Diáconos para servir na caridade, na pregação da Palavra e na liturgia

Nesta segunda-feira, 10, a Igreja celebra a memória litúrgica de São Lourenço, padroeiro dos diáconos

(Crédito: Vatican Media)

Neste mês dedicado às vocações, a Igreja também recorda o ministério diaconal, especialmente na memória litúrgica de São Lourenço, padroeiro dos diáconos, celebrado em 10 de agosto.

Os diáconos remontam aos tempos apostólicos, quando alguns homens foram designados para o serviço da Palavra e da caridade aos mais pobres em nome da Igreja. Assim foi feito até o século V, quando o diaconato passou a ser apenas grau de acesso à ordem presbiteral. No Concílio Vaticano II (1962-1965), por meio da constituição dogmática Lumen gentium (1964), o diaconato foi restabelecido como grau próprio e permanente do sacramento da Ordem, sendo aprovado e regulamentado por São Paulo VI na carta apostólica Sacrum diaconatus ordinem (1967).

A exemplo do padroeiro, alegria pela causa de Cristo

Nascido na Espanha, São Lourenço serviu à Igreja em Roma como diácono no século III, no período do Papa Sisto II. Ainda jovem, era um dos responsáveis pela administração das ofertas recebidas pela Igreja e com as quais se faziam as obras de caridade aos mais pobres. No ano de 257, o imperador Valeriano intensificou a perseguição aos cristãos. O prefeito imperial teria exigido que Lourenço apresentasse os tesouros da Igreja e ele assim o fez: mostrou-lhe um grupo de pobres que eram socorridos pelas obras caritativas. A atitude despertou a ira do prefeito, que determinou que o jovem fosse morto em um braseiro ardente: “Vira-me que já estou bem assado deste lado”, teria dita em meio às brasas antes de morrer em 10 de agosto de 258.

“Se é verdade que ele mostrou os pobres ao prefeito imperial e pediu que o virassem, porque já estava assado de um lado, podemos dizer que ele foi um diácono bem humorado, que entregou sua vida com alegria pela causa de Cristo, que amou a Igreja, foi fiel ao sucessor de Pedro e suportou o martírio com a mesma alegria com que viveu seu ministério diaconal”, afirmou ao O SÃO PAULO o Cônego Celso Pedro da Silva, Presbítero Acompanhante do Diaconato na Arquidiocese de São Paulo.

Funções próprias

Entre as funções dos diáconos estão a de “assistir o bispo e os sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia; distribuí-la; assistir o Matrimônio e abençoá-lo; proclamar o Evangelho e pregar; presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade”, conforme detalha o Catecismo da Igreja Católica (CIC, 1570).  

Os diáconos permanentes desempenham funções que lhes são próprias, não devendo ser confundidas com a dos padres.

“Em relação aos sacramentos, os presbíteros batizam, absolvem, ungem os enfermos, testemunham os casamentos, celebram a Eucaristia. Podem crismar com as devidas licenças e não presidem o sacramento da Ordem. Os diáconos batizam e testemunham os Matrimônios. Presbíteros e diáconos anunciam a Palavra de Deus e todos, ordenados e não ordenados, procuram viver o único mandamento de Jesus, o amor fraterno”, comentou o Cônego Celso Pedro.

Na carta apostólica em forma de Motu Proprio Omnium in mentem (2009), o Papa Bento XVI aponta que “aqueles que são constituídos na ordem do episcopado ou do presbiterado recebem a missão e a faculdade de agir na pessoa de Cristo Cabeça; os diáconos, ao contrário, sejam habilitados para servir o povo de Deus na diaconia da liturgia, da Palavra e da caridade”.

‘Nem meio sacerdotes, nem meio leigos’

Ordenação diaconal na Arquidiocese de São Paulo em 2018 (Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Em encontro com sacerdotes e consagrados em março de 2017, o Papa Francisco falou sobre os cuidados que devem ser tomados para salvaguardar o ministério dos diáconos.

Um primeiro alerta do Pontífice é o de não enxergar os diáconos “como meio sacerdotes e meio leigos […] Este modo de considerá-los tira força do carisma próprio do diaconato. Este carisma está na vida da Igreja. Também não está correta a imagem do diácono como uma espécie de intermediário entre fiéis e pastores”.

Francisco falou, também, sobre o perigo do clericalismo – “o diácono que é demasiado clerical. Algumas vezes, vejo algum que assiste a liturgia: parece quase que pretende ocupar o lugar do sacerdote” – e a tentação do funcionalismo, quando este ministro ordenado é visto como “uma ajuda de que o sacerdote dispõe para isto ou para aquilo”.

O Pontífice ressaltou que os diáconos são como guardiões do serviço da Igreja e sua missão recorda “a todos nós que a fé, nas suas diversas expressões — a liturgia comunitária, a oração pessoal, as diversas formas de caridade — e nos seus vários estados de vida — laical, clerical, familiar — possui uma dimensão essencial de serviço”.

O Cônegô Celso Pedro aponta que os primeiros diáconos descritos nos Atos dos Apóstolos (At 6,1-6) não apenas foram designados para servir as mesas para que ninguém ficasse sem alimentação, mas, também, ajudaram a harmonizar a comunidade. “Só isso seria suficiente para preencher o ministério de qualquer diácono em qualquer parte do mundo. Na linha de São Lourenço e de tantos outros, o serviço aos mais necessitados deve também ser uma constante na vida diaconal”.

Na Arquidiocese de São Paulo

A Escola Diaconal Arquidiocesana São José foi instituída na Arquidiocese de São Paulo no ano 2000, pelo então Arcebispo Metropolitano, Cardeal Claudio Hummes. Em 19 de agosto daquele ano, teve início o propedêutico da primeira turma, sendo o primeiro grande grupo de diáconos, 24 ao todo, ordenado em 2005. Atualmente, há 97 diáconos permanentes na Arquidiocese.

“Os candidatos aos ministérios ordenados na Arquidiocese de São Paulo procuram primeiramente o responsável pela Pastoral Vocacional. São depois encaminhados à Escola Arquidiocesana São José para o diaconato permanente. Devem ter cumpridos 35 anos de idade e cinco de vida matrimonial. Fazem o curso integrado de Filosofia e Teologia durante cinco anos”, explicou o Cônego Celso Pedro.

De acordo com o Diácono Ailton Machado, Vice-Reitor da Escola Diaconal, assim que terminam o período de estudos, os diáconos realizam um sexto ano de vivência pastoral, “uma espécie de estágio-laboratório em três atividades: na Pastoral da Saúde, sob a coordenação do Padre João Mildner; na Missão Belém, com o Padre Gianpietro Carrara; e na Pastoral da Esperança, no Cemitério da Vila Formosa, com o Diácono João Bottura. Com o Padre Fernando José Carneiro Cardoso, Reitor da Escola Diaconal, é feita a prática direta do ministério diaconal, para os sacramentos do Matrimônio e Batismo, bênçãos, e tudo aquilo que é próprio do diácono”, detalhou à reportagem.

Conheça alguns diáconos que são beatos ou santos

* Santo Estêvão (protomártir do século I).

* São Filipe (companheiro de Santo Estêvão, juntamente com Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau de Antioquia).

* São Lourenço (padroeiro dos diáconos).

* São Francico de Assis (1182-1226).

* Santo Efrém, o Sírio (viveu entre 306-373. Doutor da Igreja, compôs muitos hinos para a liturgia).

* São Vicente de Saragoça (morto em 304, protomártir da Espanha).

* Santo Deogratias (viveu no século V e foi discípulo de Santo Agostinho).

* Beato Pedro Florent Clercq (diácono seminarista da Diocese de Amiens, na França, foi martirizado em 1792, em Paris. Sua beatificação ocorreu em 1926, por Pio XI, com 191 mártires franceses).

* Beato Juan Duarte Martin (diácono seminarista de Málaga, Espanha, foi beatificado em Roma, em 28 outubro de 2007, em companhia de outros 497 mártires espanhóis).

(Com informações do Cônego Celso Pedro da Silva)

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