Sínodo sobre a Sinodalidade: ‘Abriram-se novos espaços’, diz Cardeal Grech ao fim da 1ª assembleia

Uma experiência de escuta em profundidade, o atual Sínodo sobre a Sinodalidade “abriu novos espaços” na Igreja, declarou o Cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, no sábado, 28, durante a coletiva de imprensa que apresentou o documento de síntese desta etapa. “Este Sínodo vai ficar na memória porque ganhamos novos espaços. Abrimos espaço em nossos corações para escutar os outros, havia escuta recíproca, partilha. Está mais fácil de se comunicar”, declarou o Cardeal.

Coletiva de imprensa de apresentação do documento-síntese (crédito: Filipe Domingues)

“Havia uma grande generosidade entre os membros, que abriram espaço uns aos outros. Emerge, ainda, a ideia de que na Igreja há espaço para todos. Temos que criar espaços para todos, ninguém excluído”, disse. “Estamos buscando viver o Evangelho de Cristo. Que todos se sintam acolhidos em sua própria casa.”, enfatizou.

O Cardeal acrescentou que a assembleia sinodal “abriu espaço” em diferentes momentos para a ação do Espírito Santo. “O Santo Padre havia dito no primeiro dia que o Espírito Santo é o protagonista do Sínodo, hoje repetiu isso e nos disse que o Espírito Santo encontrou espaço entre nós. Espero que consigamos continuar criando espaços para Ele e para nós.”

Além do Cardeal Grech, participaram da coletiva o Cardeal Jean-Claude Hollerich, que é o Relator-geral do Sìnodo, e o Secretário especial, Padre Giacomo Costa.

DOCUMENTO APROVADO

O documento aprovado ao fim da última sessão da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que se conclui oficialmente com a missa do domingo, 29, não é bem um “documento final”, como se costumava ver em assembleias anteriores, mas um “documento síntese”, que apresenta os principais temas discutidos ao longo deste mês de intenso trabalho entre os mais de 360 participantes. Essa assembleia foi realizada após dois anos da abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade, em outubro de 2021.

O documento é dividido em quatro partes: a primeira, sobre “O rosto da Igreja sinodal”; a segunda é intitulada “Todos discípulos, todos missionários”; a terceira, “Tecer laços construir comunidades”. A conclusão foi intitulada “Para prosseguir o caminho”, e sinaliza que as questões abertas neste Sínodo serão mais bem aprofundadas na próxima assembleia, de outubro de 2024, que reunirá os mesmos participantes no Vaticano.

Todos os pontos do documento foram aprovados com mais de dois terços dos votos dos membros da assembleia, de acordo com o Vaticano.

CLIQUE PARA SABER MAIS SOBRE O RELATÓRIO SÍNTESE

Nas palavras do Cardeal Grech, os pontos em que houve alguma divergência entre os participantes revelam simplesmente que “há questões que ainda estão abertas” e precisam de mais diálogo e reflexão.

“Depois de um mês de trabalho, o Senhor agora nos chama a voltar às nossas Igrejas para transmitir a todos vocês os frutos do nosso trabalho e continuarmos juntos a jornada”, diz o documento.

“Aqui em Roma éramos poucos, mas o sentido do caminho sinodal anunciado pelo Santo Padre é o de envolver todos os batizados. Desejamos fervorosamente que isso aconteça e queremos que aconteça comprometemo-nos a tornar isso possível. Neste relatório resumido, reunimos os elementos principais que surgiram no diálogo, na oração e na discussão que caracterizaram estes dias. Nossas histórias pessoais enriquecerão esta síntese com o tom da experiência vivida, que nenhuma página pode restituir.”

Foto: Vatican Media

UM MÉTODO A SE ADAPTAR

“Nem sempre é fácil ouvir ideias diferentes [das nossas]”, afirma o documento de síntese. “Mas a graça do Senhor nos permitiu viver uma verdadeira experiência de sinodalidade.”

Nesse sentido, Sínodo adotou, nesta assembleia, um método novo para esse tipo de reunião: a chamada “conversa no Espírito” ou “conversa espiritual”. Trata-se de um formato de diálogo adaptado a partir da tradição dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola.

Neste caso, momentos de fala e de escuta foram intercalados por minutos de silêncio, enfatizando a necessidade de se valorizar a fala de cada pessoa e permitindo que todos fossem ouvidos sem interrupções. Uma das justificativas da Secretaria do Sínodo para se usar esse método é de que permitiria aos participantes entrar em profundidade nos temas a serem abordados, além de possibilitar aos membros da assembleia estabelecer uma relação de confiança e autenticidade.

O documento síntese, no entanto, afirma que os membros do Sínodo sentiram ser preciso aperfeiçoar e continuar a ajustar o método para as diferentes realidades e necessidades.

Considerando a complexidade e o número de temas específicos abordados pelo Sínodo – que vão desde a valorização da ministerialidade dos leigos em equilíbrio com a promoção das vocações sacerdotais e religiosas, incluindo o papel das mulheres, até questões ligadas à abertura aos que se sentem marginalizados, a mobilização dos jovens, as estruturas de decisão, entre outros, O SÃO PAULO perguntou aos organizadores do Sínodo presentes na coletiva de imprensa se o mesmo método será o mais adequado para a próxima assembleia sinodal, em que mais decisões serão tomadas.

Em resposta, Padre Costa afirmou que a “conversa espiritual” não é o único método possível para o discernimento coletivo e provavelmente não será usado da mesma forma na próxima assembleia.

“Foi um método realmente importante, pois nos ajudou a tocar em nós, pontos essenciais. Mas não por acaso o Santo Padre havia decidido que a primeira assembleia deste Sínodo fosse para abrir as questões e a segunda para iniciar a fechá-las”, disse. “O método, na nossa impressão geral, permitiu deixar espaço para o Espírito intervir”, concluiu.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários