A Pastoral da Educação e do Ensino Religioso do Regional Sul 1 da CNBB e o Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade da Arquidiocese de São Paulo realizaram em 19 de agosto, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o I Seminário Escola & Família.
Participaram da atividade agentes da Pastoral da Educação, representantes de instituições de ensino, professores, alunos, famílias e membros de novas comunidades.
Nesta entrevista, Dom Carlos Lema Garcia, Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, detalha os propósitos do eventos, apresenta uma síntese dos assuntos tratados e recorda o olhar da Igreja para a escola católica e o ensino religioso.
Na edição do jornal O SÃO PAULO de 30 de agosto foi publicada a reportagem “A parceria escola-família é indispensável para a boa formação dos estudantes”, com detalhes do evento e falas dos que palestraram naquela oportunidade.
O SÃO PAULO – O que motivou o Vicariato a promover este seminário em parceira com a Pastoral da Educação do Regional Sul1 da CNBB?
Dom Carlos Lema Garcia – Os temas do seminário provêm da experiência do dia a dia nas escolas: é necessário estabelecer uma verdadeira parceria entre os pais e os educadores para conseguir um amadurecimento harmônico e profundo dos alunos. Assim, os professores, ao assumirem o seu papel de educadores devem ajudar – sem pretender substituir – os pais na educação integral dos seus filhos. Dessa maneira, o contínuo intercâmbio educativo entre a escola e a família contribuirá para a formação de bons cristãos e cidadãos responsáveis, tão necessários em nossos dias.
O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Amoris laetitia, aponta a colaboração dos professores e pais na educação dos filhos: “Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente” (n.263). “A escola não substitui os pais; serve-lhes de complemento. Este é um princípio básico: «qualquer outro participante no processo educativo não pode operar senão em nome dos pais, com o seu consenso e, em certa media, até mesmo por seu encargo… “parece-me muito importante lembrar que a educação integral dos filhos é, simultaneamente, «dever gravíssimo» e «direito primário» dos pais. Não é apenas um encargo ou um peso, mas também um direito essencial e insubstituível que estão chamados a defender e que ninguém deveria pretender tirar-lhes.” (n. 84).
Como os primeiros responsáveis pela educação dos filhos, os pais devem acompanhar suas atividades escolares. Quanto mais presentes os pais estiverem na escola e mais próximos dos estudos dos seus filhos, melhor será seu rendimento, diminuirão os problemas de disciplina, de adaptação ou de aproveitamento.
Como bem observa um educador contemporâneo, “o primeiro ambiente social é a família, da qual se costuma dizer que é o único lugar em que somos aceitos como somos, sem a necessidade de representarmos qualquer papel. Se o colégio pretende ser uma continuação do lar, precisa também assumir essa dificílima missão: aceitar cada um como verdadeiramente é, sem disfarces” (Faustino, E., O colégio dos nossos filhos, Quadrante, p. 61). Os educadores devem ser capazes de descobrir os talentos, os pontos fortes de cada um. É mais fácil apontar os defeitos e os pontos negativos dos alunos de cada turma. No entanto, os alunos, como todos nós, se sentirão cativados se forem estimulados em fazer render seus talentos e qualidades. Ninguém gosta de ser conhecido ou etiquetado pelos seus erros e defeitos. Em vez de apontar continuamente os erros, a chave da educação está em apoiar as potencialidades e desenvolver as capacidades dos alunos.
Acerca das reflexões feitas durante o seminário, quais aspectos mais chamaram a atenção do senhor?
Dom Carlos Lema Garcia – A Igreja tem uma grande confiança na missão das escolas católicas porque “…são, ao mesmo tempo, lugares de evangelização, de educação integral, de inculturação e de aprendizagem do diálogo de vida entre jovens de religiões e meios sociais diferentes. O caráter eclesial da escola católica faz parte, portanto, da sua essência de instituição escolar. Ela é verdadeira e propriamente uma realidade eclesial em razão da sua essência de instituição escolar”. (A Escola Católica no Limiar do Terceiro Milênio. Dicastério da Cultura e Educação, 1997 Escola Católica,1997).
Neste sentido, a professora Cecília Canalle, docente com larga experiência como professora, coordenadora e diretora em diversas escolas públicas e privadas, apresentou com clareza em sua palestra a missão do educador numa escola católica, enfatizando a centralidade de Jesus, modelo de virtudes do educador, como simpatia, paciência, abertura ao diálogo com os pais e os alunos. Através de exemplos da vida escolar, narrou situações que os educadores enfrentam na vida diária da escola, animando-os a abraçarem a sua missão com alegria e generosidade.
Depois do enfoque na relação pais-educadores, os outros dois temas do seminário trouxeram subsídios para o dia a dia das nossas escolas. Precisamos ajudar as crianças, os adolescentes e jovens nos aspectos socioemocionais. A pandemia ocasionou um crescimento dos casos de distúrbios emocionais nos alunos e isso exige dos pais e dos educadores a capacidade de acompanhar cada um em suas necessidades específicas. Muito interessante foi a abordagem da professora Sílvia Brandão, psicóloga com muita experiência no atendimento de estudantes. Descreveu a fragilidade emocional de adolescentes e jovens para enfrentar conflitos, frustrações, derrotas e fracassos. Ilustrou como os educadores e pais podem ajudá-los e contribuir para o seu amadurecimento, mostrando de que forma é possível.
A professora Angélica Pires ressaltou a importância do caráter confessional das escolas católicas. Nossas escolas devem empenhar-se cada vez mais na busca da excelência acadêmica de seus alunos e, ao mesmo tempo, oferecer aquilo que as distingue: uma formação cristã sólida que se manifesta em todas as atividades escolares.
Para a Igreja, qual a importância da missão da escola católica e da oferta do ensino religioso?
Dom Carlos Lema Garcia – Lembro estas palavras do Papa Francisco: “… as escolas e as universidades católicas são frequentadas por numerosos estudantes não cristãos, ou até não crentes. Os institutos de educação católicos oferecem a todos uma proposta educacional que visa ao desenvolvimento integral da pessoa e que corresponde ao direito de todos, de aceder ao saber e ao conhecimento. Mas são igualmente chamadas a oferecer a todos — no pleno respeito pela liberdade de cada um e dos métodos próprios do ambiente escolar — a proposta cristã, ou seja, Jesus Cristo como sentido da vida, do cosmos e da história.” (Discurso do Papa Francisco aos Participantes da Plenária da Congregação para a Educação Católica. Sala Clementina, 13 de Fevereiro de 2014).
Estou convencido de que o diferencial da escola católica está naquilo que compõe o clima de formação dos alunos: a convivência harmoniosa com pessoas diferentes; a formação integral fomentada pelas aulas de Ensino Religioso, que leva à abertura à transcendência e a encontrar o sentido mais profundo da vida; as ações sociais, as atividades de voluntariado etc. Esse diferencial é notório não apenas enquanto os alunos frequentam o colégio, mas especialmente quando ingressam na vida profissional: seu comportamento reflete as virtudes da convivência, assimiladas no clima fraterno e respeitoso que respiraram na vida escolar. Ou seja, todas as atividades de uma escola católica, consideradas conjuntamente, colaboram para uma verdadeira formação integral da personalidade dos alunos.
“Sem entrar na discussão sobre a problemática relativa ao ensino da religião na escola, deve sublinhar-se que esse ensino, embora não se esgote nos «cursos de religião» integrados nos programas escolares, deve ser ministrado na escola de modo explícito e sistemático, a fim de que não venha a criar-se na mente dos alunos um desequilíbrio entre acultura geral e a cultura religiosa.” (Dicastério da Cultura e Educação, A Escola Católica, 19/03/1977, n. 50).
O Ensino Religioso na escola católica aborda a mensagem cristã, fundamentada nos textos bíblicos dos dois Testamentos e no Magistério da Igreja. Evidentemente, respeitando sempre aqueles que não comungam a fé católica, os educadores das nossas escolas transmitem integralmente o conteúdo dos ensinamentos da Igreja, relativos à fé e à moral cristãs.
“O ensino da religião é diferente e complementar da catequese; por ser ensino escolar não requer a adesão de fé, mas transmite os conhecimentos sobre a identidade do Cristianismo e da vida cristã. Além disso, ele enriquece a Igreja e a humanidade com laboratórios de cultura e humanidade.” (Dicastério da Cultura e Educação, Carta Circular N. 520/2009, aos Presidentes das Conferências Episcopais sobre o ensino da religião nas escolas, 05/05/2009, n.18)