Roma e seus peregrinos se despedem do Papa Francisco



 Na Praça São Pedro, fiéis participam da Missa de Exéquias do Papa, no sábado, 26; sepultamento ocorreu na Basílica de Santa Maria Maior
Vatican Media

Até o último momento, o Papa Francisco, morto no dia 21, aos 88 anos, esteve próximo do seu povo. Entre aplausos e lágrimas, cerca de 400 mil pessoas se despediram do Pontífice no sábado, 26. O papamóvel que levou seu caixão do Vaticano até a Basílica de Santa Maria Maior, onde foi sepultado, conforme seu desejo, atravessou a cidade de Roma, passando por lugares icônicos como a Praça Veneza e o Coliseu. Além dos 250 mil que participaram da Missa de Exéquias no Vaticano, outros 150 mil o saudaram uma última vez no caminho, pelas ruas da Cidade Eterna. “Grazie, Francesco!”, diziam algumas faixas nas janelas, um agradecimento ao Bispo de Roma que deixou este mundo. 

O REPOUSO ETERNO NA CASA DA MÃE 

A devoção de Francisco a Nossa Senhora era evidente. Ele passava na Basílica de Santa Maria Maior antes e depois de cada viagem, para agradecer a sua intercessão. Assim escreveu Francisco em seu testamento: “Entreguei sempre a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem e aguardem o dia da ressurreição na Basílica Papal de Santa Maria Maior. Desejo que a minha última viagem terrena termine precisamente neste antiquíssimo santuário mariano, onde me deslocava em oração no início e no fim de cada Viagem Apostólica, para entregar com confiança as minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe a sua dócil e materna solicitude.” 

Francisco escolheu descansar naquela igreja, a primeira no Ocidente a ser dedicada a Maria. Localizada em uma região central de Roma, é próxima da estação Termini – ponto inicial e final de muitos trens. É uma área da cidade bastante antiga, atualmente rodeada de apartamentos para turistas, mas também de lojas, lanchonetes e estabelecimentos comerciais. Uma região repleta de pessoas em situação de rua e migrantes, entre africanos e asiáticos, a quem Francisco tanto valorizou. Um grupo de pessoas pobres e idosos o esperava nas escadarias da Basílica, acolhendo-o na Casa da Mãe. 

FRANCISCO TOCOU ‘MENTES E CORAÇÕES’ 

Antes de ser levado até lá, celebrou-se no mesmo dia a missa de corpo presente, na Praça São Pedro, diante de pessoas provenientes de diferentes partes do mundo, inclusive muitos grupos de jovens que haviam planejado a viagem a Roma para participar do Jubileu dos Adolescentes e da canonização do Beato Carlo Acutis, prevista para o domingo, 27 – e que teve de ser adiada por causa da morte do Papa. 

Também estiveram ali membros do clero de Roma e de outros países, cardeais da Igreja e 249 delegações de diferentes países. O rito do funeral, desde a morte do Pontífice até o seu sepultamento, foi simplificado por Francisco. Sua intenção era, primeiro, destacar que o Papa é o Bispo de Roma, e não um monarca, e, portanto, o funeral teria de enfatizar a dimensão pastoral de seu ministério. Segundo, algumas orações adotaram tom mais positivo e esperançoso, com ênfase na ressurreição e na crença na vida eterna. 

Estiveram na cerimônia 50 chefes de Estado, 50 chefes de governo entre os quais o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; o dos Estados Unidos, Donald Trump; o da Ucrânia, Volodymyr Zelensky; o da França, Emmanuel Macron. Também participaram dez representantes de famílias reais, como os da Espanha, Bélgica e Reino Unido. 

Durante a Missa de Exéquias, o Cardeal Giovanni Battista Re, Decano do Colégio Cardinalício, recordou o Papa Francisco como um pastor zeloso e afetuoso, alguém que tocou “mentes e corações”. Disse ele: “Apesar da sua fragilidade nesta reta final e do seu sofrimento, o Papa Francisco escolheu percorrer este caminho de entrega até o último dia da sua vida terrena. Seguiu as pegadas do seu Senhor, o Bom Pastor, que amou as suas ovelhas até dar a própria vida por elas.” 

O Cardeal Re falou sobre o pontificado de Francisco e algumas de suas principais decisões, notando sua “espontaneidade e uma maneira informal de se dirigir a todos, mesmo às pessoas afastadas da Igreja”. Era um Papa de “acolhimento e escuta”, acrescentou, sensível à realidade dos nossos dias. “Misericórdia e alegria do Evangelho são duas palavras-chave do Papa Francisco”, comentou. 

“O Papa Francisco costumava concluir os seus discursos e encontros dizendo: ‘Não se esqueçam de rezar por mim’”, afirmou o Cardeal. “Querido Papa Francisco, agora lhe pedimos que reze por nós e que, do céu, abençoe a Igreja, abençoe Roma, abençoe o mundo inteiro, como você fez no domingo passado, do balcão central desta Basílica, em um último abraço a todo o povo de Deus, mas, também, idealmente, à humanidade que procura a verdade de coração sincero e segura bem alto a chama da esperança.” 

O PAPA QUE DIFUNDIU A MISERICÓRDIA 

Outra mensagem importante veio do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado durante o pontificado de Francisco. Ele presidiu a segunda missa do “novenário”, um período de nove dias em que a Igreja dedica celebrações eucarísticas em sufrágio ao Papa falecido. Neste caso, foi o segundo domingo do tempo de Páscoa, o “Domingo da Misericórdia”. Também coincidiu com o Jubileu dos Adolescentes, que compareceram em massa. Estima-se que 200 mil pessoas tenham participado. 

O Cardeal Parolin, que presidirá o Conclave para a eleição do novo Papa, afirmou que a memória de Francisco deve ser honrada não só com palavras, mas também com ações e uma mudança de comportamento. “Só a misericórdia cura e cria um mundo novo, extinguindo os focos de desconfiança, ódio e violência: este é o grande ensinamento do Papa Francisco”, declarou. 

“É importante acolher como um precioso tesouro esta indicação na qual o Papa Francisco tanto insistiu. E – permita-me dizê-lo – o nosso carinho por ele, que se manifesta nestas horas, não deve permanecer uma simples emoção do momento; devemos acolher o seu legado e torná-lo vida vivida, abrindo-nos à misericórdia de Deus e tornando-nos também nós misericordiosos uns para com os outros”, acrescentou o Cardeal Parolin. 

CONGREGAÇÕES GERAIS E CONCLAVE 

Agora, os cardeais da Igreja se reúnem em Roma para as chamadas “congregações gerais”, reuniões que realizam diariamente para tomar decisões sobre a vida da Igreja e discutir as suas prioridades, tendo em vista a eleição de um novo Papa. Ficou decidido que o Conclave começará em 7 de maio, data em que se espera realizar a primeira votação. 

Será eleito Pontífice quem obtiver dois terços dos votos, entre 133 cardeais eleitores que participarão do Conclave. 

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