
Psicóloga aposentada e mãe adotiva há 32 anos, Sandra Maria Mahfoud Marcoccia, que participa do projeto Famílias para a Acolhida. Nas celebrações do Dia Nacional da Adoção, em 25 de maio, ela conversou com o O SÃO PAULO sobre algumas atitudes dos pais adotivos que facilitam o processo de adaptação do filho recém-adotado, neste começo de convivência que é sempre desafiador.
A primeira recomendação é que haja abertura para conhecer a criança ou adolescente e deixar-se conhecer. “Acolher não é ‘adaptá-la ao meu mundo’, mas, com muita paciência, abrir-se e entender a experiência que aquela criança está vivendo: a estraneidade, o medo, a saudade, a solidão… Não só oferecer coisas que nunca teve, mas estar disposto a acompanhá-la. Nesse processo, como pais, também nos conhecemos melhor, descobrimos nossas incapacidades, fragilidades e até maldades”.
Sandra recomenda a leitura do livro “O Milagre da Hospitalidade, chama de Perdão da Diversidade”, de Dom Luigi Giussani, fundador do movimento Comunhão e Libertação, que fala em uma nova atitude de vida. “Primeiro, perdoar a si mesmo por ser diferente do que desejaria ser, e depois perdoar o outro que não corresponde à sua pretensão. Na minha experiência pessoal, nesses momentos difíceis me ajudava muito lembrar que aquela criança tinha o coração ferido pela sua história anterior, e me conectar com sua dor despertava novamente a afeição e a consciência de que nós, pais adotivos, não somos capazes de preencher seu coração porque ele tem um desejo infinito. Para mim, assim as coisas tomavam o seu lugar: só Deus pode responder ao desejo do meu coração e dos meus filhos. E daí brotam a humildade e a gratuidade”.
Ela também recomendou que perante as dificuldades, os pais busquem ajuda com especialistas, com a escola, com a família alargada, amigos, grupos de famílias e, principalmente, com quem possa falar-lhes do amor de Deus, “com quem nos lembra o bem de cada situação, com quem nos lembra que somos amados por Deus e tudo nos é dado para um bem”.

PAIS E FILHOS DEVEM EXPRESSAR SEUS MEDOS
A psicóloga explicou, ainda, que neste período inicial de convivência, o medo mais frequente da criança ou do adolescente adotado é o de não ser amado pela nova família, o que explica alguns comportamentos: “Muitas vezes, a criança só faz o que é esperado pelos pais por insegurança, não se sente livre, por medo de não ser amada ou medo de ser devolvida. Outras vezes, ao contrário, desafia os pais, provoca, para confirmar se é aceita, se é amada”.
Ainda de acordo com Sandra, outro medo frequente da criança e do adolescente é o de não se adaptar à nova família, à escola e de sentir-se sempre diferente dos demais, e até um sentimento de culpa por ter “abandonado” a família anterior ou a instituição que convivia antes: “São muitos sentimentos para serem elaborados e que levarão um bom tempo para serem integrados. É importante para os pais ter presente tudo o que está acontecendo na vida interior desse filho e tentar ajudá-lo com um ambiente acolhedor, que possibilite a expressão desses sentimentos, a elaboração da sua história, apoiando-o com paciência e sem cobranças”.
Por fim, Sandra Marcoccia lembra que também os pais podem sentir medo ao longo desse processo, mas que, ao enfrentá-lo, sinalizarão ao filho adotivo que ele também poderá vencê-lo, dando a ele, assim, mais segurança. “Toda acolhida é um sinal de esperança não só para aquela família, mas para o mundo. A adoção é um encontro humano, de partilha da própria vida, para caminhar juntos rumo ao nosso destino comum que é Deus”, enfatizou.