Cerca de 12% das crianças nascidas no Brasil são prematuras

Campanha Novembro Roxo alerta para a incidência de nascimentos antes das 37 semanas de gestação. Realização dos exames de pré-natal é indispensável para monitorar tal situação

Anualmente, cerca de 340 mil bebês nascem prematuros no Brasil, ou seja, a cada dez minutos seis partos são realiza­dos antes da idade gestacional adequada, totalizando quase 12% dos nascimentos. Os dados são do Ministério da Saúde.

O Brasil é o 10º colocado no ranking da prematuridade, atrás de países como Ín­dia, China, Nigéria e Paquistão, segundo o relatório Born Too Soon, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

É considerado prematuro o bebê que nasce antes das 37 semanas de gestação ou que possui menos de 2,5kg ao nascer. A complexidade de cada caso é classifi­cada de acordo com a idade gestacional. Consideram-se prematuros extremos os nascidos antes de 28 semanas; muito prematuros, os entre 28 e 31 semanas; e moderados, os que nascem entre 32 e 36 semanas de gestação.

Esses bebês costumam ter como ca­racterísticas pele fina, brilhante e rosada, pouca gordura sob a pele, pouco cabelo, orelhas finas e moles, musculatura fraca e baixos reflexos de sucção.

EMERGÊNCIA SILENCIOSA

Em muitos casos, o nascimento prema­turo ocorre de forma inesperada, contudo é mais comum em gestações múltiplas ou quando a mãe possui má-formação ute­rina ou desenvolve, ao longo da gravidez, doenças preexistentes.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Denise Suguitani, fundadora da ONG Prematuridade.com, explicou que o acesso ao pré-natal de qualidade é im­prescindível para evitar o nascimento de bebês antes das 37 semanas, mas lem­brou que a prematuridade é multifatorial.

“No Brasil, muitos dos casos de pre­maturidade estão relacionados a questões sociais de acesso à saúde. É preciso frisar que a prematuridade pode acontecer com qualquer mulher e o ideal é que se faça o check-up de saúde antes mesmo da con­cepção”, detalhou.

Além do check-up, outros cuidados podem ajudar a prevenir a prematuridade, como: a realização de consultas e exames durante o pré-natal, ter atenção à pressão arterial, realizar uma dieta equilibrada, evitar fumar e consumir bebidas alcoóli­cas e praticar exercícios físicos.

NOVEMBRO ROXO

O Dia Mundial da Prematuridade é re­cordado em 17 de novembro, mas desde o ano de 2014, no Brasil, todo este mês tem sido dedicado ao tema por meio da cam­panha Novembro Roxo.

Além da organização de caminhadas, palestras, lives e arrecadação de doações, a campanha prevê a iluminação de prédios na cor roxa para chamar a atenção da so­ciedade para o tema.

No site https://prematuridade.com é possível acessar conteúdos sobre o assunto e consultar o trabalho realizado pela ins­tituição, que inclui apoio psicológico para as famílias.

LUTA PELA VIDA

Segundo Denise, as consequências de um parto prematuro são a principal causa de morte entre crianças menores de 5 anos de idade.

Ela, que é nutricionista de formação e atuou em UTI neonatal ao longo da car­reira, contou que o contato pele a pele com a mãe desde os primeiros momen­tos de vida, a presença integral dos pais, o cumprimento do calendário vacinal, a amamentação com leite materno e o acompanhamento de equipes médicas in­terdisciplinares são fundamentais para o crescimento saudável do bebê.

Além do recém-nascido, os pais tam­bém necessitam de acolhimento. Uma dica, segundo Denise, é que os familia­res evitem perguntar sobre a saúde do bebê, pois, muitas das respostas podem deixar os responsáveis mais ansiosos e preocupados.

ANTES DO ESPERADO

Karen Sobral, 28, é enfermeira e antes de engravidar realizou exames periódicos. Os médicos suspeitaram de uma má-for­mação uterina, mas descartaram essa hi­pótese por causa de sua idade e pelo fato de ela nunca ter engravidado antes.

Karen Sobral e a filha Lívia, nascida com menos de 37 semanas (foto: Arquivo pessoal)

Meses depois, Karen e o marido, Felipe Silva, confirmaram a espera da primeira filha, Lívia. Ao longo do pré-natal não fo­ram indicadas complicações. No dia 2 de março de 2022, por volta das 5h, Karen percebeu que sua bolsa amniótica havia se rompido, antes do sétimo mês de gestação, e ao chegar à maternidade já estava em trabalho de parto avançado.

“Eu sabia que a Lívia não estava total­mente formada, mas foi um parto simples, pois ela já estava nascendo. Eu não tive contato pele a pele. Logo depois do nasci­mento nasci­mento, colocaram-na em uma incubadora e a levaram para a UTI neonatal”, relem­brou Karen.

Lívia nasceu com 37 centímetros e pouco mais de 1kg. Foram 70 dias de in­ternação e uma série de procedimentos para que a recém-nascida se desenvolvesse e ganhasse o peso adequado.

Durante esse período, Karen perma­neceu ao lado da filha e foi aprendendo os cuidados necessários, como a alimentação a cada três horas com o uso de leite de fór­mula, já que ela não produzia uma grande quantidade de leite materno, e a checagem da respiração.

A enfermeira realçou, ainda, que du­rante a internação e nos primeiros meses de vida da filha, o casal sentiu falta de um acompanhamento psicológico para o en­frentamento da situação.

NO COLO DA MÃE

Todos os dias ao chegar próximo à in­cubadora, Karen rezava para que Nossa Senhora Aparecida intercedesse pela vida da filha: “Eu já tinha muita fé, mas acho que depois que me tornei mãe, esse senti­mento ficou ainda mais forte, pois eu me coloco no lugar dela [Nossa Senhora] e ela se coloca no meu”.

Durante a internação da filha (foto acima), ela decidiu comprar um Terço. Ao chegar à loja, antes mesmo de solicitá-lo, Karen foi abordada por uma mulher que lhe ofereceu o Terço das Lágrimas de Nossa Senhora: “Ali foi o maior sinal de que eu estava amparada pela minha fé. Com isso, percebi que era um momento muito de­licado, mas eu não estava sozinha”, reme­morou.

Karen e sua mãe, Kátia Sobral, fizeram a promessa de que levariam ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida a roupa usada pela recém-nascida no mo­mento da saída da maternidade.

Após a alta, os cuidados permanece­ram com consultas interdisciplinares e vacinas. Hoje, com um ano e sete meses, Lívia tem tido bom desenvolvimento, está com o peso adequado para sua idade e não apresenta sequelas em decorrência do nas­cimento prematuro.

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