Diante do aumento de casos de AVC, rever hábitos de vida é fundamental

Em São Paulo, número de registros no primeiro semestre cresceu 20,2% em relação ao mesmo período de 2022; reconhecer rapidamente os sinais de que alguém está tendo um Acidente Vascular Cerebral pode salvar vidas e evitar sequelas mais graves

Gerd Altmann/Pixabay

De repente, sem um motivo aparente, a pessoa não consegue movimentar um dos braços ou as pernas, fica com a boca torta e tem dificuldades para mexê-la e apresenta confusão mental, às vezes acompanhada de uma dor de cabeça súbita e intensa.

Esta é uma clássica descrição de quando alguém está sofrendo um acidente vascular cerebral (AVC), ocorrência de saúde que acomete anualmente cerca de 16 milhões de pessoas em todo o mundo e a que mais gera incapacidade permanente.

O AVC pode ser isquêmico, quando há o entupimento dos vasos que levam o sangue ao cérebro; ou hemorrágico, em que um vaso intracraniamo se rompe e o sangue se espalha sobre o tecido cerebral. Do total de casos, 85% são isquêmicos.

UM CORRIDA CONTRA O TEMPO

Saber identificar rapidamente que alguém está tendo um AVC pode fazer toda a diferença entre a vida e a morte da pessoa ou se terá de conviver com sequelas graves ou mais brandas.

“Quanto mais rápido for identificado um AVC e a pessoa for encaminhada ao serviço de saúde para desobstruir a artéria e refazer a circulação cerebral, menor será a quantidade de células mortas no cérebro. Estudos indicam que a cada minuto que se perde com falta de circulação sanguínea cerebral, mais de um milhão de neurônios morrem, e, a depender de qual área do núcleo de funcionamento do cérebro eles estejam, isso poderá causar lesões irreversíveis”, enfatizou ao O SÃO PAULO o médico Edson Issamu, neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

AUMENTO NO NÚMERO DE CASOS

Em 2022, entre 1º de janeiro e 13 de outubro, o AVC foi a causa de morte de 87,5 mil de pessoas no Brasil, número superior ao registrado em igual período de 2021 (84,8 mil). No estado de São Paulo, no primeiro semestre deste ano, ocorreram 219,4 mil atendimentos ambulatoriais e internações por AVC, ante 182,4 do primeiro semestre de 2022, alta de 20,2%.

Issamu diz que embora não haja uma razão específica para o aumento de casos, uma das possíveis explicações é a piora na qualidade de vida das pessoas, “incluindo o aumento da exposição ao estresse; alimentação com dietas não totalmente adequadas; piora na qualidade do sono e sedentarismo. E especialmente depois da pandemia, se observa o aumento da ingestão de bebida alcoólica, uso de substâncias como cigarro, maconha, coisas que facilitam a deterioração dos vasos sanguíneos, o que aumenta a chance de um AVC ou infarto”, detalhou.

Também para a fisioterapeuta Jussara Almeida de Oliveira Baggio, doutora em Neurociência, a mudança de rotina e os descuidos com a saúde preventiva durante a pandemia ajudam a explicar o aumento de casos: “As pessoas pararam de cuidar da saúde, deixaram de praticar atividade física e de fazer os exames de rotina, tiveram uma alimentação inadequada, houve mais ingestão de bebidas alcoólicas, e todos estes hábitos e os descuidos com a saúde podem ter tido influência para esta explosão de casos que temos visto agora”.

MONITORAR OS PRÓPRIOS HÁBITOS

Os dois médicos ressaltam que o AVC não dá sinais prévios, ocorre de maneira repentina, e que para se precaver o melhor é estar atento às próprias condições de saúde – com o monitoramento da pressão arterial, do diabetes, do colesterol e do peso corporal; evitar o consumo de álcool, cigarro e drogas; praticar atividade física; ter uma boa alimentação, tudo isso independentemente da idade que se tenha.

“Quando buscamos os estudos de prevalência sobre o AVC, ainda verificamos que há mais ocorrências nas pessoas acima dos 60 anos, porém, cada vez mais, temos dados muito significativos no Brasil do aumento de casos de AVC em jovens”, alertou a doutora em Neurociência.

DA PREVENÇÃO À REABILITAÇÃO

Jussara Baggio é vice-presidente da associação Ação AVC, sediada em Maceió (AL), mas que atua em todo o Brasil para conscientizar sobre o AVC e apoiar a quem tenha sofrido um acidente vascular cerebral, bem como a seus familiares e cuidadores.

A associação mantém um site https://www.acaoavc.org.br – com notícias e detalhes sobre o AVC, coordena campanhas de prevenção ao acidente vascular cerebral e promove grupos de apoio que acontecem de forma presencial e on-line.

“Muitas pessoas que sofrem um AVC ficam com alguma sequela e a reabilitação é um processo demorado. Alguns, infelizmente, não se recuperam 100%. Ao longo do processo de reabilitação, a pessoa vai precisar de muita resiliência e apoio, e muitas vezes ela própria e algum familiar terão de deixar de trabalhar ou estudar. Sofrer um AVC pode não significar o fim da vida, mas a pessoa e sua família terão de reaprender a viver e ter outros objetivos, o que não é fácil de fazer sem o apoio da família, dos profissionais de saúde e da comunidade como um todo”, comentou Jussara, destacando a urgência de que sejam difundidas mais informações sobre os riscos do AVC, sua relação com os hábitos de vida e o reconhecimento rápido dos sintomas.

PERCEBA OS SINAIS E SAIBA COMO AGIR

• Esteja atento a estes sinais e realize os seguintes procedimentos: 

1) A pessoa está com a boca torta
*Peça que tente sorrir ou falar

2) Repentinamente perdeu a força em um dos lados do corpo
*Peça que levante os braços 

3) Está com dificuldade para falar 
*Peça que repita uma frase ou o trecho de uma música

• Se algum ou todos esses pedidos não forem atendidos pela pessoa, ligue para o serviço de emergência de saúde (192) ou leve-a imediatamente ao pronto-socorro, pois ela pode ter sofrido um AVC.

*Outros sinais comuns são: dormência nos braços e pernas; confusão mental; dificuldade para enxergar, tontura ou perda de equilíbrio; dor de cabeça súbita e severa.

Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde

A VACINA CONTRA A COVID-19 AUMENTA O RISCO DE UM AVC?

  • Esta dúvida veio à tona após um relatório preliminar das agências reguladoras de medicamentos e de prevenção e controle de doenças dos Estados Unidos tratarem de uma possível relação entre a vacina bivalente da Pfizer com a ocorrência de AVC em idosos.
  • O relatório indicou que em um grupo de 550 mil pessoas acima dos 65 anos que receberam a vacina, 130 tiveram AVC. Nenhuma delas morreu. O próprio documento, porém, ressaltou, que as ocorrências “podem ser devido a outros fatores além da própria vacina” e “é muito improvável que a vacina represente um verdadeiro risco clínico”.
  • Portanto, por ora, não se pode estabelecer uma relação direta entre a vacinação contra a COVID-19 e o AVC, como detalha o neurologista Edson Issamu: “Toda a vacina pode aumentar a chance de obstrução de uma artéria, mas as ocorrências são mínimas. Como a vacinação contra a COVID-19 foi dada em muita gente em um curto período, o número de casos chamou a atenção, mas permaneceu dentro da faixa de ocorrência de qualquer outra vacina. Além disso, um AVC é multifatorial, de modo que não se pode assegurar que a vacina seja o elemento causador, especialmente a depender do perfil da pessoa. Se alguém obeso, com diabetes descompensado ou fumante tiver um AVC, não é certo culpar a vacina por isso”.
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Avany Dias Cardoso
Avany Dias Cardoso
10 meses atrás

Boa Tarde! Sofrí um AVC,em maio e perdí a visão do olho direito.Tenho 77 anos.Estava, há uns dias sem o uso do anticoagulante e tenho fibrilação atrial.Dois dias antes tive uma dor de cabeça e como nunca tive,achei q fosse do secador de cabelos.Houve oclusão da carótida.Meu sangue,encontrou um caminho alternativo para chegar no cérebro. Ninguém acredita… Moro sozinha e faço todo trabalho da casa.Deixei de fazer caminhadas,exercícios , de trabalhar fora,com a pandemia.Nunca imaginei!!