CF 2024: A Amizade Social praticada e ensinada por Jesus

Reprodução da obra ‘O Sermão da Montanha’, de Carl Henrich Bloch

A Campanha da Fraternidade 2024, com a temática da “Amizade Social”, tem entre seus objetivos fazer com as pessoas redescubram “a partir da Palavra de Deus, a fraternidade, a amizade e a comunhão como elementos constitutivos do ser humano”.

O lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8) remete a um dos ensinamentos dados por Jesus a seus discípulos, sendo o próprio Cristo o melhor exemplo para aqueles que desejam verdadeiramente viver a amizade social.

“Em sua pessoa, Ele oferece o encontro definitivo que transforma a lógica da Lei em lógica da Graça, que faz com que o Reino de Deus passe de projeto a dádiva e alcance sua forma plena. É importante compreender, no entanto, que, ao mesmo tempo em que Jesus permite ao ser humano alcançar as realidades salvíficas mais profundas, por dom e graça, Ele também cria um caminho ético que precisa ser assumido com todo esforço humano por quem deseja alcançar tais dádivas. E esse caminho é a fraternidade” (texto-base da CF 2024, 91).

UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS E COM UM ÚNICO MESTRE

O texto-base da Campanha aponta que em Cristo todos são irmãos, unidos pelos vínculos do amor, a exemplo do Mestre. “A comunidade de Jesus é comunidade daqueles que se reúnem ao redor de uma mesma mesa e celebram o Sacramento que forma comunhão, que faz irmãos. Ao redor deste altar, apenas um pode ser o Senhor e Mestre” (92).

Nas Sagradas Escrituras, muitas são as passagens em que Cristo dá testemunho do “Vós sois todos irmãos”, que inspira o lema da CF 2024.

“Interpelado a respeito de sua família, Jesus dissera: ‘Eis minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’ (Mt 12,49-50) (…) Ele eleva os laços humanos a um nível muito mais alto: ao nível da fraternidade universal” (CF 109).

ABERTO À VONTADE DO PAI

O parágrafo 109 do texto-base lembra que Jesus teceu laços de amizade social ao fazer a vontade do Pai:

  • Anunciou o Reino para todos e trouxe para perto os menos prováveis (cf. Mt 4,18-22);
  • Associou uns aos outros em uma relação fraterna e a selou pela oração (cf. Mt 6,9);
  • Alertou a respeito do julgamento mútuo e convidou ao exame da própria consciência (cf. Mt 7,3-5);
  • Ensinou a correta interpretação da Lei e teve misericórdia dos que a ela estavam submetidos (cf. Mt 12,1-8);
  • Anunciou a Boa-Nova aos pobres e saciou suas necessidades (cf. Mt 14,13-21);
  • Viveu entre os necessitados e ensinou a renúncia (cf. Mt 19,16-26);
  • Pregou a misericórdia e com ela combateu o pecado (cf. Mt 18,21-35);
  • Proclamou a salvação e, com sua Morte e Ressurreição, nos salvou (cf. Mt 28,1-8).

MESTRE E AMIGO

O capítulo 15 do Evangelho segundo João é mencionado no texto-base como uma chave para a compreensão da amizade social propagada por Cristo.

“Primeiro, Jesus utiliza uma imagem muito clara, ensinando aos discípulos o seu lugar no Reino de Deus: o discípulo é ramo da videira verdadeira que é Jesus. Não lhe cabe o lugar do caule ou da seiva que nutre e provê a vida, mas sua vocação é a união à videira que é Jesus: só Nele há vida. Essa união é possível se o discípulo guarda o mandamento do Mestre, que é um único: ‘Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei’ (Jo 15,12)” (CF 111).

Neste mesmo parágrafo, é enfatizado que tal amor deve ser traduzido no serviço ao próximo: “O desejo de Jesus é o amor-serviço, a amizade pela qual Ele mesmo esteve unido aos que o Pai lhe dera: ‘Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai’ (Jo 15,15). Se o amor de Jesus foi a construção de uma relação de amizade que comunicara a verdade do Pai, então este deve ser o amor que distingue o discípulo: amor a exemplo do Mestre, amizade que comunica a verdade do Pai por meio da entrega absoluta de si mesmo”.

A EXEMPLO DO BOM SAMARITANO

Na encíclica Fratelli tutti (FT), publicada em 2020 e que foi inspiração para o tema da CF 2024, o Papa Francisco recorda a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,25-37) – que ao ver um homem caído no caminho de Jerusalém para Jericó dispendeu tempo para dar-lhe atenção, curar-lhe as feridas e ainda pagou um lugar para que ficasse alojado – para ressaltar que similar atitude é a que se espera de cada cristão.

“Esta parábola é um ícone iluminador, capaz de manifestar a opção fundamental que precisamos tomar para reconstruir este mundo que nos está a peito. Diante de tanta dor, à vista de tantas feridas, a única via de saída é ser como o bom samaritano. Qualquer outra opção deixa-nos ou com os salteadores ou com os que passam ao largo, sem se compadecer com o sofrimento do ferido na estrada. A parábola mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e reabilitam o caído, para que o bem seja comum. Ao mesmo tempo, a parábola adverte-nos sobre certas atitudes de pessoas que só olham para si mesmas e não atendem às exigências ineludíveis da realidade humana” (FT 67).

COMPASSIVO, JESUS CHOROU

No texto-base, também há menção ao capítulo 11 do Evangelho segundo João, no episódio em que Cristo compartilha a dor das irmãs Marta e Maria, após a morte de Lázaro.

“Jesus se permite ter o sentimento delas e chora […] Tendo a salvação em suas mãos, Ele deixa entre os três um dos seus sinais mais claros ao chamar Lázaro para fora do túmulo. Jesus explicita, no episódio do sinal que precede o sinal definitivo da Ressurreição, quais os termos do amor-amizade que Ele espera ser o vínculo entre seus discípulos: começa pela cultura do encontro verdadeiro e pessoal, prova-se pela compaixão, distingue-se pelo anúncio da esperança e realiza-se como sinal e antecipação da salvação […] Em nosso tempo, se desejamos construir vínculos de amizade que também comuniquem o que recebemos do Pai, a ação de Jesus deverá ser o modelo” (CF 112).

QUEM AMA A DEUS, NÃO ODEIA SEU IRMÃO

Duas outras passagens do Evangelho segundo João são mencionadas no texto-base como expressões da amizade social desejada por Cristo: “‘Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. Mas quem odeia o seu irmão está nas trevas, caminha nas trevas e não sabe aonde vai, pois as trevas cegaram seus olhos’ (l Jo 2,10-11). E: ‘Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê’ (l Jo 4,20)” (CF 113).

Nesta mesma perspectiva, no parágrafo 238 da Fratelli tutti, o Papa Francisco aponta que Cristo nunca instou as pessoas a práticas de violência ou de intolerância: “Ele próprio condenava abertamente o uso da força para se impor aos outros: ‘Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós’ (Mt 20, 25-26). Por outro lado, o Evangelho pede para perdoar ‘setenta vezes sete’ (Mt 18,22)”.

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