A pobreza e a fome caminham lado a lado

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Iniciativas para a arrecadação e distribuição de alimentos – como o movimento Pacto Contra a Fome e as múltiplas ações caritativas da Igreja com este mesmo propósito – ainda são indispensáveis no País, uma vez que se continua a viver o grave problema da fome.

Em maio deste ano, por exemplo, a Fundação Getulio Vargas (FGV) reportou que ao término de 2021, cerca de 29,2 milhões de brasileiros conviviam com algum tipo de insegurança alimentar.

No Brasil, os níveis de insegurança alimentar são mensurados com base na Escala Brasileira de Medida Domiciliar de Insegurança Alimentar (Ebia), segundo a qual a segurança alimentar ocorre quando todos os moradores de um domicílio têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente.

Quando isso não ocorre, há a insegurança alimentar, que pode ser leve (com comprometimento da qualidade da alimentação em detrimento da manutenção da quantidade percebida como adequada); moderada (com modificações nos padrões usuais da alimentação entre os adultos concomitante à restrição na quantidade de alimentos) e grave (quando se dá a quebra do padrão usual da alimentação com comprometimento da qualidade e redução da quantidade de alimentos para todos os membros da família, inclusive das crianças, ocasião em que as pessoas passam fome).

QUANTO MAIS POBRE, MAIS SE ESTÁ SEM ALIMENTO

Em linhas gerais, o aumento da fome no País é acompanhado do crescimento da pobreza das famílias, cenário que só não tem sido pior em razão dos programas de transferência de renda.

Conforme o estudo “Pobreza e miséria nos estados brasileiros”, divulgado em maio pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) – vinculado ao governo do estado do Espírito Santo – cerca de 10,47 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza no Brasil em 2022. No comparativo com o ano passado, o percentual caiu de 38,2% para 33%. Os dados têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE).

Apesar da melhora, o IJSN diz que ainda existem cerca de 70 milhões de pobres no Brasil e outros 13,72 milhões de pessoas (6,4% da população) vivem em condições de extrema pobreza. Em 2021, eram 20,03 milhões de pessoas nesse extremo.

“É fato que a pobreza e a extrema pobreza reduziram em 2022. Entretanto, ainda há um longo caminho para a reconstrução e a reestruturação de políticas públicas de assistência social efetivas e com caráter de Estado, que perpassem governos”, afirmou, no lançamento do relatório, Pablo Lira, diretor-presidente do IJSN.

Lira destacou que a melhoria no cenário de pobreza muito se deveu ao aumento do valor do Auxílio-Brasil, de R$ 400 para R$ 600, além de benefícios repassados aos governos estaduais para a população mais pobre.

O maior valor do Auxílio-Brasil, porém, não resultou necessariamente em melhorias na alimentação para os mais pobres.

“Mesmo as famílias que recebem o Auxílio Brasil, por estarem endividadas, não conseguem utilizá-lo somente para a compra de alimentos. O recurso precisa ser utilizado para pagar outras necessidades básicas, como aluguel, transporte, luz e água”, comentou Ana Maria Segall, pesquisadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), em setembro de 2022.

A UNIÃO PARA O COMBATE À FOME

Em 2023, a Campanha da Fraternidade aborda a temática da fome, com o objetivo de sensibilizar a sociedade e a Igreja para a solidariedade com quem convive com este flagelo e para o enfrentamento das causas do problema.

O texto-base da CF 2023 alerta para o impacto da fome na saúde e qualidade de vida: “Pessoas expostas a riscos sociais de insegurança alimentar, leve ou moderada, substituem a alimentação saudável (alimentos naturais e pouco processados) por uma alimentação extremamente prejudicial à saúde (alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, sal, gordura e conservantes), dado que seus preços são menores. ‘A fome produz uma raça de crianças raquíticas, homens condenados à baixa estatura, deficiências irremediáveis no desenvolvimento intelectual e gente mais vulnerável a doenças (…) Com fome, o ser humano não pode se manter nem se defender dos ataques dos parasitas ou das forças naturais’”. (texto-base nº 68).

Nos parágrafos 166 e 168 há alguns indicativos para que cada pessoa ajude a combater a fome no Brasil. Entre as ações estão:

  • Partilhar o que se tem, ainda que seja pouco, com aqueles que mais necessitam;
  • Questionar o próprio estilo de vida e de alimentação;
  • Colaborar com entidades sérias e transparentes que arrecadam alimentos;
  • Abolir o desperdício de alimentos, estabelecendo práticas de alimentação saudável;
  • Cobrar o poder público para que: ouça mais as demandas dos pobres e famintos; proporcione a produção e comercialização de alimentos sadios e baratos; organize grupos de orientação e educação alimentar, economia doméstica e horta em casa; promova audiências públicas que discutam a situação da fome, suas causas e consequências, e como solucioná-la.
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