Relações, Percursos e Lugares: novo documento de trabalho dá o tom da assembleia sinodal de outubro

Vatican Media-Arquivo

O Sínodo é uma “academia de escuta”, disse o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral do Sínodo, no dia 9, quando foi publicado o documento de trabalho (Instrumentum laboris) da assembleia geral que será organizada, no Vaticano, em outubro. Ela será a última etapa formal do Sínodo sobre a Igreja sinodal, iniciado em 2021.

“Temos que escutar uns aos outros e, todos juntos, o Espírito Santo”, afirmou o Cardeal Grech. É preciso “buscar ouvir o que Deus quer dizer à Igreja no mundo de hoje”, e, por isso, a sinodalidade é essencial.

Um dos objetivos deste Sínodo é o de promover uma maior e mais eficaz participação de todos os membros batizados da Igreja em seus processos e estruturas, vivendo de maneira mais consciente e visível a missão comum de evangelizar.

É preciso pensar sobre as “relações, percursos e lugares” que compõem a experiência da vida na Igreja e de suas comunidades, conforme propõe o documento, enfatizando a necessidade de se construir uma “Igreja relacional”, na qual a harmonia entre os membros, que são tão diferentes entre si, seja fruto de um esforço comum e intencional. Algo que o Cardeal Grech chamou de “circularidade”, a ideia de que as ações sejam pensadas e avaliadas em conjunto.

Falar de “Relações” na assembleia corresponderá a uma reflexão sobre “a exigência de uma Igreja não burocrática, mas capaz de nutrir as relações: com o Senhor, entre homens e mulheres, na família, na comunidade, entre grupos sociais”, diz o texto.

A discussão sobre “Percursos” será em torno de experiências já concretas, reais e vividas hoje, mas que podem ser aprofundadas, difundidas e reorganizadas, em particular nos processos de discernimento coletivo das comunidades e instituições eclesiais. O Instrumentum dá ênfase, em especial, à articulação dos processos decisórios e à necessidade de tomar decisões com transparência.

Refletir sobre “Lugares” quer dizer não ignorar “contexto e cultura” nos quais o Evangelho se encarna na vida das pessoas. É preciso superar “uma visão estática dos lugares”, diz o documento, e adotar uma visão menos “piramidal” das organizações. Afinal, “a teia das relações e do intercâmbio de dons entre as Igrejas sempre teve uma forma reticular e não linear, no vínculo da unidade, da qual o Romano Pontífice é princípio e fundamento com carácter perpétuo e visível”, define o texto.

UM CAMINHO DE TODOS

O Instrumentum laboris abrange uma série de temas que vieram à tona ao longo do processo sinodal. Não se trata de um documento do magistério da Igreja nem de um rascunho sobre as conclusões da assembleia, mas uma base para orientar as reflexões e as discussões do encontro de outubro.

“Cresceu igualmente o reconhecimento da variedade de carismas e vocações que o Espírito Santo constantemente suscita no Povo de Deus”, diz o Instrumentum no seu parágrafo número 12. “Nasce, assim, o desejo de crescer na capacidade de discerni-los, de compreender as relações existentes na vida concreta de cada Igreja e de toda a Igreja e, principalmente, de articulá-las para o bem da missão.”

O texto reflete sobre os três anos do caminho sinodal até aqui e apresenta seus fundamentos: entender a Igreja como “povo de Deus” e “sacramento de unidade”; encontrar um significado partilhado de “sinodalidade”; entender a unidade como “harmonia nas diferenças”; redescobrir a “reciprocidade”; e promover uma “conversão” a uma reforma eclesial.

Em cada fase do processo sinodal dos últimos três anos, descreve o Instrumentum, ficou patente o desejo de “ampliar as possibilidades de participação e de exercício da corresponsabilidade de todos os batizados, homens e mulheres, na variedade dos seus carismas, vocações e ministérios”.

ALGUMAS PRIORIDADES

O Instrumentum aponta para três prioridades. A primeira é “a necessidade de atualizar a capacidade de anúncio e transmissão da fé com modalidades e meios apropriados ao contexto atual”.

A segunda direção é “a renovação da vida litúrgica e sacramental, a partir de celebrações belas, dignas, acessíveis, plenamente participativas, bem inculturadas e capazes de fomentar o entusiasmo para a missão”.

E o terceiro ponto é “combater a tristeza provocada pela falta de participação de tantos membros do Povo de Deus neste caminho de renovação eclesial e pela fadiga da Igreja em viver plenamente um relacionamento saudável entre homens e mulheres, entre gerações e entre pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais, em especial os pobres e os excluídos”.

Em outras palavras, é preciso promover “uma conversão a uma visão de relacionalidade, interdependência e reciprocidade”, consta no texto.

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