Da embalagem se faz asfalto; da garrafa PET, luminárias de energia limpa

Exemplos de sustentabilidade: asfalto a base de plástico reciclado; e luminária de energia renovável em suporte de garrafa PET

Arquivo Dow

Já imaginou se as embalagens plásticas de sua casa se transformassem em asfalto? Isto não é mais utopia. Os quilômetros 170 e 171 da Rodovia Washington Luís, entre as cidades paulistas de Rio Claro a São Carlos, foram pavimentados no ano de 2022 reutilizando 200 mil embalagens plásticas, a partir de uma técnica inédita no Brasil.

Trata-se da tecnologia “Plastic Road”, ou “Estrada de Plástico”, lançada em 2019 no México. Segundo Renata Pimentel, cientista de suporte técnico e desenvolvimento de aplicações para plásticos na empresa Dow, responsável pela obra na rodovia, o pavimento modificado com plástico pós-consumo diminui a quantidade de embalagens nos aterros e ajuda a reduzir a emissão de gases do efeito estufa, bem como o consumo de energia e a necessidade de recapeamento.

“A tecnologia já resultou em mais de 100 toneladas métricas de resíduos reaproveitados em mais de 600km de rodovias pavimentadas em 11 países”, afirmou Renata ao O SÃO PAULO.

DE RESÍDUO A COMPONENTE DE ASFALTO

Para a fabricação do “asfalto de plástico”, são utilizadas embalagens flexíveis, como o saco plástico de pão e pacotes de bolachas e salgadinhos. O material é recolhido por empresas de reciclagem que fazem a seleção e separação dos resíduos, os quais, depois, são higienizados, cortados em pequenos pedaços e acrescentados ao asfalto líquido (piche).

“Após esse processo, esse ligante misturado com plástico é enviado à usina de asfalto, onde ocorre a mistura com pedras, dentro de um grande tambor aquecido a altas temperaturas, até que se atinja a consistência ideal para aplicação na via”, explicou a representante da empresa.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfaltos (Abeda), há mais de 1,7 milhão de quilômetros de estradas no Brasil, dos quais pouco mais de 211 mil quilômetros são pavimentados (12,3%). A adoção dessa tecnologia, portanto, também poderá levar à melhoria deste índice.

MAIOR VIDA ÚTIL DAS ESTRADAS

Renata explicou que as misturas asfálticas foram testadas em ensaios laboratoriais e mecânicos, para certificar que o asfalto com plástico reciclado é viável e atende às normas de qualidade, durabilidade e sustentabilidade, sendo uma alternativa para a aplicação em rodovias e pavimentos urbanos.

“Se essa técnica fosse implantada em todas as rodovias asfaltadas do Brasil, mais de 80 bilhões de embalagens plásticas seriam eliminadas do meio ambiente e proporcionariam estradas mais duráveis e resistentes em comparação ao asfalto convencional”, disse Renata, enfatizando que a “composição com o plástico acrescenta 30% mais durabilidade e performance, permitindo que a rodovia consiga suportar cargas mais pesadas e um fluxo de trânsito mais intenso, exigindo menos manutenção e recapeamento”.

Outros detalhes sobre a ação podem ser vistos no site da empresa Dow, clicando aqui.

Kit Reyes

GARRAFAS DE LUZ

E não é apenas nas estradas que os itens reciclados podem ter um destino mais eficaz do que o simples descarte. Desde 2014, o movimento Litro de Luz atua junto a comunidades, com vistas a reaproveitar a energia solar para levar iluminação a áreas sem fornecimento de energia elétrica, usando materiais recicláveis e tecnologias sustentáveis.

A entidade adaptou garrafas PET em canos PVC, que recebem lâmpadas LED e baterias e se transformaram em lâmpadas internas e externas.

O Litro de Luz é parte do movimento global Liter of Light, criado nas Filipinas em 2011, mas inspirado na técnica conhecida como “Lâmpada de Moser”, criada em 2002 pelo mecânico brasileiro Alfredo Moser. Ele instalou no telhado uma garrafa PET abastecida com água e alvejante. Em contato com a luz solar, a garrafa gerava iluminação equivalente a uma lâmpada de 60 Watts.

Por meio de seus colaboradores e mais de 200 voluntários, o Litro de Luz constrói postes e lâmpadas solares compostos por materiais de baixo custo, como garrafas PET, canos PVC, placas solares, baterias e LEDs.

Os postes de PVC sustentam as lâmpadas e as placas solares, sem a necessidade de ligação com rede elétrica. A luz solar captada pela placa faz funcionar a lâmpada de LED instalada dentro da garrafa.

“Em um ambiente externo, como nas ruas, o sistema funciona à noite e desliga automaticamente de manhã. Dentro de casa, as lâmpadas têm autonomia de cinco horas”, afirmou Tayane Cristine Belem Costa, diretora de marketing e parcerias da instituição.

ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO

Em dez anos de atuação, presente em 150 comunidades, o Litro de Luz já impactou diretamente a vida de mais de 30 mil brasileiros. Apesar dos avanços na expansão da rede elétrica nas últimas décadas, quase 1 milhão de brasileiros ainda não têm acesso a energia elétrica e 6 milhões vivem em áreas sem iluminação pública.

Tayane explica que a organização, além de possibilitar o acesso à iluminação a partir de lâmpadas feitas de garrafa plástica, estimula o engajamento comunitário nos territórios em que as ações são realizadas: “O nosso maior diferencial é que não simplesmente oferecemos as soluções para as comunidades, mas as ensinamos a montar os itens, para que depois que formos embora, consigam fazer a manutenção, replicar e manter o nosso impacto”.

“Nossa missão é iluminar o Brasil. Uma garrafa de cada vez, cuidando do meio ambiente, reciclando e ressignificando as embalagens recicláveis e aproveitando a luz natural”, finalizou Tayane.

Conheça a associação Litro de Luz em https://www.litrodeluz.com.

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