
O Simpósio da Igreja Católica na COP30 foi aberto, na tarde desta quarta-feira, em Belém (PA), com uma entrevista coletiva à imprensa concedida pelo arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), Cardeal Jaime Spengler, e pelo Arcebispo de Manaus (AM) e presidente do Regional Norte 1 da CNBB, cCrdeal Leonardo Ulrich Steiner.
Os cardeais destacaram a importância histórica da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas na Amazônia Brasileira, e a contribuição da Igreja na reflexão e mobilização diante da crise climática.
“Certamente é um momento muito importante para a história do nosso Brasil e da Amazônia. A Terra, poderíamos dizer, está quase a sagrar até a morte. Ela pede socorro. Ela pede ajuda. E nós, como Igreja na América Latina e no Brasil, nesses últimos anos, temos desenvolvido uma série de ações que vêm de encontro ao grito que nasce da terra, dos povos ribeirinhos”, afirmou dom Jaime.
Ele recordou as iniciativas promovidas pela Igreja no sentido da promoção da consciência comunitária em torno dos desafios e das decisões relacionadas às mudanças climáticas, como a Campanha da Fraternidade sobre a Ecologia Integral e os seminários preparatórios para a COP30 nas macrorregiões do Brasil.
“É motivo de alegria acolhermos a COP30 na Amazônia. Dado o caminho que estamos percorrendo, creio que teremos muitos elementos para dar graças a Deus”, afirmou dom Leonardo, ponderando também que muito já foi aprovado aprovado no passado, mas pouco foi feito, como as decisões da COP de Paris.
O cardeal recordou a trajetória ativa de mais de 50 anos da Igreja na Amazônia com a preocupação com o cuidado da natureza e dos povos originários.
“Se formos olhar, por exemplo, o documento de Santarém, em 1972 já se abordava essa questão. É um longo caminho percorrido pelas Igrejas que estão na Amazônia, ligando sempre a questão dos povos indígenas, dos pobres e o meio ambiente. Esse é o caminho que as Igrejas que estão na Amazônia têm buscado percorrer”, ressaltou.
Abaixo, alguns destaques a partir das perguntas dos jornalistas:
Como a Igreja pode dialogar com governos e empresas sem perder sua identidade profética
Dom Jaime – “Eu creio que, a partir da experiência da fé, nós não podemos nos calar. A Igreja possui uma rica tradição no cuidado e na promoção da vida. E é um tesouro precioso ao qual, sempre de novo, nós podemos recorrer. E eu creio que é a partir disso que nós podemos dialogar com as diversas forças da sociedade, estando muito atentos àquilo que a ciência hoje nos traz como dados. A ciência nos ajuda, coopera para iluminar aquilo que para nós temos como princípio de fé: o cuidado, a promoção da vida em todas as suas formas de manifestação”.
Dom Leonardo – “Quando falamos em governo, não estamos pensando somente no Executivo e no Judiciário. Talvez no Brasil, passemos por um momento extremamente difícil no Legislativo. Com a aprovação da PEC da destruição, vemos para onde andam nossos senadores e senadoras, deputados e deputadas. Diante da PEC da destruição, a Igreja não se cala.
Ações práticas e contínuas em vista da ecologia integral

Dom Leonardo – “Estamos para aprovar uma nova Comissão Pastoral em nossa Conferência Episcopal, que é justamente a Comissão de Ecologia Integral e de Mineração. Queremos recolher experiências para dinamizar. Minha questão é se conseguimos mudar o horizonte de leitura que temos em relação à Ecologia, porque estamos dominando, depredando o nosso mundo, a nossa natureza, mas em vista do lucro, ao passo que essas atividades [pastorais, como a Pastoral da Ecologia], essas iniciativas não visam o lucro, mas visam o cuidado e o cultivo. Quanto mais nós pudermos mostrar essa realidade, mais teremos a possibilidade de despertar a nossa sociedade e o mundo para a necessidade urgente do cuidado com a nossa casa comum – ou como diria Papa Francisco – a necessidade de uma conversão ecológica. Toda iniciativa semeada no chão do povo de Deus sempre dá muito fruto.
Frutos do Sínodo e da Querida Amazônia
Dom Leonardo – O Sínodo e a Querida Amazônia vieram confirmar o caminho percorrido pelas Igrejas Particulares da Amazônia. É impressionante nós lermos os documentos que as diversas assembleias que foram acontecendo na Amazônia e são refletidas no texto do Documento Final e também são refletidas no texto Querida Amazônia. A maior conquista, penso eu, foi que as Igrejas, as circunscrições eclesiásticas que estão na Amazônia viram confirmado o caminho que estavam a percorrer, mas continuaram a percorrer um caminho cheio de esperança. E a grande questão que o Papa Francisco tinha nos ajudado em Querida Amazônia é ver a Igreja profundamente inserida em todos os lugares onde ela está, não apenas nas comunidades de fé, mas comunidades de fé que estão rodeadas da sociedade, da cultura, fala até em espiritualidade inculturada.
As ações da Igreja Católica na COP30
Dom Jaime – “Queremos dar continuidade àquilo que a Igreja já vem fazendo, nas diversas realidades, onde nós estamos: sermos testemunhas de esperança sem perder a dimensão profética”.
Dom Leonardo – “O Reino de Deus está próximo e ele é a visibilização do Reino completado: o crucificado-ressuscitado visibiliza um Reino que é capaz de ser vivido e é capaz de ser instaurado, que vai sendo instaurado na história. Nós não podemos pensar no Reino de Deus sem levarmos em consideração a Ecologia Integral. A Ecologia Integral faz parte da fé, faz parte de todo o caminho que nós fazemos para viver o Evangelho, faz parte da visibilização do Reino de Deus. Se a Casa Comum estiver desarranjada, está desarranjado também o Reino de Deus. Temos um caminho cheio de vida, exigente, um caminho de conversão, mas é o caminho da instauração do Reino para podermos todos, um dia chegarmos e louvar e bendizer a Deus por todas as criaturas, pela obra que ele criou e nos deixou viver.
Por Luiz Lopes Jr./CNBB






