Evento realizado em São Paulo reuniu especialistas em Inteligência Artificial (IA), gerenciamento de crise, mídia, religião e sociedade, além de influenciadores digitais
Inteligência Artificial, Lei de Proteção de Dados e Discernimento no Ambiente Digital foram os principais temas do 1º Congresso de Comunicação realizado nos dias 15 e 16, em São Paulo.
Organizado pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), em parceria com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Arquidiocese de São Paulo, a formação reuniu mais de 200 participantes de diversas partes do País na Faculdade Paulus de Comunicação (Fapcom), na Vila Mariana.
O Congresso teve como conferencistas especialistas em inteligência artificial (IA), gerenciamento de crise, mídia, religião e sociedade, além de influenciadores digitais.
As reflexões foram iniciadas por Dom Valdir José de Castro, Bispo de Campo Limpo (SP) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, que tratou sobre a “Igreja e discernimento no ambiente digital, preservar identidade e transmitir valores”.
Partindo de um histórico sobre a relação entre a Igreja e a comunicação, o Bispo mencionou as Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, desde São Paulo VI até as mais recentes do Papa Francisco, mostrando como o Magistério da Igreja foi se preocupando com a comunicação e acompanhando as mudanças ao longo do tempo.
Ao abordar a questão da preservação da identidade eclesial, Dom Valdir sublinhou que a missão da Igreja é evangelizar, sobretudo, por meio do testemunho. Nesse sentido, ele reforçou que os cristãos são chamados a agir não apenas como indivíduos na rede, mas como comunidade.
PASTORAL
O congresso também contou com a participação on-line da diretora do Departamento Teológico-Pastoral do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Nataša Govekar. Ao tratar sobre a Teologia da Comunicação, ela motivou os participantes a se perguntarem de onde viemos e aonde queremos chegar como comunicação.
Partindo do fundamento trinitário do Cristianismo, a teóloga eslovena indagou como Deus comunica e de que modo sua comunicação é eficaz. Ela afirmou que Deus cria por meio da Palavra que se fez carne e que gera comunhão, pois “não há comunhão sem comunicação”.
Govekar enfatizou que Jesus comunicava com a palavra, com a vida, não de fora, mas de dentro. Disse, ainda, que “a comunicação cristã não pode estar dissociada da doação por amor”, e lembrou que, por vezes, as atitudes dos católicos nas redes sociais são contrárias a esse amor.
LGPD
O tema da proteção de dados foi abordado por João Fábio Azeredo, mestre em Direito Civil pela Faculdade de Direito da USP. Segundo o advogado, por meio da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), busca-se proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural, bem como proteger o indivíduo e evitar que seus dados pessoais sejam usados contra si.
Azeredo salientou a diferença entre dados pessoais e dados pessoais sensíveis, explicitando as situações em que a lei permite o tratamento de dados pessoais.
GESTÃO DE CRISE
Lúcia Martins, profissional do setor de relações públicas e comunicações, refletiu sobre a comunicação institucional e gerenciamento de crise. Ela partiu do conceito de crise e dos sinais de alerta, quando essa surge e como as pessoas não reagem.
A jornalista enfatizou que não se deve minimizar as crises e refletiu sobre o impacto da reputação nos negócios. Indicou, também, como lidar com a mídia diante das crises, tendo presente a mensagem a ser passada, o cuidado com a imagem da instituição, os aspectos positivos, riscos e pontos frágeis.
Mídia, Religião e Sociedade foi o tema abordado por Luiz Mauro Sá Martino, doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP e professor da pós-graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero. Na análise histórica, o professor destacou os passos dados no Brasil pela mídia nos últimos cem anos, iniciando com as experiências iniciais no rádio, entre 1920 e 1950, época de hegemonia católica; o crescimento do pentecostalismo na televisão, de 1950 a 1990; e a midiatização da religião, a partir de 1990; completando com a questão do entretenimento como modelo religioso na sociedade atual.
A jornalista Germana Costa Moura tratou da gestão de imagens na comunicação digital, alertando para o que chamou de “viciados emocionais”. Ela também destacou a mudança de comportamento na sociedade atual, em que o consumidor tem voz, pois basta que para tal ele tenha um smartphone em mãos.
O papel da Igreja na comunicação da verdade e o combate à disseminação de notícias falsas foi o tema abordado pelo Padre Arnaldo Rodrigues, Assessor de imprensa da CNBB. O Sacerdote reforçou que a Igreja precisa ser como um “farol ético” de responsabilidades, a fim de ajudar as pessoas a se pautarem pela verdade.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Maria Cristina Machado Domingues, mestra em Engenharia da Computação e diretora técnica de Tecnologias Digitais da USP, abordou as vantagens e riscos da inteligência artificial, apresentando as cinco divisões da IA: sistemas baseados em regras; aprendizado de máquina; redes neurais e aprendizado humano; processamento de linguagem natural; a robótica e seus impactos no emprego e no desenvolvimento cognitivo.
Falando sobre o futuro dos artefatos de IA e seu uso na prática, Maria Cristina apontou como riscos a falta de transparência, a preocupação com a privacidade, dilemas éticos, questões de segurança, concentração de poder, dependência da IA, deslocamento de trabalho, entre outros. Uma realidade que apresenta desafios legais e regulatórios. Também há o grande risco de que com a IA haja perda da conexão humana.
Entre as vantagens, a especialista destacou que as ferramentas de IA possuem uma alta precisão em tarefas complexas e em tarefas repetitivas, o que permite lidar com grandes volumes de dados, possibilitando melhor interação entre o homem e a máquina.
PARCERIA
Padre Michelino Roberto, Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, explicou ao O SÃO PAULO que o congresso estava sendo pensado já há um bom tempo: “Inicialmente, reunimos aqui na Fapcom e, depois, com a CRB e com a CNBB, pois decidimos realizar algo em conjunto e com abrangência nacional, para nos aprofundar sobre alguns aspectos importantes e atuais da comunicação”.
Irmã Neusa Santos, assessora de comunicação da CRB, que coordenou a organização do evento, avaliou positivamente o congresso, sublinhando a adesão e o interesse dos participantes. A religiosa também destacou que o encontro foi expressão de comunhão e conexão entre os comunicadores da Igreja.
“As pessoas participaram intensamente, os palestrantes trouxeram inovações nas reflexões. Todos contribuíram para que pudéssemos como vida religiosa e leigos das igrejas avançarmos no dinamismo e na compressão da comunicação”.
(Colaboraram: Cleide Barbosa e Fernando Arthur)