Tempo Pascal: o Ressuscitado anima os discípulos à missão evangelizadora

Reprodução da obra “Cristo Ressuscitado e os apóstolos”

Reanimados na esperança após a Ressurreição de Jesus, os cristãos vivem durante 50 dias – entre o Domingo de Páscoa e a Solenidade de Pentecostes – o Tempo Pascal, no qual a liturgia relata a presença do Ressuscitado junto ao povo e os ensinamentos que deixou aos apóstolos para que deem continuidade à Sua missão.

“Após a Ressurreição, seguem-se seis semanas nas quais se rememora a vitória da vida sobre a morte, o triunfo de Cristo, o triunfo da humanidade. Na quinta-feira após o 6º Domingo de Páscoa é a Solenidade da Ascensão. No Brasil, por não ser feriado, a Ascensão é celebrada no domingo seguinte, que seria o 7º da Páscoa”, explica o Padre Mauro Odoríssio, CP, mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, no livro “Missa: Mistério – Celebração – Organização”, editora Ave Maria.

O Tempo Pascal, portanto, é época oportuna para perceber a proximidade do Ressuscitado. Na primeira semana da Páscoa, por exemplo, as narrativas do Evangelho remontam à Ressurreição e às aparições de Cristo aos apóstolos; nas demais, Cristo caminha ao lado do povo, dando-se a conhecer por Sua Palavra e no partir do pão; apresenta-se como o Bom Pastor que zela por suas ovelhas e como a Videira à qual os ramos jamais devem se desvincular; e como Aquele que verdadeiramente amou à humanidade.

Na liturgia, os paramentos brancos remetem à paz e à alegria; e o Círio Pascal indica a Luz do Ressuscitado que cada cristão deve irradiar nas realidades em que está.

Também durante o Tempo Pascal, a oração mariana do Angelus dá lugar à récita do Regina Caeli (Rainha dos Céus), pela qual toda a Igreja se une à alegria da Virgem Maria pela Ressurreição de Jesus. Após esta oração, os papas dirigem aos fiéis mensagens reflexivas sobre este tempo. A seguir, reproduzimos trechos de algumas dessas alocuções de São João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

2º DOMINGO DA PÁSCOA – CRISTO NOS OFERECE A MISERICÓRDIA DIVINA

Após ressuscitar, Jesus aparece aos discípulos, oferece-lhes o dom da paz e os envia em missão (cf. Jo 20,19-31). Este domingo também é conhecido como o Domingo da Divina Misericórdia, em alusão a uma devoção propagada por Santa Faustina (1905-1938).

“A liturgia de hoje convida-nos a encontrar na misericórdia divina a fonte da paz autêntica, que Cristo Ressuscitado nos oferece. As chagas do Senhor ressuscitado e glorioso constituem o sinal permanente do amor misericordioso de Deus pela humanidade. Delas sai uma luz espiritual que ilumina as consciências e infunde conforto e esperança nos corações (....) Quando as provações e as dificuldades são mais ásperas, torne-se mais insistente a invocação do Senhor ressuscitado, mais premente a imploração do dom do seu Espírito Santo, manancial de amor e de paz” . (São João Paulo II – 07/04/2002)

3º DOMINGO DA PÁSCOA – O RESSUSCITADO FAZ-SE COMPANHEIRO DE VIAGEM

O Evangelho (cf. Lc 24,35-48) narra a passagem dos discípulos de Emaús, que se mostravam desiludidos após a crucificação de Jesus. O Ressuscitado, então, aparece-lhes, caminha com eles, e estes o reconhecem, tempos depois, no partir do pão.

“Emaús representa na realidade todos os lugares: a estrada que nos conduz é o caminho de todos os cristãos, aliás, de todos os homens. Nas nossas estradas, Jesus Ressuscitado faz-se companheiro de viagem para reavivar nos nossos corações o calor da fé e da esperança e partir o pão da vida eterna (...) Também hoje Ele parte o pão por nós e doa-se a si mesmo como nosso Pão”. (Papa Bento XVI – 06/04/2008)

4º DOMINGO DA PÁSCOA – O BOM PASTOR GUIA-NOS PELO CAMINHO DA VIDA

A liturgia ressalta que Cristo, o Bom Pastor da humanidade, dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10,11-18).

“Jesus quer estabelecer com os seus amigos uma relação que seja o reflexo da relação que Ele mesmo tem com o Pai: uma relação de pertença recíproca na confiança plena e na comunhão íntima. Para manifestar este entendimento profundo, esta relação de amizade, Jesus utiliza a imagem do pastor com as suas ovelhas: Ele as chama e elas reconhecem a sua voz, respondem ao seu apelo e seguem-no (...) A voz de Jesus é única! Se aprendemos a distingui-la, Ele nos guia pelo caminho da vida”. (Papa Francisco – 21/04/2013)

5º DOMINGO DA PÁSCOA – PERMANECER UNIDOS A ELE COMO OS RAMOS À VIDEIRA

Jesus se apresenta como a Videira. Seu Pai é o agricultor. Todo o ramo que Nele não dá fruto será cortado, e o que frutifica será cuidado para dar ainda mais frutos (cf. Jo 15,1-8).

“[Jesus exorta os discípulos] a permanecer unidos a Ele como os ramos à videira. Trata-se de uma parábola verdadeiramente significativa, porque expressa com grande eficiência que a vida cristã é mistério de comunhão com Jesus: ‘Quem permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer’ (Jo 15,5). O segredo da fecundidade espiritual é a união com Deus, união que se realiza sobretudo na Eucaristia”. (Papa Bento XVI – 14/05/2006)

6º DOMINGO DA PÁSCOA – AMAR COMO JESUS AMOU E PÔR-SE A SERVIÇO

No Evangelho (cf. Jo 15,9-17), Jesus ensina aos discípulos o mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”.

“O amor que Jesus nos dá é o mesmo amor com que o Pai O ama: amor puro, incondicional, amor gratuito. Não pode ser comprado; é gratuito. Doando-o a nós, Jesus trata-nos como amigos – com este amor – fazendo-nos conhecer o Pai, incluindo-nos na sua missão para a vida do mundo (...) Amar como Jesus ama significa pôr-se a serviço, a serviço dos irmãos, tal como Ele o fez ao lavar os pés dos discípulos. Significa também sair de si mesmo, desapegar-se das próprias seguranças humanas, das comodidades mundanas, para se abrir aos outros, especialmente aos mais necessitados”. (Papa Francisco – 09/05/2021)

ASCENSÃO DO SENHOR – EM CRISTO, A NOSSA HUMANIDADE É LEVADA A DEUS

Nesta celebração, a Igreja agradece a Deus Pai pela elevação de Jesus ao Céu. O Evangelho (cf. Mc 16,15-20) relata que a Ascensão se deu após Cristo ter enviado seus discípulos para irem pelo mundo e anunciarem o Evangelho.

“Os discípulos, quando viram o Mestre erguer-se da terra e elevar-se para o alto, não foram tomados pelo desânimo, como se poderia pensar; aliás, tiveram uma grande alegria e sentiram-se estimulados a proclamar a vitória de Cristo sobre a morte (cf. Mc 16,20) (...) a Ascensão diz-nos que em Cristo a nossa humanidade é levada à altura de Deus; assim, todas as vezes que rezamos, a terra une-se ao Céu”. (Papa Bento XVI – 20/05/2012)

PENTECOSTES – ENVIADOS PELO ESPÍRITO PARA TRANSFORMAR O MUNDO

Revestidos da força do Espírito Santo, os cristãos se tornam testemunhas do Ressuscitado e devem partir em missão para anunciá-Lo (cf. Jo 20,19-23). Nesta missa, o Círio Pascal é apagado, pois cheio do Espírito Santo cada cristão agora deve ser a luz do Ressuscitado.

“Com o Pentecostes, conclui-se o tempo da Páscoa, e esta conclusão consiste precisamente na oferta do Espírito Santo, segundo a promessa de Jesus. Contemplamos hoje a transformação dos discípulos do Senhor, de seguidores ainda amedrontados em testemunhas intrépidas, que anunciam com coragem a todos os povos a Boa-Nova. Recolhidos em oração unânime dentro do Cenáculo, com Maria, são enviados pelo Espírito de verdade a transformar o mundo inteiro num cenáculo de amor e de unidade”. (São João Paulo II – 23/05/1999)
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