
Na sexta-feira, 27 de junho, data em que a Igreja celebrou a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, também foi comemorado o Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, instituído por São João Paulo II em 1995. A iniciativa convida todo o povo de Deus a interceder especialmente pelos presbíteros, para que, configurados a Cristo, vivam com fidelidade e zelo o ministério que receberam.
“A santidade dos presbíteros contribui muitíssimo para o desempenho eficaz do seu ministério”, escreveu São João Paulo II na exortação apostólica Pastores dabo vobis. Para o Papa polonês, os sacerdotes são chamados à perfeição evangélica não por uma exigência exterior, mas pela própria natureza da missão que exercem: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3,15).
Essa missão brota do próprio Coração de Cristo, cuja imagem inspira a vida sacerdotal como entrega radical, amor oblativo e serviço constante. Conforme ensina o Concílio Vaticano II, no decreto Presbyterorum Ordinis, “os presbíteros alcançam a santidade pelo próprio exercício do seu ministério, realizado sincera e infatigavelmente no Espírito de Cristo”.

OUTRO CRISTO
A tradição da Igreja reconhece no sacerdote um alter Christus, ou seja, um “outro Cristo”. Essa identidade foi sublinhada por diversos papas, como Pio XII, que na exortação apostólica Menti nostrae (1950), afirmou: “A vida do sacerdote deve ser com Cristo, por Cristo e Nele um sacrifício aceitável”.
Esse sacrifício se manifesta de modo singular na vivência da Eucaristia. “O sacerdote, portanto, não somente celebrará a santa missa, mas a viverá intimamente; somente assim poderá alcançar aquela força sobrenatural que o transformará e o tornará partícipe da vida de sacrifício do Redentor”, acrescentou Pio XII.
Na homilia da missa da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, o Papa Leão XIV reforçou esse ensinamento, afirmando: “Somos chamados a ser instrumentos vivos de reconciliação, colocando a Eucaristia no centro da nossa existência; pela frutuosa recepção dos sacramentos, pela oração constante e pela caridade operosa, tornamo-nos reflexos da misericórdia do Pai”.
Além da Eucaristia, a santidade sacerdotal se concretiza na obediência, no desapego e na castidade vivida pelo celibato. São Paulo VI, na encíclica Sacerdotalis caelibatus (1967), ensinou que o celibato é “expressão da entrega total ao serviço de Deus e das pessoas” e está profundamente vinculado à identidade do sacerdote, que participa da missão do Cristo virgem.

FISIONOMIA ESSENCIAL
Embora os contextos históricos variem, a essência do ministério sacerdotal permanece. “O padre de amanhã, não menos que o de hoje, deverá se assemelhar a Cristo”, escreveu São João Paulo II. O Papa Francisco reafirmou essa visão ao ensinar que “a vocação sacerdotal continuará a ser o chamamento a viver o único e permanente sacerdócio de Cristo”.
Na carta aos sacerdotes por ocasião dos 160 anos da morte de São João Maria Vianney, patrono dos párocos, em 2019, Francisco ressaltou que essa configuração a Cristo exige “a profunda amizade pessoal com o Senhor”, a partir da qual a missão apostólica, o celibato e o serviço tornam-se espiritualmente fecundos e humanamente sustentáveis.
CORAÇÃO VOLTADO AO POVO
Ao recordar a imagem do pastor com “cheiro de ovelhas”, Francisco descreveu na homilia da Missa do Crisma de 2013 que os sacerdotes devem carregar nos ombros o povo confiado a eles e ter seus nomes “gravados no coração”. Mas também destacou que, por meio deles, o povo deve sentir “o perfume do Ungido”, ou seja, de Cristo.
Essa unidade entre caridade pastoral e santificação foi enfatizada por Pio XII ao afirmar: “A exemplo do divino Mestre, vá o sacerdote ao encontro dos pobres, dos trabalhadores, daqueles todos que se encontram em angústia e miséria… Mas não se descuide tampouco daqueles que, embora ricos de bens de fortuna, são, no entanto, os mais pobres de alma”.
O Papa Leão XIV, na mesma missa do dia 27, acrescentou: “Amai a Deus e aos vossos irmãos, sede generosos, não vos poupeis no serviço, abri o coração ao Espírito, sede pastores com o Coração de Cristo”.

ORAÇÃO E CONVERSÃO
A vida sacerdotal exige profunda intimidade com Deus. São João XXIII, na encíclica Sacerdotii nostri primordia (1959), recordou que “o padre é, antes de tudo, um homem de oração”, e destacou práticas fundamentais como o Ofício Divino, a visita ao Santíssimo Sacramento, o Terço e o exame de consciência.
O Papa Leão XIV, em sua mensagem por ocasião deste Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, também advertiu: “O Senhor não procura sacerdotes perfeitos, mas corações humildes, abertos à conversão e prontos a amar como Ele nos amou”.
CRISTO PRESENTE E OPERANTE
O sacerdócio cristão encontra sua origem e plenitude em Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens. O Papa Bento XVI, em meditação proferida durante o Ano Sacerdotal, explicou que o padre age “na própria pessoa de Cristo Ressuscitado, que se faz presente com sua ação realmente eficaz”.
O decreto Presbyterorum Ordinis afirma que, pelo ministério dos presbíteros, “o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma em união com o sacrifício de Cristo”, oferecido sacramentalmente na Eucaristia “pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja”. Além disso, os presbíteros são instrumentos de reconciliação e consolo, especialmente pelos sacramentos da Confissão e da Unção dos Enfermos.
Por isso, a constituição Lumen gentium destaca que os sacerdotes “reúnem a família de Deus em fraternidade animada por um mesmo espírito” e “trabalham pregando e ensinando, acreditando no que leem e meditam, ensinando o que creem e vivendo o que ensinam”.
INTERCEDER PELOS PASTORES
O Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes é um convite a toda a Igreja para sustentar, com orações e apoio espiritual, os homens que, configurados a Cristo, foram ordenados para santificar, ensinar e apascentar o povo de Deus. Como recorda a Carta aos Hebreus: “Todo sumo sacerdote, escolhido entre os homens, é constituído em favor dos homens nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5,1).
Mais do que líderes religiosos ou administradores paroquiais, os sacerdotes são chamados a ser reflexos vivos de Cristo: homens eucarísticos, servidores humildes e pastores com o Coração de Jesus.