Amizade Social: um tema para ser dialogado em diferentes realidades

A Campanha da Fraternidade 2024 tem entre seus objetivos “conscientizar sobre a necessidade de construir a unidade em meio à pluralidade, superando divisões e polarizações” e “incentivar e promover iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias, comunidades, grupos e povos”.

Com este propósito, ao longo da CF acontecem encontros formativos, reuniões e atos públicos, e também são ofertados subsídios que ajudam a refletir em diferentes realidades tanto o tema da Campanha – “Fraternidade e Amizade Social” – quanto seu lema – “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8). Neste ano, além do texto-base foram produzidos materiais que facilitam a reflexão sobre a CF nas esxolas, universidades, famílias e nos encontros de Catequese.

“É um material mais acessível, com dinâmicas e testemunhos, e em uma linguagem mais próxima das famílias, das crianças e da juventude, levando ao aprofundamento sobre a CF. Este ano, se fala da amizade social, um tema muito caro do sentimento do ser humano, que busca sempre criar relações”, explica o Padre Andrés Gustavo Marengo, Coordenador arquidiocesano da CF, em entrevista ao O SÃO PAULO.

DIVISÕES QUE DESTROEM RELAÇÕES

No texto-base da CF 2024 é destacada a pluralidade do ser humano, “dom da multiforme fecundidade do Criador para promover a integração e o crescimento da família humana, a partir da valorização de nossas diferenças. Nesse sentido, o Papa Francisco não se cansa de convidar-nos ao diálogo e a não ter medo de caminhar juntos, aprendendo e valorizando as nossas diferenças” (80).

Entretanto, não são raras as situações em que se verificam “divisões dentro da própria família, separações que procedem, por exemplo, de escolhas políticas. Algumas comunidades se sentiram atingidas por conflitos durante celebrações, pelo afastamento de pessoas e pelo rancor entre amigos de longa data, inimizades que permanecem até hoje” (34). Tais fatos, porém, não devem ser vistos com naturalidade: “Como aceitar que irmãos, membros de uma mesma família, desenvolvam tamanha inimizade que já nem mais se possam ver por possuírem opções políticas diferentes? Como compreender que pessoas abandonem suas comunidades pelo fato de essas já não atenderem mais às suas expectativas e pretensões políticas? (…) devemos tratar famílias e comunidades como lojas nas quais os produtos oferecidos devem ser os que rigorosamente desejamos, a partir do imperativo de nossas individualidades, caso contrário as abandonamos? Não existe um valor maior que podemos traduzir como fraternidade, amizade, afeto e gratuidade?” (69)

DIÁLOGOS QUE EDIFICAM E REAPROXIMAM

Diante dessas divisões, a CF 2024 apresenta o essencial para relaciona- mentos edificantes, mesmo entre aqueles que pensam diferente: “Se conseguirmos partir de um mínimo ponto comum e trabalhar juntos, abandonando os preconceitos, daremos grandes passos em direção à cultura do encontro e do diálogo” (123).

Trabalhar o tema da Amizade Social em diferentes situações, como no ambiente escolar, pode ajudar neste processo, conforme explica o Padre Andrés: “A escola reflete um pouco a nossa sociedade. Assim, a criança e o adolescente devem entender a Amizade Social, que é pensar o mundo além dos nossos gostos. A escola, portanto, deve educar para aceitar o diferente, saber criar comunhão, ressaltar os valores que estão na alma do ser humano. Estes subsídios da CF podem fazer com que os professores, por exemplo, mostrem aos alunos que grandes amizades construíram e transformaram a história. Por que não trabalhar o tema da Amizade Social em uma aula de História?”.

Também no ambiente universitário, segundo o Sacerdote, é enriquecedor que se fale sobre a temática da CF 2024: “O conceito da Amizade Social transpassa fronteiras, envolve a solidariedade nas relações internacionais, respeito ao estrangeiro, o tema das migrações, a reflexão sobre o trabalho conjunto com pessoas de outras culturas. Penso que na faculdade seja oportuno aprofundar quais são as raízes da inimizade social, para, assim, construir a amizade social. Vale que se fale também sobre as polarizações ideológicas, já que na universidade as pessoas devem exercitar a capacidade de dialogar sobre os grandes temas que afetam a todos”.

NA CATEQUESE E EM FAMÍLIA

Padre Andrés ressalta que um dos subsídios da Campanha é voltado para os encontros de Catequese: “Nele há um material sobre as 7 Dores de Maria. Outro subsídio é uma Via Lucis, feita em torno de palavras como ternura, perdão, reconciliação, diálogo e confiança, permitindo trabalhar precisamente o tema da Campanha da Fraternidade na oração, no caminho da luz”.

Há também um roteiro de seis encontros a ser feito em família, para refletir o tema da CF 2024 e vivenciar a Quaresma. “A Campanha da Fraternidade fala sobre gestos concretos para a reconciliação. Um deles é o de integrar as pessoas da família, para que se reúnam em torno do amor a Cristo e dos valores que Deus nos deu. Infelizmente, às vezes, nos separamos por questões de ideologias religiosa, social ou política. A CF nos leva à amizade que transpassa fronteiras e propõe o desafio de reconstruir a grande família de Deus”, ressalta Padre Andrés. Essa é também uma das ideias centrais da Campanha deste ano: “Nossas diferenças no ser, no pensar e no agir não nos podem dividir ou separar. Nossas diferenças são riquezas, oportunidades de crescimento, encaixes de comunhão!” (133).