
Moradora de Itacoatiara, na região metropolitana de Manaus (AM), Lena Souza Feitosa, hoje com 45 anos, decidiu iniciar exames preventivos com um ginecologista em junho de 2023, pensando em intensificar os cuidados com a própria saúde.
Durante um destes exames, foi detectado um pólipo, e após biópsia constatou-se o câncer do colo do útero. O tumor já se encontrava em estágio invasivo, mas sem metástases. Era preciso correr contra o tempo. Na companhia da irmã, Lena viajou para São Paulo e começou os tratamentos, o que incluiu 30 sessões de radioterapia, seis de quimioterapia e quatro de braquiterapia.

Agricultora e empreendedora, Lena permaneceu por quatro meses na capital paulista, tendo o apoio da família e a firmeza na fé. “Fiz um voto com o Menino Jesus, prometendo me doar mais. Ter fé foi fundamental para minha recuperação”, comenta a mulher que ia à missa com assiduidade, especialmente no Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, na Diocese de Santo Amaro, cujo Pároco e Reitor é o Padre Marcelo Rossi.
Lena se recorda que em uma das missas que antecederam o início de seu tratamento, ela foi escolhida entre os milhares de fiéis para colaborar com o momento do ofertório; escolha que para ela significou a resposta de que tudo acabaria bem.
A mulher tem retornado a São Paulo a cada cinco meses para acompanhamento médico. Seu caso é considerado em remissão, sem indícios de câncer, e ela continua tratando as sequelas causadas pela radioterapia. Lena tem buscado conscientizar as pessoas da comunidade em que mora sobre a importância da prevenção à doença.
O RESPONSÁVEL POR MAIS DE 90% DOS CASOS
O câncer do colo do útero é causado, em mais de 90% dos casos, pelo Papilomavírus Humano (HPV), um vírus sexualmente transmissível. Trata-se do terceiro tipo da câncer mais comum entre as mulheres no Brasil. Sua incidência varia em diferentes estados, sendo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se que em 2025 cerca de 17 mil novos casos da doença sejam diagnosticados no País. Esse número alarmante reforça a importância da campanha Março Lilás, que busca conscientizar as mulheres sobre a necessidade de exames preventivos.
No Sistema Único de Saúde (SUS), já está disponível a vacina contra o HPV, cuja aplicação é recomendada para meninas de 9 a 14 anos e para meninos de 11 a 14 anos. Apesar de a imunização prevenir até 70% dos casos, há resistências ao imunizante, por haver quem acredite que esta vacina incentive o início da atividade sexual dos adolescentes. Essa informação, porém, não encontra respaldo científico. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) assegura que diversas pesquisas já mostraram que adolescentes imunizados contra o vírus não são mais propensos a começar a vida sexual precocemente em comparação com aqueles não vacinados. Também um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que jovens residentes em estados que faziam campanhas de vacinação contra o HPV não tinham uma vida sexual mais ativa do que aqueles que viviam em outros estados.
“Estamos falando de um câncer que pode ser erradicado. Embora seja o terceiro mais comum, ele pode, futuramente, deixar de existir caso todos estejam vacinados”, destaca a cirurgiã oncológica Lais Botelho Brum.
PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS
Em todo o Brasil, o SUS oferece o exame Papanicolau, fundamental para identificar precocemente o câncer do colo do útero. Além disso, na rede privada de saúde já é possível encontrar o teste de DNA do HPV, que diagnostica a presença do vírus por meio de uma amostra de sangue.
Devido à natureza silenciosa da doença, o acesso a exames preventivos se torna ainda mais necessário. As mulheres também devem estar atentas a sintomas como corrimentos anormais, dores pélvicas, sangramentos durante a relação sexual e ardência vaginal.
Quando diagnosticado precocemente, as chances de cura do câncer do colo do útero aumentam significativamente. O tratamento inclui cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, dependendo do estágio da doença.
“No estágio dois, três e quatro, o tratamento envolve quimioterapia e radioterapia. Embora não cause a queda de cabelo, a quimioterapia é um tratamento muito agressivo, com efeitos colaterais significativos, como inflamações persistentes no intestino e na bexiga, além de dores pélvicas e sequelas”, explica Lais Botelho Brum, detalhando que este tipo de câncer é mais comum em mulheres acima dos 50 anos, uma vez que o vírus HPV pode levar até 20 anos para se desenvolver. No entanto, ela alerta para o aumento de casos em mulheres mais jovens, dada a precocidade com que adolescentes e jovens têm sua iniciação sexual.
CORRIDA CONTRA O TEMPO E CONSCIENTIZAÇÃO
A rotina exaustiva e com poucas horas de lazer de Diana Carolina, hoje com 44 anos, mudou após a realização de exames preventivos, em dezembro de 2020. Na ocasião, pequenas manchas brancas foram encontradas no seu colo do útero. Embora, a princípio, a equipe médica as tenha considerado inofensivas, em fevereiro de 2021 ela foi diagnosticada com câncer.

Após a notícia, Diana, formada em Educação Física e atualmente treinadora de comunicação e oratória, passou por um processo de reflexão sobre como lidaria com o diagnóstico. Simultaneamente, ela, que também é mentora de mulheres, continuou realizando exames e se preparando para o primeiro passo do tratamento: uma cirurgia para a remoção do tumor, que resultou, também, na retirada de dois centímetros do útero.
Graças ao diagnóstico precoce, Diana não precisou passar por quimioterapia ou radioterapia. Ela continuou com acompanhamento médico no Hospital Carmela Dutra, em Florianópolis (SC), e manteve, na medida do possível, uma rotina de exercícios e alimentação equilibrada.
Após essa experiência, Diana gosta de compartilhar com outras mulheres a importância do autocuidado e da atenção aos sinais que o corpo feminino pode apresentar para este e outros tipos de câncer.