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Consagrados: Frei Paolo deixou a estabilidade de vida para evangelizar na Amazônia

“[Os religiosos consagrados] propõem, por assim dizer, uma ‘terapia espiritual’ para a humanidade, porque recusam a idolatria da criatura e tornam de algum modo visível o Deus vivo. A vida consagrada, especialmente em tempos difíceis, é uma bênção para a vida humana e para a própria vida eclesial.”
(Citação extraída da exortação apostólica Vita Consecrata, de São João Paulo II, número 87)

ACN.

Antes de vestir o hábito dos Frades Menores Capuchinhos, Frei Paolo Maria Braghini ti­nha uma vida estruturada: era atleta profissional de vôlei e estava noivo, mas ouviu um chamado que mudou tudo. Na ida a Lourdes, na França, para pedir a bênção a Nossa Senho­ra para seu futuro Matrimônio, ele sentiu uma inquietação e foi sozinho à gruta mariana às 2h da manhã. Diante da imagem da Virgem, ouviu no coração: “Deixa tudo e me segue”.

Dias depois, Paolo contou à noiva o que havia vivido. Tentaram continuar juntos, participando como casal de uma experiência missionária no Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (Pime), mas o chamado era mais forte. “Não nos separamos porque o amor acabou, mas porque chegou um chamado que ia além da­quele amor”.

Frei Paolo fala com muito cari­nho daquela que ainda hoje é uma grande amiga: “Sou muito grato a Michela. Não é fácil encontrar um amor tão gratuito, que entende o bem do outro e o deixa ir.”

Durante uma viagem com a mãe à Grécia, ouviu de novo a voz interior: “Vai para Assis.” Sem nunca ter visi­tado a cidade nem conhecer a vida de São Francisco, partiu no dia seguin­te. Durante as oito horas de trem, conheceu jovens que o convidaram para um encontro vocacional. Logo na entrada, um cartaz trazia a per­gunta que martelava em seu coração: “Senhor, o que queres que eu faça?”

Na primeira palestra, ouviu o tes­temunho de Frei Gino Alberat, ca­puchinho com mais de 40 anos de missão na Amazônia brasileira. “Fui invadido por uma alegria tão grande que não sei explicar. Senti que aquela era exatamente a vida que eu buscava.”

Ordenado sacerdote, Frei Paolo desembarcou na Amazônia em 1999. De Manaus até a tríplice fronteira com Colômbia e Peru, foram cinco dias de barco até a Paróquia São Francisco de Assis, na Diocese do Alto Solimões, então há 15 anos sem padres. “Em algumas comunidades, fui o primeiro a celebrar um batismo. Havia muita violência, alcoolismo e suicídio entre os jovens. Eles gritavam por socorro.”

Aos poucos, Frei Paolo per­cebeu que o sofrimento daque­le povo decorria da compara­ção com o mundo das cidades e da tevê. “Eles passaram a sentir vergonha de serem indígenas. Isso gerava tristeza, vício, auto­negação. Nossa missão foi mos­trar a beleza da cultura deles, ajudá-los a amar novamente suas raízes e dizer que Deus as­sim os criou, e que eles são dom para todos do jeito que são.”

Ele aprendeu a língua ti­cuna, formou catequistas em cada comunidade e inspirou vocações. Em 2020, aconteceu a or­denação do primeiro diácono ticuna. Hoje, jovens indígenas se preparam para o sacerdócio no seminário, e mulheres ticunas iniciam o caminho para fundar a primeira congregação religiosa da etnia.

Após 26 anos na floresta, Frei Pa­olo foi enviado de volta a Assis. “Nós evangelizamos o povo, mas são eles que mais me evangelizam. Eles me ajudaram a ser um franciscano me­lhor, pela fraternidade entre eles e pela harmonia com a natureza.”

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