Está tudo em ordem na sua vida?

Na chamada “vida moderna”, há muitas pessoas que afirmam não ter tempo para dar conta de todas as responsabilidades cotidianas. Trabalho, casa, compras, relacionamentos, filhos, estudo, vida espiritual, atividade física, saúde, descanso… Tudo isso parece não caber nas 24 horas do dia, o que pode provocar ansiedade, estresse, cansaço físico e mental, que são potencializados quando se vive confinado dentro de casa, como tem acontecido nestes últimos atípicos meses.

Por mais que se busque identificar culpados externos para isso, na verdade, na maioria dos casos, chega-se à constatação da falta de algo indispensável para uma vida minimamente saudável: a ordem.

No entanto, é preciso compreender que, mais do que uma organização exterior, a ordem ganha um sentido mais profundo se for compreendida como uma virtude, isto é, “uma disposição habitual e firme para praticar o bem”, como ensina o Catecismo da Igreja Católica.

DISPOSIÇÃO INTERIOR

O escritor Francisco José de Almeida, autor de um pequeno livro chamado “A virtude da ordem”, da editora Quadrante, explica que, quando se fala sobre esse tema, imediatamente se pensa na mesa do escritório cheia de papéis pendentes, no armário, na confusão do quarto das crianças, nos livros amontoados… Na verdade, porém, trata-se “da consequência de outra ordem fundamental, interior, que se traduz e se projeta no que se faz”.

O jornalista Tiago Oliveira Miranda, 40, de Brasília (DF), sempre se considerou uma pessoa organizada. Com o passar do tempo, porém, percebeu que, na verdade, era apenas uma pessoa metódica e que gostava de traçar planos. Tendo em vista que começou a compreender a dimensão da ordem como uma virtude, percebeu que isso significa “muito mais do que fazer uma lista de coisas para se- rem riscadas à medida que eram executadas”.

(Reprodução da internet)

PRIORIDADES

Santo Agostinho definiu a ordem como “uma disposição de coisas iguais e desiguais, que dá a cada uma seu lugar”. Por isso, o primeiro passo para adquiri-la é identificar prioridades.

Uma comparação que ajuda a entender essa organização da vida é a da palma da mão, que, para poder realizar plenamente as suas funções, precisa ter cinco dedos, que, no entanto, possuem tamanhos distintos. Cada dedo simboliza as diferentes prioridades: os trabalhos pro- fissionais; os deveres religiosos; as obrigações familiares; o descanso e a cultura; e as responsabilidades de caráter social.

PLANEJAMENTO

Uma tentação natural no cumpri- mento das responsabilidades diárias é a de trocar aquilo que se deve fazer por aquilo que custa menos ou agrada mais, o que gera a famosa procrastinação. Para isso, é preciso compreender cada vez mais o valor do “agora”.

Recomenda-se, dessa forma, a elaboração de um plano diário de vida e se habituar a anotar as tarefas, em um caderninho ou no bloco de notas do celular, que leve em conta a ordem das tarefas, o tempo dedicado a cada uma delas e os eventuais imprevistos.

Ao falar de sua experiência, Tiago Miranda salientou que o planejamento precisa ser claro e factível. “Na época da faculdade, às vezes, eu me programava para fazer duas coisas em seguida, sendo que não contabilizava o tempo do ônibus ou eventualidades, aí não conseguia fazer e ficava irritado comigo mesmo”, ilustrou o jornalista, ressaltando que, para ele, um grande desafio é não enges- sar seus planos.

(Reprodução da internet)

DESDE PEQUENO

Paide um filho de 4 anos e 6 meses e outro prestes a completar 3, Tiago e a esposa, Eliana Machado dos Santos Miranda, 33, têm se esforçado para ajudar as crianças a cultivar a ordem em casa. Para isso, eles colocaram no quarto dos meninos uma lista com ilustrações das tarefas diárias. “O fato de termos uma rotina clara pra eles os ajuda a ter essa segurança do horário e do que está por vir”, explicou.

Francisco José de Almeida enfatiza que uma pessoa ordenada, para a qual a ordem não é apenas uma “mania”, mas uma virtude, desenvolve-se harmonicamente. “As peças de que se compõe a sua vida não se atritam, mas se encaixam umas nas outras como a perfeita engrenagem de uma máquina complexa”, completou.

DICAS PARA O PLANEJAMENTO DIÁRIO

  • Perguntar-se: “O que tenho de fazer hoje?”, e não simplesmente o que gostaria de fazer; Definir um momento exato para realizar cada coisa;
  • Ser realista na avaliação do tempo que cada tarefa vai exigir, prevendo o tempo de começá-las e terminá-las;
  • Deve-se levar em conta não apenas realizar as coisas, mas fazê-las bem-feitas;
  • Ter consciência de que nem tudo que é urgente deve ser resolvido na hora;
  • Ter claro que, para as tarefas de médio e longo prazos, é preciso uma parcela de dedicação diária para serem concluídas;
  • Contar com imprevistos; Acompanhar, ao longo do dia, o cumprimento dessas tarefas;
  • Fazer um balanço no fim do dia, levando em consideração que todo resultado é uma experiência a ser assimilada;
  • Todo planejamento “cai por terra” quando surge um dever de caridade, como, por exemplo, quando um amigo ou alguém da família precisa de uma ajuda;
  • Ter consciência de que a desordem pessoal se torna algo grave quando prejudica os outros;
  • Ter claro que, embora haja prioridades, do ponto de vista cristão todos os deveres são importantes.

(Fonte: “A virtude da ordem”)

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