o resto, há muito que toda a construção teria ruído ou a qualquer momento correria o risco de ceder, de tal forma que também nós, estando aqui, nos exporíamos a sério perigo. Felizmente, aqueles que nos precederam deram à nossa Catedral bases sólidas, escavando em profundidade, com esforço, antes de começarem a erguer as paredes que nos acolhem, e isso faz-nos sentir muito mais tranquilos”.
“Contudo, isso também nos ajuda a refletir. De igual modo nós, operários da Igreja viva, antes de podermos erguer estruturas imponentes, devemos escavar em nós mesmos e à nossa volta, para eliminar todo o material instável que possa impedir-nos de alcançar a verdadeira rocha de Cristo. São Paulo fala-nos explicitamente disso na segunda leitura, quando diz que ‘ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo’, o que significa voltar constantemente a Ele e ao seu Evangelho, dóceis à ação do Espírito Santo. Caso contrário, o risco seria sobrecarregar com estruturas pesadas um edifício com bases frágeis”, disse ainda Leão XIV.
Por isso, queridos irmãos e irmãs, ao trabalharmos com todo o empenho ao serviço do Reino de Deus, não sejamos nem precipitados nem superficiais: escavemos em profundidade, livres dos critérios do mundo, que demasiadas vezes exige resultados imediatos, porque desconhece a sabedoria da espera. Ahistória milenar da Igreja ensina-nos que só com humildade e paciência se pode construir, com a ajuda de Deus, uma verdadeira comunidade de fé, capaz de difundir a caridade, de favorecer a missão, de anunciar, celebrar e servir o Magistério apostólico, do qual este Templo é a primeira sede”, ressaltou.
Falando sobre o Evangelho do dia, comentou que “Zaqueu, homem rico e poderoso, sente a necessidade de encontrar Jesus”, mas é baixo demais e sobe numa árvore que “significa para Zaqueu reconhecer os seus limites e superar os freios inibidores do orgulho”.
A partir do encontro com Jesus, começa para Zaqueu uma nova vida: “Jesus transforma-nos e convida-nos a trabalhar no grande estaleiro de Deus, moldando-nos sabiamente segundo os seus desígnios de salvação. Nos últimos anos, a imagem do ‘estaleiro’ foi frequentemente utilizada para descrever o nosso caminho eclesial. É uma imagem bonita, que fala de atividade, criatividade, empenho, mas também de esforço, de problemas – por vezes, complexos – a resolver”, disse ainda o Papa.
“Ela expressa o esforço real, palpável, com que as nossas comunidades crescem todos os dias, na partilha dos carismas e sob a orientação dos Pastores. Em particular, a Igreja de Roma é testemunha disso nesta fase da implementação do Sínodo, na qual o que amadureceu ao longo de anos de trabalho pede para passar através do confronto e da verificação “na prática”. Isto implica um caminho íngreme, mas não devemos desanimar. Pelo contrário, é bom continuar a trabalhar, com confiança, para crescermos juntos”.
O ZELO PELA LITURGIA
Por fim, Leão XIV mencionou “um aspecto essencial da missão de uma Catedral: a liturgia”, sendo esta “a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força”, uma vez que nela “podemos encontrar todos os temas que mencionámos: somos edificados como templo de Deus, como sua morada no Espírito, e recebemos força para pregar Cristo no mundo”.
“Por essa razão, o cuidado posto na celebração da liturgia, no lugar da Sé de Pedro, deve ser tal que possa servir de exemplo para todo o povo de Deus, no respeito pelas normas, na atenção às diversas sensibilidades de quem participa, segundo o princípio de uma sábia inculturação e, ao mesmo tempo, na fidelidade ao estilo de solene sobriedade típico da tradição romana, que tanto bem pode fazer às almas de quantos nela participam ativamente”, disse ainda o Papa.
“Preste-se muita atenção para que, aqui, a beleza simples dos ritos expresse o valor do culto em prol do crescimento harmonioso do inteiro Corpo do Senhor. Santo Agostinho dizia que ‘a beleza não é senão amor, e o amor é a vida’. A liturgia é um âmbito onde esta verdade se realiza de forma eminente; e desejo que quem se aproxima do Altar da Catedral de Roma possa depois partir cheio daquela graça com a qual o Senhor deseja inundar o mundo”, conclui.

IGREJA DE ROMA: MÃE QUE CUIDA DA FÉ
Após celebrar a missa na Basílica de São João de Latrão, Leão XIV regressou, ao Vaticano, e conduziu a oração mariana do Angelus.
Ele comentou que neste dia da Dedicação da Basílica de Latrão, se contempla o mistério de unidade e comunhão com a Igreja de Roma, chamada a ser a mãe que cuida com solicitude da fé e do caminho dos cristãos espalhados pelo mundo.
“A Catedral da Diocese de Roma e, como sabemos, sede do sucessor de Pedro não é apenas uma obra de extraordinário interesse histórico, artístico e religioso, mas representa também o centro propulsor da fé, confiada e guardada pelos Apóstolos, e da sua transmissão ao longo da história”, disse ainda o Papa.
“A grandeza deste mistério brilha também no esplendor artístico do edifício que, precisamente na nave central, acolhe doze grandes imagens dos Apóstolos, primeiros seguidores de Cristo e testemunhas do Evangelho”, sublinhou.
“Isto remete para uma visão espiritual, que nos ajuda a ir além da aparência exterior, compreendendo no mistério da Igreja muito mais do que um simples lugar, um espaço físico, uma construção feita de pedras; na verdade, como nos sugere o trecho do Evangelho de hoje, no qual se conta o gesto de purificação realizado por Jesus no Templo de Jerusalém, o verdadeiro santuário de Deus é Cristo morto e ressuscitado. Ele é o único mediador da salvação, o único Redentor, Aquele que, unindo-se à nossa humanidade e transformando-nos com o seu amor, representa a porta que se escancara para nós e nos conduz ao Pai”.
“Unidos a Ele, também nós somos pedras vivas deste edifício espiritual. Somos a Igreja de Cristo, o seu corpo, os seus membros chamados a difundir no mundo o seu Evangelho de misericórdia, consolação e paz, através daquele culto espiritual que deve resplandecer em primeiro lugar no nosso testemunho de vida”, disse ainda Leão XIV.
“É para este olhar espiritual que devemos treinar o nosso coração. Muitas vezes, as fragilidades e os erros dos cristãos, juntamente com tantos lugares-comuns e preconceitos, impedem-nos de compreender a riqueza do mistério da Igreja”, prosseguiu, complementando: “Efetivamente, a sua santidade não reside nos nossos méritos, mas na ‘liberalidade da entrega do Senhor que nunca foi revogada’ e que continua a escolher ‘como receptáculo da sua presença, em um amor paradoxal, também e precisamente as mãos sujas dos homens’”, disse ainda o Papa, citando as palavras de Bento XVI.
“Caminhemos, pois, na alegria de sermos o Povo santo que Deus escolheu e invoquemos Maria, Mãe da Igreja, para que nos ajude a acolher Cristo e nos acompanhe com a sua intercessão”, concluiu Leão XIV.
Fonte: Vatican News






