Santo Irineu será declarado Doutor da Igreja

Santo Irineu (reprodução da internet)

O Papa Francisco anunciou que o Santo Irineu de Lion será em breve proclamado Doutor da Igreja com o título de Doctor unitatis (doutor da unidade).

O anúncio foi feito diretamente pelo Pontífice durante seu discurso aos membros do Grupo de Trabalho Misto Ortodoxo-Católico “Santo Irineu”, na quinta-feira, 7.

“Terei a alegria de declarar o seu patrono Doutor da Igreja”, disse Francisco, descrevendo esta figura de importância primária na história da Igreja como “uma grande ponte espiritual e teológica entre os cristãos orientais e ocidentais”.

O Santo Padre sublinhou que o próprio nome, Irineu, “carrega a marca da palavra paz”, lembrando a raiz grega Ειρηναίος (Eirenaios), que significa precisamente “pacífico”, “pacificador”, “seráfico”. Em outras palavras, indica alguém que se esforça para levar e trabalhar a paz. Exatamente o que era o programa de vida do santo.

Evangelizador dos bárbaros

Natural da Ásia, provavelmente nascido em Esmirna e chegado à Gália em 177, discípulo de Policarpo, então indiretamente do apóstolo João, ele foi o primeiro teólogo cristão a tentar elaborar uma síntese global do cristianismo primitivo. Ele falava grego, mas para evangelizar os celtas e os germânicos aprendeu as línguas de povos considerados bárbaros. Ele realizou seu trabalho numa época de dura perseguição e num período histórico marcado por dois grandes eventos culturais: o surgimento do gnosticismo no âmbito cristão, primeira forma de heresia com uma estrutura doutrinária capaz também de fascinar muitos cristãos cultos; e a difusão no mundo pagão do neoplatonismo, uma filosofia abrangente que tinha algumas afinidades com o cristianismo.

Irineu tentou dar uma resposta decisiva para destacar os erros contidos no gnosticismo, uma doutrina que afirmava que a fé ensinada na Igreja era apenas um simbolismo para os simples, incapazes de compreender coisas difíceis, enquanto os iniciados, os intelectuais, entenderiam o que estava por trás desses símbolos, e assim formariam um cristianismo elitista, intelectualista. Por outro lado, o pastor de Lyon abriu uma janela de diálogo com o neoplatonismo e aceitou alguns de seus princípios gerais, desenvolvendo-os pessoalmente. Permanecem duas obras de seus escritos: os cinco livros intitulados “Contra as heresias” e a “Exposição da Pregação Apostólica”, definido também o mais antigo catecismo de doutrina cristã.

‘Campeão da luta contra as heresias’

Por meio de seus escritos, Irineu perseguiu um duplo objetivo: “Defender a verdadeira doutrina dos ataques dos hereges e expor com clareza as verdades da fé”, como disse o Papa Bento XVI, que dedicou toda uma catequese a esta “personalidade eminente” em sua audiência geral de 28 de março de 2007. “Irineu é antes de tudo um homem de fé e um Pastor”, disse o atual Papa emérito naquela ocasião. “Do bom Pastor ele tem o senso da medida, da riqueza da doutrina, o ardor missionário… Irineu é o campeão da luta contra as heresias”. “Firmemente arraigado na doutrina bíblica da criação”, ele refutou “o dualismo e o pessimismo gnóstico que desvalorizavam as realidades corporais” e reivindicou “decisivamente a santidade originária da matéria, do corpo, da carne e do espírito”.

Mas a obra de Irineu vai muito além da refutação da heresia: “Pode-se dizer que ele se apresenta como o primeiro grande teólogo da Igreja, que criou a teologia sistemática; ele mesmo fala do sistema da teologia, isto é, da coerência interna de toda a fé”, recordou novamente o Papa Bento XVI. “No centro de sua doutrina está a questão da Regra da fé e sua transmissão. Para Irineu, a Regra da fé coincide na prática com o Credo dos Apóstolos e nos dá a chave para interpretar o Evangelho”. Irineu levou o Evangelho que recebeu numa cadeia ininterrupta dos Apóstolos, que não ensinaram senão “uma fé simples”. Sempre argumentando com o caráter “secreto” da tradição gnóstica e observando seus êxitos contraditórios, ele – disse Joseph Ratzinger – teve o cuidado de ilustrar “o conceito genuíno de Tradição Apostólica” que é “pública”, “única” e “pneumática”, guiada pelo Espírito Santo “que a torna viva e a faz ser corretamente compreendida pela Igreja”.

(Fonte: Vatican News)

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