Impulsionado pelos resultados no Judô e na Ginástica Artística, o Time Brasil retorna dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, encerrados no domingo, 11, com o seu segundo melhor desempenho na história em relação à quantidade de medalhas: 20 ao todo (veja a relação completa no box ao fim do texto), patamar inferior apenas ao dos Jogos de Tóquio 2020 – realizados em 2021 –, quando o País obteve 21 pódios.
A classificação final dos países nas olimpíadas considera como primeiro critério a quantidade de medalhas de ouro. Em Paris 2024, a bandeira brasileira esteve por três vezes no alto do pódio, aproveitamento abaixo dos sete ouros alcançados tanto em Tóquio quanto nos Jogos do Rio 2016.
No enredo de cada uma destas medalhas, muitas são as histórias de superação e os testemunhos sobre a capacidade do esporte “de unir as pessoas, favorecer o diálogo e a aceitação recíproca; [ele também] estimula a superação de si, forma o espírito de sacrifício, fomenta a lealdade nas relações interpessoais; convida a reconhecer os próprios limites e o valor dos outros”, como lembrou o Papa Francisco na mensagem enviada aos franceses antes do início desta edição olímpica.
REBECA ANDRADE: DA SUPERAÇÃO À CONSAGRAÇÃO
A ginasta Rebeca Andrade, 25, chegou a Paris como uma das favoritas à conquista de medalhas. E ela não só confirmou as expectativas, alcançando as pratas nas provas do Salto e do Individual geral, além do inédito bronze por equipes para o Brasil – ao lado de Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira (foto ao centro) – como surpreendeu a todos ao vencer a norte-americana Simone Biles na grande especialidade da adversária: a prova do Solo.
“Eu estou muito feliz e muito honrada por hoje estar nessa posição. É algo que é muito difícil de ser conquistado. A gente treina bastante, luta bastante, bate diversas vezes no quase e, às vezes, não acontece. Então, realmente é uma honra poder mostrar que é possível, que quando você tem uma equipe que luta por um sonho e que quer o mesmo que você, as coisas acontecem. E foi assim”, declarou após receber o ouro olímpico.
As quatro medalhas em Paris somaram-se às duas (um ouro e uma prata) que Rebeca conquistara em Tóquio 2020. Agora, ela é a atleta com mais medalhas na história olímpica do Brasil, um feito que a menina nascida em Guarulhos (SP) e criada apenas pela mãe – Rosa, uma empregada doméstica que sustentou oito filhos – talvez nem imaginasse quando na infância tinha que, por vezes, cami nhar aproximadamente duas horas até o ginásio de treinamentos por falta de dinheiro para pagar o transporte público.
COM A FORÇA DA FAMÍLIA
A decepção por ter ficado de fora do pódio na prova do C2 1.000 metros da Canoagem Velocidade, na quinta-feira, 8, parecia que iria pesar sobre o desempenho de Isaquias Queiroz na final do C1 1.000 metros, na sexta-feira, 9, prova em que fora medalhista de ouro em Tóquio. Mas com uma arrancada final nos metros decisivos, ele saltou do 5º lugar para a conquista da medalha de prata.
“No finalzinho da prova, eu lembrei que meu filho me pediu a medalha de ouro [a esposa e os dois filhos viram a prova das arquibancadas]. A de ouro não deu, mas fico feliz de poder subir ao pódio e agora vou entregar esta medalha para ele. Muito obrigado por acreditar em mim. Sou muito grato a todos pelo reconhecimento”, declarou Isaquias, agora dono de cinco medalhas olímpicas, incluindo duas pratas e um bronze nos Jogos Rio 2016 e o ouro em Tóquio 2020.
O amor da família também foi motivação extra para Beatriz Souza, medalhista de ouro na categoria +78kg do Judô. Após vencer a luta final, no dia 2, ela dedicou o título olímpico à avó, falecida neste ano.
Já Caio Bonfim, medalhista de prata na Marcha Atlética 20km, correu para os braços da mãe após cruzar a linha de chegada, no dia 1º, e recordou todo o apoio que recebeu dela e do pai, especialmente para suportar os insultos que sempre ouviu por praticar uma modalidade que envolve o intenso movimento dos quadris: “Quando meu pai me chamou para marchar pela primeira vez, eu fui muito xingado. Era muito difícil ser marchador”.
ALÉM DOS PRÓPRIOS LIMITES COM O APOIO DA EQUIPE
Passados 28 anos da primeira medalha de ouro do Brasil no Vôlei de Praia feminino, em Atlanta 1996, Ana Patrícia e Duda recolocaram a bandeira do País no alto do pódio, vencendo a final, na sexta-feira, 9, na arena montada aos pés da Torre Eiffel.
Para Ana Patrícia, a conquista foi ainda mais especial, já que nos últimos seis meses ela jogou com fortes dores em razão de uma hérnia lombar: “Comecei a me questionar muito se eu iria conseguir. Quando acabou aqui, pra mim foi um alívio, com toda essa dificuldade”, festejou a esportista, que ao lado de Duda, há dez anos, também conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude Nanquim 2014.
Superar os limites do corpo também foram cenas comuns entre as jogadoras das seleções femininas de vôlei, medalhista de bronze em Paris, e de futebol, que conquistou a prata na última olímpiada da craque Marta, 38.
E foi de uma das mais jovens medalhistas do Brasil em Paris, Rayssa Leal, 16, bronze no Skate Street, que veio a lição de acreditar até o último instante na medalha olímpica. Na decisão da modalidade, em 29 de julho, a brasileira só acertou a manobra que a levou ao pódio na última tentativa.
“Na final, eu errei duas manobras muito fáceis e disse a mim mesma: ‘o ouro já era’. Mas meu treinador me motivou a acreditar no pódio, disse que nada estava perdido ainda. Eu estava muito chateada, já que tinha treinado muito para estar aqui. E meu time me orientou, pois ninguém consegue fazer nada sozinho. Eles me disseram para eu ir devagar, me concentrar, ficar no ‘meu mundinho’, e deu tudo certo”, disse a jovem atleta que também foi medalhista de prata em Tóquio 2020.
A valorização do trabalho em equipe no esporte, algo vivenciado intensamente durante os Jogos Olímpicos, é um dos aspectos destacados no Documento Dar o Melhor de Si, publicado pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, em 2018: “O esporte é uma escola de espírito de equipe que ajuda cada um a superar o egoísmo. Aqui, a individualidade de cada atleta está ligada à equipe, que trabalha unida, apontando um objetivo comum”.
(Com informações do Comitê Olímpico do Brasil)